Em 2040, daqui a 25 anos, seremos um pouco mais de 8,4 milhões. Como já escrevi, desde 1983 que não substituímos gerações. O fenómeno tem décadas, atravessou vários governos, mas nestes últimos quatro anos queda de natalidade superou a dos últimos vinte.
"Como chegámos aqui e como vamos sair: Portugal teve a 5ª maior perda de população no mundo
"Só há quatro países no mundo com perdas de população maiores no ano passado do que a de Portugal, em termos relativos. Baixa fecundidade, população envelhecida e mais gente a sair do que a entrar no país: eis o retrato que torna “praticamente impossível” inverter a tendência a curto prazo, explicam os especialistas
A população no mundo continua a crescer e num só ano, entre 2013 e
2014, contam-se mais 82,8 milhões de pessoas, segundo os dados do Banco
Mundial. Só que um olhar mais detalhado permite concluir que, em todo o mundo,
houve 24 países e territórios que perderam população. Entre eles está Portugal
– que regista a quinta maior perda populacional do mundo inteiro, em termos
relativos.
Porto Rico, Letónia,
Lituânia e Grécia são os únicos locais do mundo que tiveram uma variação de
população mais negativa que a de Portugal. Porto Rico – um estado associado e
dependente dos Estados Unidos da América – e a Letónia tiveram uma queda
superior a 1%. Em todos os restantes países, entre os quais está a Espanha,
Roménia, Ucrânia ou Japão, as perdas foram menos intensas. Grécia e Portugal
surgem com descidas aproximadas (-0,63% na Grécia e -0,57% em Portugal).
Em termos absolutos, Espanha
fica à frente com uma perda de 215 mil habitantes (-0,46%) e a seguir está o
Japão com menos 207 mil (-0,16%). No caso de Portugal, segundo os dados do
Banco Mundial, são menos 59 mil pessoas. Os números de população usados pelo
Banco Mundial baseiam-se em várias fontes estatísticas nacionais, europeias e
internacionais, têm em conta a população presente e não contam com os
refugiados que não estejam ainda com título permanente no país de destino.
Maria Filomena Mendes,
presidente da Associação Portuguesa de Demografia, considera “surpreendente,
mas de certo modo previsível” que Portugal tenha a quinta maior perda. “A
surpresa pode residir em termos apenas quatro países em que a perda de
população em termos relativos foi superior. Numa população de pouco mais de 10
milhões de habitantes, se ao valor deste saldo negativo acrescentarmos o número
de emigrantes temporários (que são contabilizados como residentes) encontramos
um “deficit” populacional anual muitíssimo significativo. Para além disso, o
acumulado dos últimos anos ganha ainda mais significado e relevância.”
PORTUGAL AOS
OLHOS DAS NAÇÕES UNIDAS
A perda de população em
Portugal não surge só no ano passado. O país surge entre as dez maiores perdas
de população entre 2010 e 2014 (-1,7%), segundo o Banco Mundial.
“Em Portugal
há um declínio da população total devido à baixa fecundidade: os nascimentos
são significativamente mais baixos que a mortalidade e o saldo migratório. O
saldo migratório é estimado como negativo neste período: em média, as pessoas
estão a sair do país”, explica Kirill Andreev, demógrafo da Divisão de
População das Nações Unidas e um dos responsáveis pelas projeções demográficas
publicadas pela organização internacional.
A estimativa é que Portugal
tenha 7,5 milhões de habitantes em 2100. E porquê? “A atual estrutura etária da
população e o nível de fecundidade abaixo do nível necessário para a renovação
das gerações [2,1 filhos por mulher] puxam a população para baixo”, alerta
Andreev.
Maria Filomena Mendes
completa o panorama demográfico. “Somos um país em acentuado declínio
demográfico, temos uma queda acentuada da natalidade num quadro já
anteriormente de declínio, o número de óbitos vem sendo superior ao número de
nascimentos e também nos últimos anos a imigração diminuiu enquanto a emigração
regista valores imprevisivelmente surpreendentes.”
E o que fazer para inverter
a situação? Para o demógrafo das Nações Unidas, o tempo necessário dependerá do
"sucesso do governo português em recuperar a taxa de fecundidade do país
para, no mínimo, o nível de renovação das gerações. O envelhecimento da
população continuará a aumentar no futuro, não vejo nenhuma forma de
contrabalançar isso. O governo terá de aumentar a idade da reforma para
conseguir assegurar as finanças públicas, a segurança social e o sistema de
saúde. A migração não vai ajudar a reverter essa tendência.”
Segundo Maria Filomena
Mendes, inverter o saldo negativo da população “é difícil e praticamente
impossível no curto prazo”. Resta, por isso, “criar condições de atração de
imigrantes e, simultaneamente, estancar a saída dos emigrantes (jovens,
qualificados e em idade de casar e de ter filhos) – ou, aumentar de tal forma a
imigração que compense as perdas devidas à emigração e à quebra da natalidade
(neste caso, colmatando o défice entre nascimentos e óbitos).”"
(Exp) RAQUEL ALBUQUERQUE e SOFIA MIGUEL ROSA
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