Estamos
a iniciar a terceira sessão legislativa com um governo que falhou
todas as metas, defraudou todas as expetativas e que, no dia em que também inicia
negociações formais com a Troika, não se entende quanto
ao défice ou quanto ao programa cautelar.
Com
é hábito, o Primeiro-Ministro e o agora Vice-Primeiro-Ministro, mantêm dois tons,
duas vozes e dois discursos, exatamente no momento em que o país precisava de
um Governo a uma só voz, com uma só vontade, com um sentido estratégico único.
A
dislexia política não é só nesta matéria. Ainda ontem, em Viseu, Paulo Portas procurava
resgatar o CDS da perseguição que o seu Governo faz aos funcionários públicos
dizendo que eles, os funcionários, são bons, mas que os seus chefes é que são
maus, falta-lhes liderança.
Compreendo
a estratégia, mas não aceito a hipocrisia. Isso leva-me a pensar que além de
governarem mal, nomeiam mal e pergunto: não foi este Governo que em dois
anos, até ao dia de hoje, fez cerca de 5 mil nomeações de confiança política? E
destas, 1779 não são cargos dirigentes? Então de que se queixa Paulo Portas? E
o Governo?
Foi neste contexto de extrema gravidade, de uma espécie de fim do
“novo ciclo”, que ontem, o líder do PS, António
José Seguro, referiu assertivamente: "A
'troika' vem amanhã [segunda-feira] a Portugal para mais uma avaliação e o país
desconhece qual a posição do Governo, porque o Governo fala a várias vozes,
quando deveria ter uma posição firme.”
E continuou “Só conseguiremos sair desta situação se Portugal tiver mais tempo para
equilibrar as suas contas públicas. É necessário dizer isso à 'troika'
Custará ao Governo perceber que a retoma da agitação política entre os dois partidos da
coligação é profundamente nefasta ao país? O Primeiro-Ministro já se deu conta
que a zanga de verão afetou Portugal nos mercados e fez subir as taxas de juro?
Já se deu conta de que agora os parceiros europeus exigem provas de facto da
vontade de Portugal honrar os seus compromissos? Mais grave ainda, já se deu
conta da espiral de sacrifícios induzida, nas pessoas, nas famílias e nas
empresas?
Sim, com a conhecida retoma do desemprego, no período homólogo, atingindo quase um milhão de pessoas, sem contar com as que
emigram todos os anos, com a UTAO a estimar um défice, no 2º trimestre, entre
os 6,6% e 7,6% do PIB, mesmo sem contar com os 700 M€ usados na recapitalização
do BANIF, projetou uma recessão económica de 1%, no OE para 2013,
mas afinal agora no OR diz-nos que será de 2,3 … entre muitos outros exemplos
E este caos chegou à economia social, reportando-me à que emana da força de trabalho das redes de
equipamentos de solidariedade social. Sem a atualização dos acordos e com a
aprovação do aumento de vagas, com o corte de subsídios e prestações sociais, o
horizonte de equilíbrio das instituições está a ruir rapidamente.
São conhecidos agora, em muitas instituições, os casos de salários em atraso, de diminuição de vencimentos em
10% e despedimentos. Este Governo toca num espaço social que deveria ser
inviolável. A insensibilidade não tem limites, mas a teimosia em persistir no
erro também não. O que é que falta para o Governo perceber que tem de
arrepiar caminho?
Teimosia, preconceito e cegueira ideológica, é o que também define
o desnorte da
coligação. Fizeram 7 atualizações do memorando nas costas de todos, tal como
fizeram na elaboração do DEO ou nos compromissos secretos para cortar 4,7 MM€
nas políticas sociais. Quiseram confundir essa atitude com uma “Reforma do
Estado”, mas confrontados pelo PS com um calendário e uma estratégia que
permitiria concluí-la em Julho último o Governo rejeitou, porque, dizia, não
havia tempo a perder.
Estamos quase em outubro e a única coisa que perdemos foi o rasto
a essa dita “Reforma do Estado”. Percebemos,
todos percebem agora, que não havia nenhum outro objetivo se não cortar, como
já hoje é claro quanto às pensões da CGA. De facto não havia outra estratégia
se não atrair o PS para estes cortes. Um escândalo que, mais uma vez sacrifica os
mesmos do costume, os mais pobres, os funcionários públicos e os aposentados.
Como já avisa Manuela Ferreira Leite, dentro meses chegará a vez dos reformados
da Segurança Social. Não, o PS nunca
será parte dessa insensibilidade e tragédia social.