Terminaram as eleições europeias sem
debate sobre a Europa. Em cima da mesa esteve sempre a política nacional, mas
desligada da realidade do velho continente, como se vivêssemos noutro que não
neste.
Já tinha assistido a esta mistificação
em tempos de governação socialista. Na altura a oposição, hoje governo, também
falava da crise como se fosse tipicamente portuguesa, um caso isolado do mundo.
Hoje, para explicar uma crise ainda
mais profunda, sem solução à vista, o poder instituído enche a boca com a
Europa e os efeitos que as decisões que nela são assumidas têm entre nós.
Agora, para este governo, a crise é sobretudo dos outros que não nossa.
Com sempre referi, mesmo em campanha
autárquica, as pessoas querem soluções e não quezílias. E quando se faz o
contrário não se motiva ninguém para um bem maior que se traduz, como é óbvio,
na solução dos seus problemas ou na esperança de que poderão vir a ter solução
em tempo útil.
E o eleitorado está atento. Marinho
Pinto não apresentou nenhuma ideia transcendente, mas emprestou a sua voz para exprimir
um desencanto geral. Foi reconhecido por isso. Curiosamente, as pessoas foram
“pôr a cruzinha” na “desconhecida” sigla MPT, sem necessitarem de nenhuma
campanha especial. Sabiam bem ao que iam. O povo não é iletrado, como se
verificou.
O PS ganhou com mérito estas eleições,
as segundas no espaço de alguns meses. É natural que assim tivesse sido, ainda
que por uma diferença aquém das expetativas, apesar de ter subido relativamente
a 2009 e da luta ter sido a de um único PS contra a seleção da direita. Não me
parece, por isso, que desvalorizar esta vitória seja grande estratégia.
A direita teve uma derrota, fortíssima,
muito para além das suas previsões. O PSD sozinho nunca caiu dos 31% e, desta
vez, acompanhado pelo CDS, formou um par que se quedou pelos 27%. Também não me
parece grande estratégia desvalorizar esta derrota, a não ser para a direita,
sobretudo quando só o PS avançou e o conjunto da esquerda mais radical recuou
significativamente.
A leitura objetiva dos resultados,
aqui e na Europa, exige grandeza de espírito na sua interpretação e dispensa
protagonismos sucessivamente não assumidos nos últimos três anos.
É arriscado esquecer que foram os
eleitores, e não os políticos consagrados, que passaram a atores principais e,
usando de contenção, sempre posso dizer que, afinal, entre nós, alguém fez o
PSD baixar de divisão.
DV 2014-05-28