quarta-feira, 11 de novembro de 2015

Morreu Helmut Schmidt, um europeista alemão amigo de Portugal

Amigo de Mário Soares e do PS, foi sempre um entusiasta da jovem democracia portuguesa e um europeísta convicto. 

Aos 92 anos, em Berlim, a 4 de Dezembro de 2011, num momento muito difícil para Portugal (já tinha entrado a Troika) e para a Europa fez o discurso histórico, no Congresso ordinário do SPD, sob o tema «A Alemanha na e com a Europa», que aqui reproduzo. 

Para os mais interessados na vida pública, na Europa e no mundo global, aconselho, hoje mais do que nunca, a sua leitura.

Talvez, depois, se compreenda melhor que a crise europeia decorre da crise de ideais, de pensamento e de lideranças fortemente democráticas.

http://gotadeagua53.blogspot.pt/2011/12/discurso-de-helmut-schmidt-no-congresso.html

Algumas passagens para estimular o apetite de leitura

(...) desenvolveu-se um grave erro, nomeadamente os enormes excedentes da nossa balança comercial. Desde há anos que os excedentes representam 5% do nosso PIB. (...) Porque todos os nossos excedentes são, na realidade, os défices dos outros. As exigências que temos aos outros, são as suas dívidas. Trata-se de uma violação irritante do por nós elevado a ideal legal do «equilíbrio da economia externa». Esta violação tem de inquietar os nossos parceiros. (...)

(...) Se nós alemães nos deixássemos seduzir, baseados no nosso poder económico, por reivindicar um papel político dirigente na Europa ou pelo menos desempenhar o papel de primus inter pares, então um número cada vez maior dos nossos vizinhos resistiria eficazmente. A preocupação da periferia europeia com um centro da Europa demasiado forte regressaria rapidamente. As consequências prováveis de uma tal evolução seriam atrofiadoras para a UE. E a Alemanha cairia no isolamento. A República Federal da Alemanha, muito grande e muito eficaz, precisa – também para se defender de si própria! – de se encaixar na integração europeia. (...)

(...) a humanidade multiplicou-se de forma explosiva atingindo os 7 mil milhões. Quando nasci eram cerca de 2 mil milhões. Todas estas enormes mudanças tiveram consequências tremendas nos povos europeus, nos seus estados, no seu bem-estar!
Por outro lado, todas as nações europeias envelhecem e por todo o lado desce o número de cidadãos europeus. Em meados do século XXI seremos provavelmente 9 mil milhões de pessoas a viver na Terra, enquanto todas as nações europeias não ultrapassarão os 7%. 7% de 9 mil milhões. Até 1950, os europeus representaram, durante mais de dois séculos, mais de 20% da população mundial.(...)

(...) Cada uma das nações europeias, em 2050, representará já só uma parte de um 1% da população mundial. Quer dizer: se queremos ter a esperança de nós europeus termos importância no mundo, então só a teremos em conjunto. Porque enquanto Estados separados – seja a França, Itália ou Alemanha ou Polónia, Holanda ou Dinamarca ou Grécia – só nos poderão contar em milésimos e não mais em números percentuais.
Daqui resulta o interesse estratégico a longo prazo dos estados europeus na sua cooperação integradora. (...) 

(...) Nós, alemães, também não conseguimos sozinhos a grande reconstrução e capacidade de produção nos últimos 6 decénios. Elas não teriam sido possíveis sem a ajuda das potências vencedoras ocidentais, sem a nossa inclusão na comunidade europeia e na aliança atlântica, sem a ajuda dos nossos vizinhos, sem a mudança política na Europa de leste e sem o fim da ditadura comunista. Nós, alemães, temos razões para estarmos gratos. E simultaneamente temos a obrigação de nos mostramos dignos da solidariedade através da solidariedade com os nossos vizinhos! (...)

Sem comentários:

Enviar um comentário