Participei nas cerimónias que começaram no Regimento de Infantaria de Viseu (RIV) com a receção pelo Comandante, na Biblioteca, a todos os órgãos autárquicos, câmara e assembleias municipais e presidentes de junta de freguesia. A assembleia municipal entregou um ramo com 43 cravos, tantos quantos anos que decorreram depois de Abril de 74. O capitão de Abril Arnaldo Costeira esteve presente.
Seguiu-se a sessão solene, já no pavilhão multiusos da freguesia de Santos Evos. Este ano o convidado especial foi Pedro Santos Guerreiro, natural de Viseu e diretor do Expresso. Foram homenageados todos os antigos presidentes de junta de freguesia.
António Ribeiro de Carvalho (PS) |
Intervenção do PS por António Ribeiro de Carvalho
"Cabe-me, em representação do Grupo
Municipal do Partido Socialista na Assembleia Municipal de Viseu, começar por
cumprimentar V. Exªs nesta sessão solene evocativa do “25 de Abril”.
Foi há 43 anos (como o tempo passa…) que
um grupo de jovens Capitães derrubou um regime caduco que durante 48 anos
proibiu, reprimiu, prendeu, torturou e, principalmente, calou os sentimentos
mais profundos do Povo Português
Pertenço àquela geração cuja formação
política se forjou no Associativismo Estudantil e nas lutas académicas, geração
essa, generosa e ingénua, que acreditava, como se de dogmas se tratasse, que a
queda do fascismo, por si só, traria ao Povo Português mananciais de felicidade
e que os Governos que viessem a governar em Democracia pautariam sempre a sua conduta
pela seriedade de intenções e transparência de processos, donde resultaria,
inevitavelmente, a melhoria das
condições de vida e trabalho para todos os Portugueses, a começar pelos mais
desfavorecidos.
Cedo porém, e infelizmente, nos fomos
dando conta de que a Liberdade, valor primeiro, de entre todos o mais querido,
esse, formalmente existe. E digo que existe formalmente porque não há inteira
Liberdade quando não há pão para todos, não há saúde igual para todos, não há
justiça igual para todos, não há instrução igual para todos, nem há um tecto
para todos.
Onde, quando e de que maneira se
procurou, realmente, alcançar esses ideais, tão caros à minha geração?
Infelizmente nenhum dos vários Governos
que se foram sucedendo em Portugal
conseguiu, verdadeiramente, trazer ao
Povo Português a prosperidade económica que este merece, nem fixar os Portugueses no seu País,
constituindo hoje a diáspora um muito significativo número de Portugueses que
se viram forçados a vender no estrangeiro a força do seu trabalho. E, ao
contrário dos negros anos do fascismo, em que a emigração era maioritariamente
de pessoas não qualificadas, hoje a maioria dos que emigram pertencem à elite
intelectual dos que adquiriram licenciaturas, mestrados e doutoramentos nas
nossas Universidades, cujo funcionamento todos nós suportamos.
Depois do “orgulhosamente sós”, em
cumprimento de um dos três “D” da Revolução de Abril, a Descolonização procedeu
ao desmantelamento do então chamado “Império Colonial Português”, e Portugal
recolheu-se de novo à sua condição de pequeno País, o mais a Oeste da Europa,
pelo que, outro caminho lhe não restou que voltar-se para essa Europa, a que
sempre virou costas voltando-se para o Mar que foi desbravando até aos confins
do Mundo.
Portugal aderiu, pois, à União Europeia
e assistiu-se a um fluxo de entrada de dinheiro inimaginável de milhões de
euros diários e durante muitos anos. Infelizmente quem nos governava então, por
falta de visão estratégica aplicou massivamente esse dinheiro em betão, esquecendo
que deveria encaminhá-lo, primordialmente, para o verdadeiro desenvolvimento económico
e social do País nas áreas-chave de transformação estrutural – qualificação, tecnologia,
especialização produtiva e emprego, desenvolvimento regional e estruturação do espaço
económico nacional, repartição e consumo, estrutura e aproveitamento da propriedade
e gestão dos meios de produção.
Mais do que isso, desastradas negociações
conduziram ao abandono da agricultura e ao desmantelamento da nossa frota
pesqueira e do nosso pujante e tradicional comércio marítimo com navios de
bandeira nacional. Para depois, mais tarde, os mesmos personagens invocarem que
o mar é o grande desígnio nacional…
Já em anos recentes, e na sequência de
um pedido de resgate, eventualmente
desnecessário, já que a poderosa
Alemanha e a própria União Europeia tinha apadrinhado o chamado PEC 4,
assistiu-se ao mais duro cenário de austeridade em que o Chefe do Governo se
gabava de introduzir medidas restritivas ainda mais gravosas do que as impostas
pela “Troika” e defendia o empobrecimento do País pois, dizia, só assim Portugal
se salvaria e recuperaria uma boa situação económica e a imagem de um bom
aluno.
Afinal, com essa política, ao contrário
do propalado, assistiu-se ao colapso do sistema financeiro, com os principais
Bancos a terem de recorrer à linha pública de capitalização, tendo até alguns
implodido e, pelo esmagamento do crédito às empresas, maioritariamente médias e
pequenas, assistiu-se ao encerramento de milhares delas, com os consequentes agravamento
do desemprego e da fome, e que teve como imediato resultado a emigração de quadros
que tanta falta vão fazer ao País para a sua efectiva recuperação económica.
E, é bom não esquecer, durante esse período
nocturno do nosso País, as mais importantes empresas nacionais em sectores
estratégicos passaram para mãos estrangeiras, como a EDP, a ANA, a PT, e tantas
outras.
Felizmente, depois desse sombrio
período, o Governo do Partido Socialista veio provar que é possível alterar o
estado de coisas por forma diferente da austeritária, aumentando os salários,
fazendo crescer a economia, diminuindo o défice e o desemprego e, para mim mais
importante ainda, recuperando a paz social e tornando o País mais distendido e
menos descrente no futuro.
Chamam-lhe a “Geringonça”, bizarro nome,
que de insultuoso passou a respeitado, para um Governo que governa com e para
os Portugueses e que conseguiu, ao contrário do que sempre afirmaram os
“Profetas da Desgraça”, trazer para a zona da responsabilidade, que não apenas
a da contestação e oposição, os Partidos mais à esquerda do espectro Partidário
com representação Parlamentar, até aí fora do por alguns discriminatoriamente
chamado “Arco da Governação”.
Daqui, também e por isso, a minha
particular saudação ao Primeiro-Ministro António Costa.
Comemorar o “25 de Abril” é, antes do
mais, lembrar e agradecer àquele punhado de jovens Capitães que patrioticamente
se rebelaram contra a Ditadura e devolveram ao Povo Português a capacidade de
livremente se manifestar e escolher o destino colectivo da Nação, não podendo
esquecer os então Capitães do R.I. 14 de Viseu que participaram nessa jornada gloriosa:
Diamantino Gertrudes da Silva, António Amaral, Aprígio Ramalho, Arnaldo
Costeira e
Amândio Augusto.
Mas
comemorar o “25 de Abril” é também comemorar o Poder Local, o Poder
Autárquico, aqui, numa freguesia,
primeiro escalão desse Poder, o que mais próximo se encontra das populações e
mais com elas compartilha alegrias e tristezas, anseios e realizações. Na
pessoa do Senhor Presidente da Junta de Santos Evos, nosso anfitrião, saúdo todos
os Presidentes de Junta deste nosso Concelho de Viseu, a quem felicito pela
espinhosa, mas muito honrosa tarefa que desempenham.
Uma última palavra para os Jovens que
tiveram a felicidade de não ter vivido antes dessa gloriosa manhã que foi a de
25 de Abril de 1974 e, por isso, não foram sujeitos à ignomínia e ao desespero
que é viver sem Liberdade. Liberdade que, essencialmente, é o direito de dizer
NÃO.
E é a isso que Vos exorto, a que
exerçam, firmemente mas com responsabilidade, o direito e o dever de dizer NÃO,
para que possam dispor, em Paz e Liberdade, do Vosso destino e do destino dos
Vossos concidadãos para o bem de Portugal.
Viva o 25 de Abril, Vivam os gloriosos Capitães de Abril, Viva Viseu, Viva Portugal."
Santos Evos - cerimónia oficial
A sessão foi aberta por Mota Faria, presidente da assembleia municipal. Deu a palavra aos representantes dos partidos políticos, ao convidado Pedro Santos Guerreiro, ao presidente da câmara e depois o próprio fez a intervenção final. No final houve um almoço popular.
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