Nos últimos quatro meses o governo fez quatro previsões sobre a evolução da economia portuguesa. Não tem importância! Com o primeiro-ministro Passos Coelho passou a ser “normal” dizer todos os meses coisas diferentes sobre o mesmo assunto.
Fosse isto no primeiro semestre, com outro primeiro-ministro, e logo se proclamaria que o dito não dizia a verdade ao país ou que apenas vendia ilusões aos portugueses. E se, eventualmente, mantivesse a esperança no discurso, puxando pelo país, seria no imediato considerado irresponsável.
Se no primeiro semestre o primeiro-ministro apontasse o dedo à Europa “dizendo-lhe” que a solução para os problemas comuns - agressividade dos mercados e fragilidade das dívidas soberanas - estava nas capacidades de antecipação e decisão dos líderes europeus, logo se diria que a “conversa lá fora” era para “esconder os problemas cá dentro”.
Finalmente, ao referir que a crise dos países periféricos, nomeadamente a da Grécia, exigia uma reação solidária da Europa, sob pena de existir uma fortíssima possibilidade de “contaminação real” às demais economias, os analistas, comentadores e ex-ministros das finanças (desafortunados que foram na oportunidade que a vida lhes deu para mostrar o que valiam), diriam para “não fazermos dos outros um problema que era nosso”.
E foi assim que chegámos ao segundo semestre. Uma nova maioria, um governo e um Presidente, prometeram-nos a verdade, a luz ao fundo do túnel, um país capaz de resolver os seus problemas, com sacrifícios para os portugueses, é certo, mas atuando pelo lado da despesa e não pelo lado da receita, sobre os nossos salários, entenda-se. Viu-se e vê-se!
Hoje, até Manuela Ferreira Leite diz que ultrapassámos os limites da carga fiscal, que este orçamento não terá a receita que os portugueses e as empresas já não podem dar, porque, de facto, já tendo ido ao “espremedor” do liberalíssimo Vítor Gaspar, constata-se que já não há mais “sumo fiscal”.
Posto isto, lembro que terminámos 2010 com um crescimento de +1,4% e que terminaremos 2011 com uma recessão de, pelo menos -2%. E para o ano há mais, ou seja, menos, porque a recessão, segundo o governo, será de -3%, com o desemprego a atingir novos máximos históricos, próximos dos 14%. Quer isto dizer que se – antes - a oposição que hoje é governo dizia que a “coisa” estava mal, insuportável, confesso que agora me faltam palavras – e não é fácil isso acontecer-me – para ilustrar esta tragédia.
Por último, podemos constatar – infelizmente - que a crise bateu (para já devagarinho) à porta da poderosa Alemanha, que a França entrou em austeridade sob a ameaça das agências de rating, que a Espanha, agora com Rajoy, está mais pressionada do que nunca, que a Itália se foi “abaixo das canetas” e que o “efeito dominó” está em movimento uniformemente acelerado.
Uma maioria, um governo e um Presidente, será que já caíram em si?
DB 2011-11-24
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