Esta é a semana do Conselho Europeu. O clima político que o antecede não permite antever nada de bom. Merkel e Sarkozy falam a dois e a sós. Fazem de conta que tratam de coisas da Europa, mas as suas narrativas - como agora se diz - dirigem-se aos respectivos eleitorados que não lhes tributam grande popularidade neste momento. Alemanha e França estão já em campanha eleitoral e será este o contexto que poderá dominar o Conselho.
Os outros chefes de estado e de governo têm sido meros ouvintes. Neste últimos dias só David Cameron apimentou as expectativas ao sugerir que usará o seu direito de veto se forem feitas propostas de alteração que não acautelem os interesses do reino de "sua majestade". E é discurso para ter em conta!
O nosso caso é paradigmático. O primeiro-ministro não consegue dizer-nos o que pensa. Limita-se a concordar com todas as teses da senhora Merckel, sejam elas quais forem, contrariem ou não o interesse nacional. E contrariam! Nem a chanceler diz o que pensa, nem Sarkozy diz o que quer, apenas o que pode.
Concluímos, legitimamente, que Pedro Passos Coelho e o governo apoiam o eixo franco-alemão, mesmo sabendo que nada do que é dito e feito tenha correspondência com qualquer pensamento estratégico genuíno, coerente e, sobretudo, solidário. É o seguidismo firme de uma "coisa" que não existe.
A direita europeia, representada entre nós pela coligação PSD/CDS, não quer reconhecer a “demolição europeia” que progressivamente construiu. Numa Europa a 27 apenas temos dois governos do centro esquerda.
Parafraseando o líder do PS, a Europa, tal como a concebemos, "já não existe". E isso é dramático, porque foi àquela Europa que delegámos parte importante da nossa soberania, aceitando mesmo que seja ela a legislar e decidir em todas ou quase todas as matérias do nosso quotidiano como se demonstra pela transposição permanente das suas directivas. Falta-nos, portanto, melhor Europa, melhor liderança e melhor primeiro-ministro.
Tivemos agora a intervenção de um “velho senhor”, Helmut Schmidt, neste 4 de Dezembro, que foi capaz de afirmar: “Porque todos os nossos excedentes são, na realidade, os défices dos outros. As exigências que temos aos outros, são as suas dívidas. Trata-se de uma violação irritante do por nós elevado a ideal legal do «equilíbrio da economia externa». Esta violação tem de inquietar os nossos parceiros. E quando ultimamente aparecem vozes estrangeiras, na maioria dos casos vozes americanas – entretanto vêm de muitos lados – que exigem da Alemanha um papel de condução europeia, então isso desperta nos nossos vizinhos mais desconfiança. E acorda más recordações.” Há outra Alemanha!
DB 2011.12.07
Sem comentários:
Enviar um comentário