Rui Rio foi mais uma das personalidades que esta semana criticou o governo pela sua decisão de cortar os subsídios de férias e Natal aos funcionários públicos, "porque os sacrifícios extremos são pedidos sempre aos mesmos", disse. Actuar unilateralmente sobre os activos e os reformados considera o autarca tratar-se da iniquidade fiscal de que falava o Presidente da República.
António Seguro e o PS não estão, portanto, sós. O Cardeal Patriarca também já somou a sua voz ao protesto contra a injustiça fiscal e social. E, neste contexto, quer o Secretário Geral do PS, quer o Presidente da Câmara do Porto apresentaram alternativas concretas.
Rui Rio faz contas e defende que a diminuição de 14% do rendimento anual dos funcionários públicos pode cair para 2% se todos os trabalhadores do privado também contribuirem. António Seguro avança pelo lado da despesa e, ao demonstrar uma folga objectiva de 900 milhões de euros, exige que funcionários públicos e pensionistas vejam os cortes reduzidos a metade.
Ao governo PSD/CDS, de maioria absoluta, compete, no entanto, a decisão final. Não tem uma única boa desculpa para não moderar o "confisco" que quer fazer aos rendimentos do trabalho. Já não considero as promessas do 1º Ministro cujo discurso e as convicções variam todos os dias. A sua fragilidade, o seu discurso de generalidades sente-se como algo vazio de conteúdo. Diz apenas banalidades e é com elas que continua a fazer de conta que governa.
Em boa verdade, ao não conseguir um "casamento" entre as finanças e a economia falha a agenda do crescimento e do emprego. Quem, até 2050, projecta um crescimento médio de 1,2%, não só consolida o aumento do desemprego como acentua a divergência entre Portugal e o resto da Europa.
O problema é que com estas medidas não conseguirá crescimento, mas sim, tal como já afirmara, com aquele vazio que se lhe conhece, um empobrecimento progressivo do país. A maioria PSD/CDS perdeu a ambição e isso resulta do facto de não ter tido nunca uma alternativa de governo.
Bem pode, agora, dizer que a crise é internacional, que depende da evolução da Grécia ou do humor das agências de rating. Isso é presente, mas também é o passado que nunca quis reconhecer aos outros. A via da austeridade sem impulsos à economia é um desastre. A produtividade não se consegue obrigando as pessoas a trabalharem mais pagando-lhes menos, tornando-as mais pobres. Retirá-las da capacidade de consumo é retirar o comércio e a indústria do país.
Com a Itália à beira do resgate, com a França a congelar salários, bem podem os portugueses avaliar o "embuste" da "crise nacional" montado a partir da presidência da república, sempre moralista, mas fracturante e despesista quanto baste. Esta digressão turística pelos Estados Unidos é apenas mais um exemplo. Como se pode prestigiar Portugal lá fora quando se apoucou cá dentro? Vai dizer que Portugal é um "país" que vale a pena. E há cinco meses não valia a pena? O que é que mudou?
DV 2011.11.09
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