Há 15 anos atrás, no decurso da minha primeira experiência de governo, aprendi que é necessário ser rigoroso na oposição para ser coerente na governação.
Os números do desemprego decorreram sempre das regras do INE ou do IEFP, sendo que, paralelamente e em menor número, existiram sempre ocupados (estágios, formação) emigração e desencorajados.
E sempre houve, desde o início do século, embora menor grau, destruição de emprego. O PS vai ser Governo e precisa, desde já, pensar nos critérios para depois falar sobre a matéria em coerência.
"O PS e o desemprego e a realidade – Bloco de Notas - David Dinis
Das
suspeições do PS, ficam 2 perguntas para daqui a uns meses: os estágios,
políticas públicas de emprego, vão acabar? E vão incluir e discriminar nas
estatísticas do INE emigrantes e estagiários?
O
INE publicou a última
análise trimestral do desemprego antes das legislativas. Vamos
rapidamente olhar para os dados e perceber o que há ali de bom e o que há,
ainda, de preocupante.
O
que é indiscutivelmente bom - É a tendência. Ao fim de um ano de saída da
troika – e portanto de alívio nas medidas mais duras de consolidação -, há mais
103 mil portugueses com emprego face ao (mau) trimestre anterior e mais 66
mil face ao mesmo período do ano anterior. Cruzando com os dados da
população desempregada, pode dizer-se que a tendência confere: menos 92
mil desempregados face a março, menos 108 mil face ao mês homólogo de 2014. As
discrepâncias só podem ser vistas ao milímetro.
Outros dados importantes: a descida do
desemprego acontece em todas as regiões do país (8,5% apenas no Centro), com
redução do trabalho a tempo parcial e do subemprego, há mais portugueses
com Ensino Superior com emprego (sendo estes os que estão menos afetados pelo
desemprego), também mais empregados em todas as faixas etárias (com uma
exceção, já lá vamos). Tudo isto com a população ativa a subir, ligeiramente,
no último trimestre.
Mas
há outros dados a reter, para não nos enganarmos: - O primeiro é que o segundo trimestre é, pelo
menos desde 2011, o melhor do ano, tendendo a ser corrigido depois. Isto não
invalida que a tendência esteja progressivamente melhor, mas convém ficar
atento aos dados mensais até às legislativas para ver como ela estabiliza.
A análise de fluxos que foi agora introduzida
ajuda a ver à lupa: ainda há muita gente a entrar no desemprego (103 mil
passaram para o desemprego, 144 mil para a inatividade num só trimestre). Mesmo
assim, e ao mesmo tempo, isto é compensado pelas entradas no emprego 351
mil pessoas – 174 mil vindas do desemprego, 176 mil da inatividade. Isto mostra que o grau de volatilidade do mercado de
trabalho é altíssimo, indiciando aquilo que adivinhávamos: as
empresas estão ainda com pouca liquidez para carregarem no pedal e puxarem pela
economia com investimento.
Há mais um indicador a mostrá-lo: os
dados em bruto do INE mostram uma subida muito grande dos contratos a prazo – mais 68 mil no homólogo, mais 50 mil
face ao trimestre anterior. Também há mais emprego sem termo (nos quadros), de
66 mil (homólogo) e 29 mil (trimestre). Mas a variação é realmente diferente e
ainda precária – pelo que a necessitar de confirmação.
Depois
vem a política: E é aí que a pintura estraga: quando ouço o
Governo dizer, sem se rir, que tem hoje menos desemprego do que há quatro anos
(em vez de falar de uma clara inversão de tendência, que já é bem bom); mas
sobretudo quando ouço vozes
respeitáveis do PS a
dizer que os dados estão “maquilhados” por causa da emigração e de um
“aumento brutal dos estágios”.
É aí que registo duas perguntas para
fazer ao PS daqui a dois meses, se e quando chegar ao Governo.
Primeira: os estágios, que são políticas públicas de emprego, vão acabar?
Segunda: quando o INE divulgar os primeiros dados respeitantes ao próximo
Governo, vão incluir nas estatísticas oficiais os dados dos emigrantes e dos
estagiários? Se a resposta for sim, encantado. Se for não, veremos o que
dirão nessa altura.
O PS anda há meses a cometer um erro
grande do ponto de vista político: alinhou um discurso como se o país estivesse
tão mau agora como estava no auge da crise em 2013. Entendamo-nos: nessa
altura, final do primeiro trimestre, havia 926 mil desempregados (e já muitos
tinham emigrado); hoje há 620 mil. Nem toda esta redução será real, certo. Mas
é difícil sustentar que nada disto tem a ver com uma normalização da economia
(que cresceu 0,9% em 2014 e vai crescer mais este ano), com as empresas e – sim
– com o papel que o Estado deve ter em empregar as pessoas. E havia, como
expliquei atrás, muito por onde o PS podia pegar, mesmo a olhar para estes
números.
Se não vão por mim, talvez possam ouvir
Carlos Silva, o secretário-geral da UGT (e dirigente socialista):
“Não vale a pena esgrimir os números oficiais. Para o bota-abaixo não
contem connosco”. Acho que a falar assim ganhavam mais votos.
5/agosto/2015. - (Este
artigo vai funcionar como o meu bloco de notas, atualizado até às eleições
legislativas. Os textos mais analíticos estarão com links aqui, mas
desenvolvidos aparte)."
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