Debate sobre o Estado da Nação
O debate sobre o Estado da Nação foi o
momento que o governo escolheu para o autoelogio. Era natural que o
primeiro-ministro procurasse valorizar o trabalho realizado. E assim foi, mas
de forma tão intensa que se fixou no oásis e na manipulação do medo. Esqueceu a
realidade.
Ora, hoje mesmo (quarta-feira), um
estudo revela-nos que o nível de vida dos portugueses regrediu 25 anos,
situando-se em valores de 1990, 25% abaixo da média da União Europeia. O mesmo
trabalho, “Três Décadas de Portugal Europeu”, da Fundação Francisco Manuel dos
Santos, também sublinha que temos a taxa de emigração mais alta de toda
União Europeia.
Nem a teoria dos “cofres cheios” – de
dívidas – ilude o facto de termos aumentado a dívida pública em mais de
quarenta pontos, sem que se registasse investimento, estímulo fiscal às
famílias e às empresas, bem como ao financiamento e internacionalização da
economia.
A coreografia do desemprego – superior
ao de 2011- tenta evitar a verdade dos factos. E foi por aqui que também
questionei o primeiro-ministro sublinhando a realidade nacional e a do distrito
de Viseu.
Pedi-lhe, por exemplo, que explicasse
por que motivo esconde das estatísticas os 160 mil temporários (estágios e
formação), os 260 mil inativos operacionais ou cerca de 400 mil emigrados. Não
explicou. Refugiou-se nos critérios do INE os quais nem sempre lhe servem, como
se sabe.
Pode ser a tentativa de
esmagamento coreográfico da verdade, mas não do sentimento das famílias que
sabem bem que das dificuldades dos seus, dos que estão e dos seus partiram, e
que o nível de incumprimento também aumentou.
No nosso distrito, em maio, como referi
ao primeiro-ministro, segundo os dados oficiais, o desemprego aumentou 30%
nestes quatro anos, sendo que entre os jovens, com idade inferior a 25 anos,
essa percentagem atingiu os 62%.
Se não esquecermos que a maioria
absoluta de todos eles, 58%, já não tem qualquer apoio, facilmente perceberemos
o drama social, tantas vezes envergonhado, que atinge essas mesmas famílias. E
não têm outra oportunidade de trabalho que não seja fora do seu país. Ora a
emigração, como referiu Elvira Fortunato no 10 de Junho, “pode ser uma opção,
mas nunca uma obrigação”.
Finalmente, a manipulação da política do
medo pela maioria resume-se ao “connosco o oásis, com os outros o abismo”. Tudo
muito visto e gasto.
PSD/CDS esquecem-se de que o PS foi
julgado há quatro anos e que em outubro próximo o que estará em juízo serão os
quatro anos deste governo. E sobre estes a maioria ficou-se pelo oásis como se
todos nós estivéssemos distraídos.
DV 2015.07.08
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