Conversa
sobre a espuma das coisas
A
“silly season” vai a meio e ficará certamente marcada pela novela dos cartazes.
Da parte do PS já sabemos o que se passou. Tudo terminou com a substituição do
diretor de campanha, Ascenso Simões, por Duarte Cordeiro, vice-presidente da
câmara de Lisboa. O estilo proclamatório deu lugar ao “low profile” e à aposta
na figura política com mais notoriedade: António Costa.
A
maioria, sobretudo o PSD, pareceu não ter aprendido nada e rapidamente se substituiu
ao PS nos deslizes. Com efeito, contratou uma empresa que a partir de um banco
de imagens profissional fez avançar cartazes com gente que tão depressa reconhecemos
na publicitação do slogan “mais mulheres
no mercado de trabalho”, como na de um grau de formação de uma qualquer
escola de um qualquer país estrangeiro. Poderemos mesmo encontrar a mesma
pessoa a divulgar a marca de uma pasta de dentes ou de azeite com pouca acidez.
Nos
dois casos vamos concluir que na mensagem política houve falta de cuidado,
rigor, e, sobretudo, de respeito e autenticidade perante o eleitor. Ora,
acontece, que são estas últimas virtudes as que ele valoriza melhor, porque se
aproximam de uma coisa que hoje, como nunca, exige: verdade.
A
algazarra foi de tal modo enfatizada que preencheu primeiras páginas de
jornais, telejornais, comentadores, politólogos e por aí adiante. O que
realmente ficou por discutir, porque se perdeu mediaticamente, foi a verdade dos
números do emprego ou da destruição do mesmo, dos falaciosamente ocupados ou
dos emigrados, do aumento do défice das empresas públicas, da aparente quebra
fiscal ou do desequilíbrio entre importações e exportações.
A
sustentabilidade da segurança social, a solidariedade intergeracional, o
crescimento e o emprego, as políticas para defesa do investimento em ciência e
inovação, ou tudo aquilo que é absolutamente necessário realizar para aproximar
os serviços das pessoas, de estimular o acesso e celeridade na justiça, do
acesso à saúde e ao direito conseguido de ter médico de família, ficou no
tinteiro. Não, nada disto entrou no “prime time“ do interesse público e da
discussão política.
Penso
que dentro de uma semana, se tanto, mais ninguém ouvirá falar dos celebérrimos
cartazes, nem tão pouco das suas mensagens. A “silly season” é mesmo isto,
período de importâncias efémeras.
E
enquanto os eleitores não regressarem todos de férias e as máquinas de campanha
não afinarem, teremos talvez, nas duas semanas mais próximas, uma agenda marcada
pelo início do campeonato de futebol e, sobretudo, conversa sobre a espuma das
coisas.
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