"Alguns socialistas mantêm reticências face às
negociações do PS com a esquerda parlamentar. Vera Jardim espera para ver mas
não esconde a afinidade face à "corrente" Assis. Já Brilhante Dias
defende que António Costa ainda pode recuar.
O socialista José Vera Jardim
distanciou-se, esta segunda-feira, 2 de Novembro, do secretário-geral do
partido,
António Costa, abrindo a porta à adesão à "corrente crítica e
alternativa" anunciada no passado fim-de-semana pelo
eurodeputado Francisco Assis. Num programa da Rádio Renascença, emitido esta
segunda-feira à noite, Vera Jardim começou por exigir um acordo entre o PS e as
restantes forças parlamentares da esquerda em que "as contas têm de bater
certas".
Ainda assim, Vera Jardim não exclui a
possibilidade de concordar com a solução final resultante das conversações
entre o PS e BE, PCP e Verdes. Mas adverte que poderá aderir à
"corrente" Assis caso não se identifique com o acordo à
esquerda.
"Se me perguntasse se eu prefiro a solução Francisco Assis
ou um acordo com que não concorde, sem dúvida nenhuma que preferia a solução
Francisco Assis. Mas eu espero para ver o acordo. Tenho esperanças que
satisfaça aquilo que eu digo que são, não os mínimos, mas aquilo que eu julgo
correcto", disse Jardim à RR. E se não satisfizer, "tirarei as minhas
conclusões", avisa.
No entanto, apesar de considerar
"muito úteis" as posições adoptadas por Assis, o dirigente
socialista gostaria que o eurodeputado tivesse aguardado um pouco mais
antes de tomar esta iniciativa de forma a evitar "acusações de
divisionismo e coisas desse género".
O antigo ministro da Justiça mostra-se
claramente crítico das negociações em curso, cujo resultado até agora conhecido
é "zero". E critica abertamente o facto de a porta-voz bloquista,
Catarina Martins, ter anunciado um acordo com o PS para a subida de todas as pensões.
"Obviamente que não me agrada que uma dirigente de um partido em
negociações com o PS venha anunciar medidas, ainda por cima chamando a si os
louros das ditas medidas", acusa.
Logo que ficou claro que António Costa
iria encetar negociações com BE, PCP e Verdes com vista à formação de um
Governo apoiado por uma maioria parlamentar de esquerda, começaram a surgir vozes dissonantes no partido.
O primeiro nome socialista de peso a fazê-lo terá mesmo sido Francisco Assis,
que entretanto anunciou ao Expresso a criação de uma "corrente
alternativa". Corrente que ganhará forma já no próximo sábado com a
realização de um almoço na Mealhada em que Assis esperar congregar mais de 100
militantes. No entanto, segundo assegurou ao Público já esta terça-feira, 3 de
Novembro, Francisco Assis exclui "apelar a que desrespeitem a disciplina de
voto porque a disciplina de voto é importante".
Um dos nomes que se junta a Assis é o de
José Junqueiro. O ex-deputado lamenta que a iniciativa do secretário-geral do
partido, de avançar com negociações à esquerda, não tenha sido discutida no
seio do partido e acusa António Costa de se ter deixado ultrapassar por
Catarina Martins, "a pivô deste processo". Em entrevista ao i,
Junqueiro garante que "Catarina Martins já pode dizer que conseguiu
descongelar as pensões".
Já o segurista Eurico Brilhante Dias, que
tem estado mais reticente em se colocar frontalmente na oposição à iniciativa
de Costa, reconhece legitimidade política ao secretário-geral socialista para
negociar um acordo desde que o mesmo seja "positivo".
Contudo, em declarações feitas esta
segunda-feira à noite, na SIC Notícias, Brilhante Dias diz sentir-se mais
próximo das posições de Assis do que do líder do partido, deixando a porta
aberta à possibilidade de António Costa recuar. "O Dr. António Costa não é
obrigado a celebrar qualquer acordo", até porque "terá sempre uma
alternativa se achar que as condições não são aceitáveis", sustentou". (in Negócios)
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