Síntese – TRÊS PENSAMENTOS
E UM MESMO OLHAR – Pacheco Pereira - Este não é um orçamento
para levar a sério e ainda hoje ninguém explicou porque não se conseguiu chegar
aos 4,5% em 2012, tal como o argumento da herança de Sócrates (o "buraco
colossal") também nunca foi explicado. António Costa - Este
governo acabou, ninguém se lembra, no último mês, de algum membro do governo
ter praticado algum acto governativo relevante. António Lobo Xavier: O
pensamento dominante em matéria financeira e de estratégia do país é
exclusivamente técnico e econométrico (do Ministro das Finanças) e colonizou o Primeiro Ministro; não é possível
deixar de fora o pensamento político
António Costa:
Numa coligação, a força
dos partidos pequenos só resulta da fraqueza dos partidos grandes e a liderança
que o PSD tem dá margem para que aconteça isto. Portas veio dizer uma banalidade
que podia ter dito há 3 dias e deixou algumas portas abertas; cumpre o seu
papel de procurar criar condições para sair deste governo o melhor possível.
As pessoas mais insuspeitas, como Ferreira
Leite, já disseram que este orçamento não tem execução possível. Este governo
acabou, ninguém se lembra, no último mês, de algum membro do governo ter
praticado algum acto governativo relevante. Não é possível dizer pior do PM (como refere que fez Lobo Xavier
com uma "crueldade brutal") do que dizer que é colonizado pelo
pensamento do MF e não é ele que tem o pensamento principal da acção do
governo. Os relatos do que acontece no CM é algo de que já não há memória.
Nenhuma crise política é
bem vinda, mas a crise não está para vir, ela existe. O problema de fundo está
enunciado no resultado de recessão económica, na inviabilidade de consolidação
das contas públicas por esta via, sendo a condição indispensável a mudança de
política. É muito importante começar a ter um discurso não demagógico sobre as
finanças públicas; o governo tem que explicar se as "gorduras do
Estado" não existem ou se existem e não é capaz de as cortar; ao fim de
quase 2 anos começa a suspeitar de que não existem, uma vez que os cortes têm
sido feitos no RSI, no subsídio de desemprego e de doença, no 13 e 14 mês dos
FP.
Deixa nota final
positiva para Carlos César, caso exemplar de como sair e organizar a transição
e deixar a região com a melhor situação económica do país.
António Lobo Xavier:
Não partilha da ideia de
que o CDS esteja a preparar a melhor forma de sair do governo, não podendo
escapar, se isto correr mal, à punição geral do voto e da opinião dos
portugueses. Reconhece a existência de uma tensão no governo mas não vê que
possa produzir os efeitos de se dizer que o governo está a acabar, considerando
que produziu alguns efeitos positivos, com recuos saudáveis (TSU e IMI) que
eliminaram asneiras significativas.
O pensamento dominante em matéria financeira e
de estratégia do país é exclusivamente técnico e econométrico (do MF) e colonizou
o PM; não é possível deixar de fora o pensamento
político e só há um caminho para ter alguma esperança, que depende do PM ter
uma coordenação política.
Se tivermos eleições
agora ficaremos numa situação parecida à Grécia; como acha que o PR não vai
nomear um governo de sua iniciativa, a crise política resultante de uma ruptura
vai sempre dar eleições, o que neste momento é o pior que pode acontecer ao
país; se a alternativa for dar o poder a Seguro (que terá que fazer uma
coligação com alguém) ou a punição dos partidos do centro (inclusive o PS), é
um cenário negativo.
O grande problema deste
governo foi ter assumido que era possível executar o memorando mesmo contra as
circunstâncias mais evidentes de que se estava a tornar muito difícil; era
preciso ter negociado previamente outras condições com a troika numa dimensão
política e não exclusivamente técnica, porque a troika percebe a crise política
e muda de ideias se lhe explicarem que isto vai rebentar.
Pacheco Pereira:
Tem a impressão de
andarmos na "terra da fantasia" na maneira como as pessoas
interpretam o comunicado do CDS; que o
parceiro de coligação tenha que fazer um comunicado a dizer que vai aprovar o
OE, é em si próprio a evidência da existência de uma crise política.
O governo tem um orçamento
que é inaplicável, como qualquer pessoa de bom senso o sabe, e que é quase uma
provocação às pessoas. Se fosse para ganhar tempo com a troika, também poderia
avançar com uma tese conspirativa de que o governo não quer governar, que
percebeu que o país se tornou ingovernável com base na sua política e está a
arranjar pretextos para se ir embora (metendo inconstitucionalidades no
orçamento para atirar a culpa para o TC, dizendo que a culpa é do povo por não
ter pago os impostos, atirando a culpa para o parceiro da coligação).
Mesmo uma pessoa
altamente imaginativa não consegue perceber como o PM tem condições, força
política, pessoal, para inverter esta situação. Este não é uma orçamento para levar a sério e ainda hoje ninguém
explicou porque não se conseguiu chegar aos 4,5% em 2012, tal como o argumento
da herança de Sócrates (o "buraco colossal") também nunca foi
explicado. Acha engraçado este discurso de propaganda, protagonizado por
algumas pessoas do PSD (e a começar pelo MF), como se quisessem ressuscitar uma
espécie de discurso nacionalista contra a troika (de nos vermos livres da
troika), quando nos foi dito que o programa da troika era o programa do PSD,
era a salvação do país e era necessário ir mais longe.
Um discurso de
austeridade tem que ser racional e este orçamento é incomportável para muitas
famílias, que não vão conseguir pagar os impostos.
Cada vez suspeita mais
de que é mais fácil negociar com a troika em situação de crise política que o
contrário; se governo cair admite um agravamento nos juros, mas será mais fácil
negociar significativamente o memorando se a troika encontrar um interlocutor
que considere viável e este governo nunca vai negociar com a troika; deve-se
evitar eleições mas têm que se encontrar mecanismos que são possíveis e (neste
cenário) o PR tem que ser chamado.
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