sexta-feira, 30 de maio de 2014

(Opinião) DV Alguém fez o PSD baixar de divisão

Terminaram as eleições europeias sem debate sobre a Europa. Em cima da mesa esteve sempre a política nacional, mas desligada da realidade do velho continente, como se vivêssemos noutro que não neste.
Já tinha assistido a esta mistificação em tempos de governação socialista. Na altura a oposição, hoje governo, também falava da crise como se fosse tipicamente portuguesa, um caso isolado do mundo.
Hoje, para explicar uma crise ainda mais profunda, sem solução à vista, o poder instituído enche a boca com a Europa e os efeitos que as decisões que nela são assumidas têm entre nós. Agora, para este governo, a crise é sobretudo dos outros que não nossa.
Com sempre referi, mesmo em campanha autárquica, as pessoas querem soluções e não quezílias. E quando se faz o contrário não se motiva ninguém para um bem maior que se traduz, como é óbvio, na solução dos seus problemas ou na esperança de que poderão vir a ter solução em tempo útil.
E o eleitorado está atento. Marinho Pinto não apresentou nenhuma ideia transcendente, mas emprestou a sua voz para exprimir um desencanto geral. Foi reconhecido por isso. Curiosamente, as pessoas foram “pôr a cruzinha” na “desconhecida” sigla MPT, sem necessitarem de nenhuma campanha especial. Sabiam bem ao que iam. O povo não é iletrado, como se verificou.
O PS ganhou com mérito estas eleições, as segundas no espaço de alguns meses. É natural que assim tivesse sido, ainda que por uma diferença aquém das expetativas, apesar de ter subido relativamente a 2009 e da luta ter sido a de um único PS contra a seleção da direita. Não me parece, por isso, que desvalorizar esta vitória seja grande estratégia.
A direita teve uma derrota, fortíssima, muito para além das suas previsões. O PSD sozinho nunca caiu dos 31% e, desta vez, acompanhado pelo CDS, formou um par que se quedou pelos 27%. Também não me parece grande estratégia desvalorizar esta derrota, a não ser para a direita, sobretudo quando só o PS avançou e o conjunto da esquerda mais radical recuou significativamente.
A leitura objetiva dos resultados, aqui e na Europa, exige grandeza de espírito na sua interpretação e dispensa protagonismos sucessivamente não assumidos nos últimos três anos.
É arriscado esquecer que foram os eleitores, e não os políticos consagrados, que passaram a atores principais e, usando de contenção, sempre posso dizer que, afinal, entre nós, alguém fez o PSD baixar de divisão.

DV 2014-05-28

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