O país está muito
melhor. E não é de agora: já em fevereiro de 2014 o líder da bancada do PSD,
Luís Montenegro, garantia que "a vida das pessoas não está melhor, mas a
vida do país está muito melhor." Modéstia, já se vê. Sabemos agora que não
é só "a vida do país" que melhorou, mas a das pessoas também -
dizem-no em coro Passos e Portas. E melhorou em relação a quê? A 2011, que,
como é sabido, é o princípio do mundo e medida de todas as coisas no que a PSD
e CDS diz respeito.
Veja-se por exemplo o
desemprego, segundo o porta-voz do PSD, Marco António Costa: "Face aos 661
mil desempregados existentes em junho de 2011, temos em junho de 2015 636 mil.
Isto é, uma redução superior a 20 mil desempregados." E o centrista Nuno
Magalhães coadjuva: "A taxa de desemprego de 12,4% em junho, divulgada
pelo INE, está pela primeira vez abaixo da deixada pelo governo socialista que
era de 12,7%."
Não é que suspeitemos da
veracidade destas afirmações - por amor de deus, temos lá motivos - mas visitar
os relatórios do INE é sempre interessante (embora enlouquecedoramente difícil,
o que talvez explique o motivo pelo qual é tão fácil jogar com números sem
contraditório). Ora se a estimativa do INE para o desemprego de junho de 2011
(até 2014 só eram apurados valores trimestrais) é a apresentada pela coligação,
o problema é aquilo de que ela não fala, compreensivelmente: o número de
empregados. Em junho de 2011 eram 4,703 milhões; em junho de 2015 são 4,494
milhões. Ou seja, 209 mil empregos a menos. Uma diferença que faz empalidecer
um pouquinho a tal vantagem de "menos 20 mil desempregados" cantada
por PSD e CDS.
Ou seja: para um nível
de desemprego registado (fixem esta expressão, é importante) um pouco inferior
temos muito menos empregados em junho de 2015 do que em junho de 2011.
Portanto, não tendo morrido 200 mil pessoas em idade ativa nestes quatro anos,
deveríamos ter muito mais desemprego registado. Por que não temos? Uma das
respostas tem que ver com os desempregados que já não estão nas estatísticas de
procura de emprego porque desistiram de o procurar.
No primeiro trimestre de
2015 (estes dados não estão ainda disponíveis para o segundo trimestre), o INE
calcula em 256,8 mil o número de inativos "disponíveis" - ou seja,
não são estudantes, reformados ou "domésticos" - que não procuram
emprego; no segundo trimestre de 2011 seriam 146,8 mil.
Concluindo: em junho de
2015 há mais 110 mil desempregados "desencorajados". E há ainda,
claro, a emigração. Entre 2011 e 2014, a população em idade ativa (dos 15 aos
64) passou de 6 961 852 para 6 879 414. 82 438 pessoas, sobretudo na faixa
etária entre os 20 e os 35, desapareceram das estatísticas. "O PSD fez
contas", titulava ontem o DN online. Fez: à nossa distração e
cansaço. A ver se a malabarice pega - outra vez.
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