Miranda Calha fez um discurso institucional, no espírito de Abril, destacando o primado da política e nomes decisivos na história de Abril e da democracia portuguesa, nomeadamente o do presidente da Assembleia Constituinte, o socialista Henrique de Barros, que "ficará para sempre ligado à História do parlamentarismo, da democracia e da República" (...) os militares que "devolveram ao povo uma soberania adiada pela ditadura" e os líderes dos principais partidos no pós-25 de Abril, casos de Mário Soares, Francisco Sá Carneiro, Álvaro Cunhal e Freitas do Amaral.
"O deputado socialista
Miranda Calha fez hoje uma veemente defesa do "primado da política"
perante "extremismos populistas" e a "economia
especulativa" e sustentou que a substância democrática da Constituição
será "confirmada" nas próximas eleições legislativas e presidenciais.
Miranda
Calha, vice-presidente da Assembleia da República e deputado da Assembleia
Constituinte eleita em 1975, falava no parlamento na sessão solene comemorativa
dos 41 anos da revolução de 25 de Abril de 1974.
"Porque
o primado da política, num tempo em que extremismos populistas ameaçam a Europa
e em que a crise económica leva a desilusões sem retorno, é cada vez mais
necessário. O primado da política enquanto primado da escolha e da decisão, mas
de uma escolha clarividente e informada, da escolha de uma estratégia e de
ideias sólidas para o futuro e não uma escolha por entre taticismos breves e
sem conteúdo", declarou o antigo secretário de Estado de governos
liderados por Mário Soares e António Guterres.
Na
sua intervenção, Miranda Calha advogou "a substância democrática da
Constituição que em breve será confirmada em duas importantes eleições, as
legislativas e presidenciais".
"Para
muitos há uma angústia sobre a hora presente e até para outros há uma
perplexidade sobre as soluções futuras. É bom que ambas possam ser objeto de
debate apropriado e ao longo deste ano e que as candidaturas e os candidatos
apareçam perante o país com a clareza de objetivos que a situação requer",
disse, antes de salientar que a Constituição da República também já
"ensinou que um parlamento esclarecido e empenhado pode ser resposta a
grandes desafios".
Além
de recordar a experiência da sua eleição para a Assembleia Constituinte em
abril de 1975, pelo círculo eleitoral de Portugal, então apenas com 27 anos,
Miranda Calha saudou de forma especial os militares que "devolveram ao
povo uma soberania adiada pela ditadura" e os líderes dos principais
partidos no pós-25 de Abril, casos de Mário Soares, Francisco Sá Carneiro, Álvaro
Cunhal e Freitas do Amaral.
Mas
Miranda Calha também recebeu uma salva de palmas ao destacar "o alto
sentido cívico" do presidente da Assembleia Constituinte, o socialista
Henrique de Barros, que "ficará para sempre ligado à História do
parlamentarismo, da democracia e da República".
No
seu discurso, o atual vice-presidente da Assembleia da República referiu-se
ainda aos conflitos entre diferentes modelos políticos que se colocaram ao país
antes e logo após as primeiras eleições livres.
"No
caminho da Constituição foi necessário ultrapassar seduções antidemocráticas.
Foi necessário afirmar sem medo o primado do direito e da escolha livre do
povo, um primado, mais do que retórico, que pudesse finalmente ser
experimentado em liberdade. O que se fez", salientou.
Na
mesma lógica de análise, Miranda Calha aplicou depois a ideia de primado às
ideias atuais de Estado, soberania nacional e de "desígnios futuros".
Uma
ideia "onde a economia não estivesse enfeudada a alguns, mas fosse um
espaço de iniciativa e de desenvolvimento".
"Quatro
décadas passadas das primeiras eleições livres, vemos como estamos enredados em
ciclos curtos de circunstancialismos e de conjuntura. Vemos como o desemprego
marca hoje gerações feitas esquecimento e empurradas para a emigração ou para o
silêncio e para a dependência. Vemos como a submissão a uma economia
especulativa (…) cria pobreza à sua volta", afirmou.
Numa
crítica indireta ao Governo, Miranda Calha concluiu: "É caso para dizer
que falhar perante o país é garante apenas de promessas de novas falhas, sem
arrependimento e sem crítica", disse." (PMF
// ZO)
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