quinta-feira, 15 de outubro de 2015

(Opinião DV) - O PS vai derrubar o “muro de Berlim”?

O PS vai derrubar o “muro de Berlim”?

Escrevi há dias, a propósito das eleições de 4 de outubro, que Entre nós, tradicionalmente, o líder da força política mais votada é convidado pelo Presidente da República para formar governo. Quem ganha as eleições, ganha também o direito a governar. Tem sido sempre assim. E terá que ser sempre assim?
O atual líder do PS acha que não. Há quem pense como ele. Não é o meu caso. Mas ele já pensou como eu. Na Convenção Nacional de 2009, a sete de setembro, António Costa referiu, numa acalorada intervenção, o seguinte:
(…) Nós temos oportunidade de escolher que governo queremos para Portugal (…) Até 1987 não era assim (…) Nós votávamos e nunca sabíamos quem ia governar. (…) Entre 76 e 87 aconteceu um pouco de tudo. Tivemos governo de um só partido, coligações pré-eleitorais, pós-eleitorais, 3 governos de iniciativa presidencial e só tivemos um traço comum ao longo destes anos, instabilidade, instabilidade e mais instabilidade (…)”. Bem lembrado!
Parece, portanto, que poderemos regressar a um passado que o líder do PS, tal como eu, criticava. Acontece que em 2015, os portugueses votaram e escolheram quem queriam para governar. E não deram à coligação maioria absoluta, porque querem diálogo parlamentar, cedências recíprocas. Ao que parece voltámos a votar sem saber quem ia governar. E isso só se pode traduzir em “instabilidade, instabilidade e mais instabilidade”.
Entendo que o PS deveria liderar a oposição no parlamento, porque em articulação com todos ao partidos pode introduzir uma reforma fiscal mais justa, modificar os valores do IVA, do IRS e do IRC, concretizar a descida da TSU, melhorar as comparticipações sociais, obrigar a formas alternativas de financiamento da segurança social e por aí adiante. Não seria necessário dar o dito por não dito e tentar o ser um governo que o povo não escolheu.
Por outro lado, e nesse contexto, o PS garantiria os nossos compromissos internacionais, a coerência da nossa política externa e da nossa política de defesa ou o nosso papel na Europa. Apenas dependeria de si próprio.
Que acordo pós-eleitoral articula, por exemplo, a nossa perspetiva sobre a Coreia do Norte (convidada especial do PCP), sobre a Ucrânia, sobre os impulsos expansionistas da Rússia, sobre os esforços de Paz entre Israel e a Palestina, com a matriz do PCP ou do BE? Vai ser bonito!
A não ser que – e aí ver para crer – Jerónimo de Sousa “meta o comunismo na gaveta”, o BE faça o mesmo com as suas bandeiras e o PS consiga, nas palavras de António Costa, derrubar o “muro de Berlim”.

DV 2015.10.14

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