sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Quadratura do Circulo - CRISE NA COLIGAÇÃO E NO OE


Síntese – TRÊS PENSAMENTOS E UM MESMO OLHAR – Pacheco Pereira - Este não é um orçamento para levar a sério e ainda hoje ninguém explicou porque não se conseguiu chegar aos 4,5% em 2012, tal como o argumento da herança de Sócrates (o "buraco colossal") também nunca foi explicado. António Costa - Este governo acabou, ninguém se lembra, no último mês, de algum membro do governo ter praticado algum acto governativo relevante. António Lobo Xavier: O pensamento dominante em matéria financeira e de estratégia do país é exclusivamente técnico e econométrico (do Ministro das Finanças) e colonizou o Primeiro Ministro; não é possível deixar de fora o pensamento político

António Costa:
Numa coligação, a força dos partidos pequenos só resulta da fraqueza dos partidos grandes e a liderança que o PSD tem dá margem para que aconteça isto. Portas veio dizer uma banalidade que podia ter dito há 3 dias e deixou algumas portas abertas; cumpre o seu papel de procurar criar condições para sair deste governo o melhor possível.
As pessoas mais insuspeitas, como Ferreira Leite, já disseram que este orçamento não tem execução possível. Este governo acabou, ninguém se lembra, no último mês, de algum membro do governo ter praticado algum acto governativo relevante. Não é possível dizer pior do PM (como refere que fez Lobo Xavier com uma "crueldade brutal") do que dizer que é colonizado pelo pensamento do MF e não é ele que tem o pensamento principal da acção do governo. Os relatos do que acontece no CM é algo de que já não há memória.
Nenhuma crise política é bem vinda, mas a crise não está para vir, ela existe. O problema de fundo está enunciado no resultado de recessão económica, na inviabilidade de consolidação das contas públicas por esta via, sendo a condição indispensável a mudança de política. É muito importante começar a ter um discurso não demagógico sobre as finanças públicas; o governo tem que explicar se as "gorduras do Estado" não existem ou se existem e não é capaz de as cortar; ao fim de quase 2 anos começa a suspeitar de que não existem, uma vez que os cortes têm sido feitos no RSI, no subsídio de desemprego e de doença, no 13 e 14 mês dos FP.
Deixa nota final positiva para Carlos César, caso exemplar de como sair e organizar a transição e deixar a região com a melhor situação económica do país.

António Lobo Xavier:
Não partilha da ideia de que o CDS esteja a preparar a melhor forma de sair do governo, não podendo escapar, se isto correr mal, à punição geral do voto e da opinião dos portugueses. Reconhece a existência de uma tensão no governo mas não vê que possa produzir os efeitos de se dizer que o governo está a acabar, considerando que produziu alguns efeitos positivos, com recuos saudáveis (TSU e IMI) que eliminaram asneiras significativas.
O pensamento dominante em matéria financeira e de estratégia do país é exclusivamente técnico e econométrico (do MF) e colonizou o PM; não é possível deixar de fora o pensamento político e só há um caminho para ter alguma esperança, que depende do PM ter uma coordenação política.
Se tivermos eleições agora ficaremos numa situação parecida à Grécia; como acha que o PR não vai nomear um governo de sua iniciativa, a crise política resultante de uma ruptura vai sempre dar eleições, o que neste momento é o pior que pode acontecer ao país; se a alternativa for dar o poder a Seguro (que terá que fazer uma coligação com alguém) ou a punição dos partidos do centro (inclusive o PS), é um cenário negativo.
O grande problema deste governo foi ter assumido que era possível executar o memorando mesmo contra as circunstâncias mais evidentes de que se estava a tornar muito difícil; era preciso ter negociado previamente outras condições com a troika numa dimensão política e não exclusivamente técnica, porque a troika percebe a crise política e muda de ideias se lhe explicarem que isto vai rebentar. 

Pacheco Pereira:
Tem a impressão de andarmos na "terra da fantasia" na maneira como as pessoas interpretam o comunicado do CDS; que o parceiro de coligação tenha que fazer um comunicado a dizer que vai aprovar o OE, é em si próprio a evidência da existência de uma crise política.
O governo tem um orçamento que é inaplicável, como qualquer pessoa de bom senso o sabe, e que é quase uma provocação às pessoas. Se fosse para ganhar tempo com a troika, também poderia avançar com uma tese conspirativa de que o governo não quer governar, que percebeu que o país se tornou ingovernável com base na sua política e está a arranjar pretextos para se ir embora (metendo inconstitucionalidades no orçamento para atirar a culpa para o TC, dizendo que a culpa é do povo por não ter pago os impostos, atirando a culpa para o parceiro da coligação).
Mesmo uma pessoa altamente imaginativa não consegue perceber como o PM tem condições, força política, pessoal, para inverter esta situação. Este não é uma orçamento para levar a sério e ainda hoje ninguém explicou porque não se conseguiu chegar aos 4,5% em 2012, tal como o argumento da herança de Sócrates (o "buraco colossal") também nunca foi explicado. Acha engraçado este discurso de propaganda, protagonizado por algumas pessoas do PSD (e a começar pelo MF), como se quisessem ressuscitar uma espécie de discurso nacionalista contra a troika (de nos vermos livres da troika), quando nos foi dito que o programa da troika era o programa do PSD, era a salvação do país e era necessário ir mais longe.
Um discurso de austeridade tem que ser racional e este orçamento é incomportável para muitas famílias, que não vão conseguir pagar os impostos.
Cada vez suspeita mais de que é mais fácil negociar com a troika em situação de crise política que o contrário; se governo cair admite um agravamento nos juros, mas será mais fácil negociar significativamente o memorando se a troika encontrar um interlocutor que considere viável e este governo nunca vai negociar com a troika; deve-se evitar eleições mas têm que se encontrar mecanismos que são possíveis e (neste cenário) o PR tem que ser chamado.

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