segunda-feira, 7 de março de 2011

PASSOS COELHO - FROUXO NO PENSAMENTO - FALTA DE IDEIAS

Por Luís Claro
Um ano depois. O fim do estado de graça de Pedro Passos Coelho. Nogueira Leite fala num PSD frouxo. Rangel lamenta falta de bandeiras e Macário acusa o líder de ser complacente com Sócrates.

Um ano depois de ter sido eleito, Passos Coelho começa a ser alvo de críticas internas - há quem diga que acabou o estado de graça - e é visível a dificuldade da actual liderança em impor a alguns sectores do partido os seus timings para provocar uma crise política. A ausência de uma alternativa clara é um dos reparos mais ouvidos dentro do partido à actual liderança.

"O PSD tem estado frouxo na criação de ideias", diz ao i Nogueira Leite, numa avaliação do primeiro ano de mandato de Passos Coelho, lamentando a ausência de "uma visão articulada e profunda" em áreas como a Justiça ou a Saúde. "Continuamos sem saber qual é o seu pensamento. Tarda uma visão mais profunda", diz este dirigente social-democrata e conselheiro de Passos Coelho, sustentando que "é importante o PSD explicar "as suas decisões para além da área económica", já que para sair da crise é necessário "um pensamento profundo sobre outras áreas".

O economista não deixa de elogiar o "sentido de responsabilidade" de Passos Coelho, que pôs "o interesse nacional à frente dos interesses do partido". No seu blogue, Nogueira Leite colocou um excerto do artigo de Vasco Pulido Valente, no jornal "Público", em que o PSD é descrito como "uma agremiação de suicidas". O título de Nogueira Leite é elucidativo: "Se não é, às vezes parece".

O economista não é o único a pensar que o partido "tarda" na apresentação de propostas. "Faltaram bandeiras", diz o dirigente social-democrata Paulo Rangel, defendendo que o PSD "devia ter ido mais longe" na apresentação de alternativas em áreas como a Educação, a Justiça ou a Saúde.

O eurodeputado do PSD congratula-se com a decisão de Passos Coelho de avançar com a elaboração do programa eleitoral - uma tarefa entregue a Eduardo Catroga - e realça que "essa questão está em vias de resolução", acrescentando, porém, que "tudo o que está a ser feito podia ter sido antecipado e já podíamos estar a apresentar alternativas muito claras".

"O PSD poderia ter maior facilidade em fazer oposição se tivesse documentos produzidos por esta direcção para o novo ciclo. Houve questões em que não se percebeu qual era a posição do PSD, como na Educação ou na Justiça".

Em declarações ao i, Macário Correia, ex-vice-presidente do partido nos tempos de Marques Mendes, aponta outras críticas à liderança. "Tem tido uma atitude complacente com este governo. É pertinente que o PSD separe as águas", dispara o autarca de Faro, lamentando que o partido não se tenha "diferenciado de uma forma sólida de algumas opções do governo".

"O PSD tem de se diferenciar mais e clarificar mais o jogo em relação a áreas como a economia ou a problemas como o desemprego", defende Macário Correia, sustentando, porém, que acredita que "mais mês menos mês" os social- -democratas vão estar a governar.

Nos últimos tempos, algumas vozes dentro do PSD assumiram uma posição mais dura contra a liderança de Passos Coelho. Santana Lopes afirmou que o eleitorado ainda "não sente confiança" no líder do PSD, dando a entender que Rui Rio seria mais adequado para o momento que o país está a viver. Pacheco Pereira, deputado do PSD, atribuiu a Passos "falta de consistência".

Críticas isoladas ou não estivesse o partido mais perto do que nunca do poder. Como se sabe, o PSD une-se no poder e divide-se quando não vê a luz ao fundo do túnel. Foi assim nos últimos 15 anos, em que o partido andou longe do poder e teve, desde a saída de Cavaco Silva, oito líderes. Em média, cada liderança durou apenas dois anos.

ELEIÇÕES ANTECIPADAS Outra das dores de cabeça de Passos Coelho é a ansiedade que existe dentro do PSD de disputar eleições antecipadas. O líder do partido já veio criticar os que insistem em precipitar crises políticas e disse mesmo que andam a "falar de mais", mas desde essa declaração foram vários os social-democratas com peso dentro do partido a defenderem que o governo está esgotado e que é preciso ir para eleições o mais rapidamente possível.

O conselheiro de Estado, António Capucho, o presidente do governo regional da Madeira, Alberto João Jardim, o ex-candidato à liderança, Aguiar-Branco, ou os ex-líderes Luís Filipe Menezes e Marques Mendes não podiam ter sido mais claros a defender que a solução é ir já para eleições. "Só o povo, através do sufrágio, pode terminar com esta paz podre. E quanto mais tarde isso acontecer pior. Não ver isto não é miopia. É mesmo hipocrisia", escreveu Mendes na sua crónica no "Correio da Manhã". Por outras palavras, não falta quem, no PSD, considere que a estratégia de Passos Coelho de "aguentar" o governo está longe de ser a mais correcta.

O presidente da distrital de Lisboa, Carlos Carreiras, lamenta a falta de contenção. "Estão a favorecer a lógica do PS e de José Sócrates ao fazer esse tipo de pressão. Todos aqueles que se têm pronunciado não estão a beneficiar a estratégia do PSD", diz Carreiras, criticando aqueles que já estiveram na liderança ou em cargos de responsabilidade e não conseguiram fazer o que agora está a ser feito. "Se não foram capazes, o que se lhes exige é que sejam prudentes".

Também o histórico do PSD, Miguel Veiga, defende que este não é momento para provocar uma crise política, embora classifique o governo como "um cadáver adiado". "Não existem condições, neste momento, para criar instabilidade política sem sabermos se estamos em condições de obter a maioria absoluta", afirma o ex-dirigente social-democrata, elogiando o mérito do actual líder por "atenuar a sofreguidão de alguns militantes e até de algumas pessoas do seu núcleo duro". "Chegaremos lá. Provocar eleições era correr um risco que não deve ser corrido e contribuir para a vitimização do engenheiro Sócrates", acrescenta Veiga.

Certo é que Passos Coelho nunca foi tão pressionado para provocar eleições antecipadas e sabe-se que, com a tomada de posse do Presidente da República, acaba o período em que não era possível dissolver a Assembleia da República. Miguel Relvas, secretário-geral do PSD, no seu comentário na SIC Notícias, lembrou que "a partir do dia 9 de Março temos uma nova realidade" e em alguns sectores do PSD cresce a convicção de que o partido pode ir a eleições mais cedo do que pensava, nomeadamente se forem necessárias mais medidas de austeridade para cumprir o défice.

Quando ganhou as eleições, Passos Coelho disse que "o PSD não é um saco de gatos" e lembrou a necessidade de unir o partido como uma das suas prioridades, mas, como diria Nogueira Leite: se não é, às vezes parece.

Miguel Veiga defende que o PSD não deve provocar eleições sem ter condições para obter a maioria absoluta

Carlos Carreiras acusa os que têm defendido eleições antecipadas de estarem a fazer o jogo de José Sócrates

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