Francisco Assis (Foto de ALBERTO FRIAS) |
Em entrevista à RTP, o eurodeputado deixou clara a sua divergência com o
líder socialista quanto à hipótese de um Governo à esquerda:
“Pagaremos um
preço muito elevado por isso”, alertou. Admitiu poder candidatar-se à
liderança, mas apenas “em condições excecionais de que estamos ainda muito
longe”, disse
A entrevista de Francisco Assis era
aguardada com muitas expetativa por parte dos socialistas que, discordando da
estratégia que está a ser prosseguida por António Costa para eventualmente
conseguir liderar um Governo assente num entendimento à esquerda, admitiam que
Assis pudesse vir a capitanear a oposição interna. O eurodeputado não disse que
não. Mas também não disse que sim.
Deixando clara a sua divergência com
António Costa neste propósito, afirmando com todas as letras que um Governo
dessa natureza (PS+BE+PCP) seria “um Governo contranatura”, Assis afirmou que
“a questão da liderança do PS não se coloca neste momento” e garantiu que só
voltará a ser candidato à liderança do PS (foi-o pela primeira vez em 2011) “em
condições excecionais de que ainda estamos muito longe”. Mais à frente,
acrescentaria apenas: “Sou um homem disponível para assumir sempre as suas
responsabilidades políticas nos bons e nos maus momentos”.
Na entrevista, que durou cerca de 50
minutos, o cabeça-de-lista nas europeias de 2014, e que esteve ao lado de
António José Seguro nas primárias de há um ano, não poupou nos elogios ao atual
secretário-geral. “Estou convencido que seria um homem com extraordinárias
qualidades para dirigir um Governo”. Reputando-o como “sério” e “íntegro”,
recusou ver na atitude que ele tem mantido desde 4 de outubro uma mera
estratégia para se manter no poder. “Isso é uma injúria”, qualificou mesmo,
recusando condenar o facto de Costa não se ter demitido após ter perdido as
legislativas: “Não acho que os partidos devam estar sempre a mudar de líder - é
uma tradição negativa”, disse. “António Costa é uma personalidade respeitável.
Lá porque perdeu não significa que a sua vida política acabou”, acrescentou
ainda.
O que não o impede de discordar
profundamente do líder do PS quando este admite poder formar um Governo com BE
e PCP. “Não se pode governar a qualquer preço e de qualquer maneira”, avisou,
“porque a seguir pagaremos um preço muito elevado por isso”, explicou. Na sua
opinião, PCP e BE “não vão deixar de ser quem são de um momento para o outro”.
Afirmando “não acreditar” que eles estejam dispostos a deixar de lado as suas convicções,
tão distintas do PS, em matérias tão estruturantes como a Europa ou a política
externa, comparou a formação de um Governo com os três partidos de esquerda com
“uma associação ateia que convidasse o Papa para se lhes juntar, admitindo
haver uma divergência menor - você acredita em Deus e nós não”. “Essa
divergência é profunda”, reiterou.
Detalhou: “O Estado Social é uma marca
identitária do PS. Temos responsabilidades históricas de impedir que a direita
o destrua mas, para isso, temos de admitir que são precisas reformas profundas.
E os partidos de esquerda estão fechados a qualquer transformação”.
Afirmando ter esperanças que o resultado
final da negociações seja aquele que preconiza - um Governo da coligação de
direita com o PS a assumir o papel de líder da oposição, negociando com o
Governo, a cada momento, a cada proposta -, resumiu ainda: o diálogo do PS com
a direita “não tem interesse”; o diálogo do PS com a esquerda “é inútil”.
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