terça-feira, 23 de agosto de 2011

PORTUGAL VOLTA AO 2º LUGAR DA BANCA ROTA

Jorge Nascimento Rodrigues (www.expresso.pt)
Custo dos seguros contra o risco de bancarrota da dívida portuguesa voltaram a ultrapassar os 1100 pontos base e no caso da Grécia estão perto de 2500. Juros em alta em todas as maturidades.



O movimento de alta já era observável desde dia 18 de agosto quer na probabilidade de incumprimento da dívida soberana da Grécia e de Portugal como nas yields (juros implícitos) das obrigações do Tesouro português e dos títulos gregos no mercado secundário da dívida.
O trilho "argentino" da crise de dívida grega prossegue. O custo dos credit default swaps (cds, seguros financeiros contra o risco de bancarrota da dívida grega) aproxima-se, hoje, dos 2500 pontos base. A probabilidade de default (incumprimento da dívida) atingiu mais de 81,5%, segundo dados do monitor da CMA DataVision.
No caso português, o custo dos cds regressou acima do patamar dos 1000 pontos base logo na abertura, fixando-se, agora, ao final da manhã em 1100,11 pontos base, e o risco de incumprimento estava acima de 58%.
A diferença com a Irlanda, o "colega" nos lugares cimeiros do "clube" da bancarrota, tem-se acentuado - o custo dos cds para o ex-tigre Celta está ligeiramente acima de 900 pontos base e o risco está nos 51%.
A Grécia continua a liderar o "clube" da bancarrota - o TOP 10 dos países com mais alta probabilidade de incumprimento da dívida.
Portugal, em virtude do disparo do risco durante a manhã de hoje (de 54,64% no fecho de ontem para 58,13% agora) subiu do 3º para o 2º lugar, ultrapassando a Venezuela.
A Irlanda mantém-se na 4ª posição. Neste clube são, ainda, membros, mais outros dois países da zona euro: a Itália em 8º lugar e a Espanha na 9ª posição.

Juros gregos acima de máximos de julho - As yields (juros implícitos) dos títulos gregos não têm parado de subir em todas as maturidades - apesar da aprovação a 21 de julho numa cimeira europeia de um 2º pacote de resgate. Hoje, na abertura do mercado secundário, os juros dos títulos gregos a 2 anos subiram para 38,7%, já próximo do máximo de 39% em 19 de julho, dois dias antes da cimeira europeia. E, agora, ao final da manhã, já estão a negociar em 39,59%, acima do máximo de julho, segundo dados da Bloomberg.
No caso dos juros das obrigações do Tesouro (OT) português a tendência altista é observável desde 18 de agosto. Hoje abriram com os seguintes valores em alta: 13,04% para OT a 2 anos; 12,99% para OT a 3 anos; 12,07% para OT a 5 anos; e 10,88% para OT a 10 anos. São, no entanto, valores ainda muito abaixo dos máximos de julho; por exemplo, os juros das OT a 2 anos atingiram o máximo de 20,36% e os juros das OT a 10 anos atingiram o máximo de 13,38%.

O que incendeia a situação grega - A enorme turbulência que regressou à Grécia é derivada da conjugação de 3 fatores recentes:
1º - agravamento da previsão de recessão para 2011, cujo valor foi revisto de 4,5% para 5,3% pelo governo em Atenas; 2º- dispersão política europeia em torno das garantia; 3º- começo da apreciação do andamento do programa de resgate grego pela troika, com um momento crítico em setembro quando Atenas terá de reprogramar €4 mil milhões de dívida.
Como pano de fundo, o desentendimento político europeu em torno da questão das obrigações europeias (eurobonds) ...... A própria coligação no poder em Berlim poderá romper-se em torno desta questãode despesismo e de endividamento e geradoras de situações inflacionárias.



A exceção irlandesa - A diferença entre Portugal e Irlanda no mercado secundário é muito clara. Os juros dos títulos irlandeses a 2 anos estão em 8,25%, enquanto para as OT estão em 13,04%. No caso dos títulos a 10 anos, a diferença é menor: 9,31% para os títulos irlandeses e 10,88% para as OT.
O processo de descida dos juros irlandeses tem sido colossal: de um máximo de 23,22% em 18 de julho para os títulos a 2 anos para 8,25% hoje; de um máximo de 14,08% em 18 de julho para os títulos a 10 anos para 9,31% hoje.
Mais de €36 mil milhões do BCE para conter juros
O Banco Central Europeu (BCE), ao abrigo do seu programa SMP (Securities Markets Programme) de compra de títulos soberanos de países membros da zona euro no mercado secundário, já desembolsou, nas duas últimas semanas, €36,3 mil milhões.
Desde o início do programa em maio de 2010, com a compra de títulos gregos, o SMP já comprou €110,5 mil milhões de títulos gregos, portugueses, irlandeses, espanhois e italianos, segundo os analistas.
O objetivo principal tem sido estancar a subida dos juros das obrigações espanholas (OE) e dos títulos italianos (BTP), o quem sido conseguido parcialmente.
Os juros das OE e das BTP a 10 anos têm estado contidos abaixo de 5%, desde 16 de agosto. Hoje, na abertura do mercado, os juros de quase todas as maturidades das OE e das BTP estavam a subir. Hoje, no caso dos títulos a 10 anos, os juros estão em alta e negoceiam perto dos 5%.
Antes da focalização nos casos de Espanha e Itália, por parte do BCE, foram as obrigações do Tesouro português e os títulos irlandeses que estiveram a beneficiar da intervenção massiva do banco central no mercado secundário.

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