A
nova Assembleia da República será empossada nesta sexta-feira e terá o
presidente que o PS propuser, com acordo prévio do PCP e do BE.
Funcionará
assim, pela primeira vez, a maioria de esquerda. Nesta
matéria não é certo que a coligação PàF apresente uma alternativa, não só
porque seria chumbada, mas porque já fez saber, há algum tempo, que a
presidência pertenceria ao PS, quer esse desejo tenha ou não sido sincero. O
que tem que ser tem muita força!
Este
facto demonstra bem que o PS ao liderar a oposição poderia fazer aprovar à
esquerda todas as medidas do seu programa, todas as que entendesse fundamentais
ao interesse do país e aquelas que no mesmo contexto e com o mesmo sentido
pudessem ser avançadas pelo BE e pelo PCP.
Compreende-se,
pois, que defenda dever ser esta a estratégia correta do PS. O governo, a quem
os eleitores renovaram a confiança - que não a maioria absoluta - seria
obrigado a negociar com todos os partidos da oposição, a cada momento.
A
sua obrigação de governar não seria um passeio, mas um desafio permanente já
experimentado por Guterres e por Sócrates nas segundas legislaturas. E, como se
sabe, esses governos minoritários tiveram a duração média de 18 meses e deram
sempre origem a soluções de maioria absoluta à direita.
Sei
bem do que falo, porque foi nesses contextos difíceis que desempenhei funções
de secretário de estado, respetivamente, da Administração Marítima e Portuária
e da Administração Local. Sei bem o que as oposições fizeram e as alianças
sucessivas do PCP e do BE com o PSD e o CDS, sempre para dificultarem a vida e derrubarem
os governos do PS.
É
esta memória que também me faz pensar numa solução diferente da de António
Costa. Quem ganha tem não só o direito como a obrigação de governar. Remeter
para a oposição a maioria escolhida nas urnas, fazer um governo excluindo-a
dessa responsabilidade, não é politicamente desejável, nem para o país nem para
o PS.
A
teoria justificativa que refere - ao contrário - os resultados das eleições não
colhe. Argumentar que, em números redondos, os 38% da coligação PàF significam
que 62% dos portugueses rejeitaram essa solução, permitiria concluir que 92%
rejeitaram a CDU (só teve 8%), 90% o BE (só teve 10%) e 68% o PS (só teve 32%).
Convenhamos que esta “narrativa” não é lá grande coisa, porque alguém poderia
dizer que um hipotético governo à esquerda seria um somatório de rejeitados.
O
que está em jogo não é só o futuro de António Costa, mas o do partido. Isto do
PS ficar nas mãos do PCP e do BE tem muito que se lhe diga, como se verá! A
vida tem destas coisas. Sempre imaginei chegar a outubro e ver António Seguro
como primeiro-ministro, preparando-me para iniciar 2016 com a eleição de
António Costa como Presidente da República.
DV
2015.10.21
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