terça-feira, 22 de abril de 2014

(Opinião) Reforma hospitalar e a cirurgia pediátrica em Viseu

Referiu-se Álvaro Beleza, secretário nacional do PS para a Saúde, à portaria que vem categorizar os hospitais do SNS em grupos de I a IV, hierarquizando as unidades de acordo com a natureza das suas responsabilidades e as suas valências dizendo: "O Governo não é o dono do país, é o representante do povo para governar o SNS, que é de todos nós. O Governo tem obrigação de, quando faz estas reformas, ouvir as associações profissionais, os utentes e o poder local".
É, de facto, um programa de extinção, reconcentração de equipamentos de saúde e valências, tal como aconteceu com os tribunais e como se verificará com 150 repartições de finanças. Nenhuma destas medidas representa qualquer tipo de economia real para o Estado, como já se demonstrou. Pelo contrário, abandonar equipamentos recentes, com recursos tecnológicos avançados ou desmontar centros de excelência é, no mínimo, uma irresponsabilidade pública e social.
Sem ouvir ninguém, mais uma vez, o governo, leia-se Paulo Macedo, mandou um secretário de estado assinar uma portaria para a reforma hospitalar que tem implicações em todo o país e Viseu não passa ao lado. Com efeito, se esta decisão do governo for por diante a cirurgia pediátrica do S. Teotónio pode ter os dias contados. Já não nos bastava o “faço não faço” do Centro Oncológico, acresce agora mais esta preocupação.
E o que fizeram os deputados socialistas? Enviaram à Presidente da Assembleia, no espaço de uma semana, dois requerimentos a exigir a presença e explicação do ministro sobre dois temas concretos: “urgência e emergência na saúde” e “reforma hospitalar”.
E o que fizeram os deputados do PSD e do CDS? Chumbaram, nesta quarta-feira, na Assembleia da República, a vinda do ministro e são por isso cúmplices do silêncio perante o país e da desvalorização do Serviço Nacional de Saúde, também no nosso território.
Tudo isto é muito mais grave do que parece. O ministro da Saúde cortou quase o dobro do estipulado no compromisso assumido no Plano de Assistência Financeira. Quis ir, ele também, para além da “Troica”.
Como consequência, como é público, por falta de recursos financeiros e humanos, as dificuldades no INEM, as VMERS, este ano já ocasionaram várias mortes, sendo que as últimas, duas concretamente, aconteceram este mês, em Évora.
Ora, o desmantelamento de serviços de saúde, com profissionais dedicados, que funcionam bem, cientificamente bem-sucedidos, representam o delapidar de um património de notável experiência humana. Complementarmente, afasta as pessoas do SNS. Para além dos doentes oncológicos, dos que necessitam de fisioterapia na região, só nos faltava agora que fosse para Coimbra o serviço de referência de cirurgia pediátrica que existe em Viseu.

DV 2014-04-16

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