O PS
vai derrubar o “muro de Berlim”?
Escrevi há dias, a propósito das eleições de 4
de outubro, que “Entre nós,
tradicionalmente, o líder da força política mais votada é convidado pelo
Presidente da República para formar governo. Quem ganha as eleições, ganha
também o direito a governar. Tem sido sempre assim. E terá que ser sempre
assim?”
O
atual líder do PS acha que não. Há quem pense como ele. Não é o meu caso. Mas
ele já pensou como eu. Na Convenção Nacional de 2009, a sete de setembro,
António Costa referiu, numa acalorada intervenção, o seguinte:
(…) Nós temos oportunidade de
escolher que governo queremos para Portugal (…) Até 1987 não era assim (…) Nós
votávamos e nunca sabíamos quem ia governar. (…) Entre 76 e 87 aconteceu um
pouco de tudo. Tivemos governo de um só partido, coligações pré-eleitorais,
pós-eleitorais, 3 governos de iniciativa presidencial e só tivemos um traço
comum ao longo destes anos, instabilidade, instabilidade e mais instabilidade
(…)”.
Bem lembrado!
Parece,
portanto, que poderemos regressar a um passado que o líder do PS, tal como eu,
criticava. Acontece que em 2015, os portugueses votaram e escolheram quem queriam
para governar. E não deram à coligação maioria absoluta, porque querem diálogo
parlamentar, cedências recíprocas. Ao que parece voltámos a votar sem saber
quem ia governar. E isso só se pode traduzir em “instabilidade, instabilidade e
mais instabilidade”.
Entendo
que o PS deveria liderar a oposição no parlamento, porque em articulação com
todos ao partidos pode introduzir uma reforma fiscal mais justa, modificar os
valores do IVA, do IRS e do IRC, concretizar a descida da TSU, melhorar as
comparticipações sociais, obrigar a formas alternativas de financiamento da
segurança social e por aí adiante. Não seria necessário dar o dito por não dito
e tentar o ser um governo que o povo não escolheu.
Por
outro lado, e nesse contexto, o PS garantiria os nossos compromissos
internacionais, a coerência da nossa política externa e da nossa política de
defesa ou o nosso papel na Europa. Apenas dependeria de si próprio.
Que
acordo pós-eleitoral articula, por exemplo, a nossa perspetiva sobre a Coreia
do Norte (convidada especial do PCP), sobre a Ucrânia, sobre os impulsos
expansionistas da Rússia, sobre os esforços de Paz entre Israel e a Palestina,
com a matriz do PCP ou do BE? Vai ser bonito!
A
não ser que – e aí ver para crer – Jerónimo de Sousa “meta o comunismo na
gaveta”, o BE faça o mesmo com as suas bandeiras e o PS consiga, nas palavras
de António Costa, derrubar o “muro de Berlim”.
DV
2015.10.14
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