Esta
quinta-feira, pela manhã, estava a ouvir a intervenção de Miguel Frasquilho no
Parlamento. Falava sobre a diminuição da sobretaxa do IRS de 4 para 3,5% e a
cada três palavras lá apareciam aquelas que o colocavam em transe: “baixa …
baixou” … a sobretaxa do IRS.
Pretendia
fazer passar uma ideia, a de que a sobretaxa do IRS tinha baixado. E assim,
entre a anáfora, o pleonasmo ou a redundância lá vinha a falácia. Não resulta,
porque a sobretaxa não existia, era de 0% e passou para 3,5%, subiu. O que vai
descer é o dinheiro na nossa carteira. E assim vai a nossa vida política, sem
verdade.
Há
ainda quem não tenha percebido - e isso é transversal - que as pessoas querem
respostas concretas e não palavras da retórica clássica. A arte de bem-dizer
está ultrapassada pela arte de bem-fazer. E as pessoas estão atentas. Aliás,
nunca estiveram tão atentas como agora.
O
futuro que nos espera não tem de ser o inferno que vivemos, mas também não será
um Olimpo que não existe. É e vai ser um caminho difícil, entre nós e no resto
da Europa. As pessoas em geral e os jovens em particular não têm de se resignar
ao discurso da “impossibilidade”, do “tem que ser assim”. Isso não existe.
O
que realmente existe é a necessidade de mudar os efeitos da “fadiga política”
das lideranças tradicionais. Nunca se viu nada como agora. Nada de ideologia,
nada de valores. Toda a gente se lhes refere, mas apenas como ornato, flores de
estilo. Já nem o partido político é suficiente. A corrida à inscrição em
organizações de conveniência está na ordem do dia.
Portanto,
alertava todos os eleitos e responsáveis políticos, transversalmente, mas com
particular ênfase para os da maioria, de que, inevitavelmente, vamos precisar
de mais tempo e de juros mais baixos.
Sugeria,
pois, que dessem oportunidade ao crescimento e ao emprego, que ouvissem as pessoas
e as oposições, que limitassem a austeridade e os excesso na fiscalidade, que
tivessem a humildade ou grandeza de mudar e, para dar o exemplo, deixassem de
proteger apenas “os seus” e não tivessem para os portugueses dois pesos e duas
medidas ou o discurso impossível da inevitabilidade.
DB
2012-11-22
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