O ministro das finanças acaba de dizer que foi opção do governo capturar o subsídio de Natal este ano aos trabalhadores portugueses e reformados, embora sem necessidade, porque, como se vê, o défice ficou aquém dos 5,9%, muitíssimo aquém, cerca de 4%.
António José Seguro já demonstrara este excesso do governo de Passos Coelho pelo que tinha e teve razão, a mesma que se aplica às evitáveis taxas máximas do IVA para o gás e electricidade, restauração em geral e produtos alimentares em particular.
Talvez agora, que não noutra altura, os eleitores que legitimamente votaram numa mudança, comecem a perceber por que motivo o "instável" Presidente da República, que atacava o governo PS defendendo as agências de rating - e as critica agora, bem - concorda com os socialistas no essencial: a Europa tem de mudar atitude, não se pode apenas falar em austeridade e sanções, porque deve haver solidariedade, tal como uma política para o crescimento e emprego, são as suas ideias chave na última entrevista a um jornal estrangeiro. E até diz mais, bem perto do PS, a continuar assim os "encargos serão insuportáveis", de difícil pagamento, entenda-se!
Enquanto isto, o país mergulhou numa espiral de violência, a Justiça e Administração Interna não se entendem nas indefinições que introduziram nas polícias, no seu papel, estatuto e coordenação. As “rebarbadoras” e explosões arrasam as caixas multibanco, os ourives são diariamente assaltados, o mesmo começou a acontecer nos hotéis, nas estradas os pórticos são atacados a tiro, personalidades são sequestradas, aumenta o carjacking e o esticão, o crime violento, rompendo com todas as estatísticas e brandos costumes, fazendo acontecer as primeiras vítimas mortais.
Como "remédio", o governo toma medidas dramáticas que acentuam o desemprego, introduz facilidades no despedimento, torna-o mais barato, aniquila a economia e as empresas com impostos, retira-lhes clientes por diminuição histórica do poder de compra das pessoas e aconselha os seus cidadãos à retoma da emigração dos "anos 60", caminho que acaba de apontar aos professores.
"Uma maioria um governo e um presidente", o êxtase ideológico de tantos anos, alimentado pela direita portuguesa, realizou-se, mas não se realiza o povo, nem Portugal. A pressa de ir ao "pote" - terminologia tão infeliz do primeiro-ministro - impulsionou um dilúvio de inadequadas privatizações e captura por excesso de um fundo de pensões que transformou numa "SCUT" financeira anual, tal como na rede rodoviária, ainda que esta tenha agora uma "almofada" com novas portagens, das mais caras do país e da Europa.
O serviço nacional de saúde para todos transforma-se numa miragem e a segurança social, em nome uma "pseudo sustentabilidade” - que só este governo ousou pôr em causa – iniciou o caminho da privatização com o novo slogan de Passos Coelho: "daqui a 20 anos só receberei metade da reforma". Portanto, quer dizer, descontem e confiem apenas nos privados, comprem seguros, porque o estado social tem os dias contados.
O governo é uma caricatura de si próprio, mas este retrato feito de palavras não é outra coisa se não a realidade dos nossos dias. Esperava-se mais, muito mais, de uma reunião extraordinária do Conselho de Ministros, medidas concretas, mas o sumo das ditas onze horas de trabalho transformou-se em silêncio. Tudo foi um equívoco. O que realmente deve ter acontecido foi um “CONVÍVIO DE MINISTROS”.
José Junqueiro (vice-presidente do Grupo Parlamentar PS)
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