sexta-feira, 10 de julho de 2015

(Opinião DV) Debate sobre o Estado da Nação

Debate sobre o Estado da Nação

O debate sobre o Estado da Nação foi o momento que o governo escolheu para o autoelogio. Era natural que o primeiro-ministro procurasse valorizar o trabalho realizado. E assim foi, mas de forma tão intensa que se fixou no oásis e na manipulação do medo. Esqueceu a realidade.
Ora, hoje mesmo (quarta-feira), um estudo revela-nos que o nível de vida dos portugueses regrediu 25 anos, situando-se em valores de 1990, 25% abaixo da média da União Europeia. O mesmo trabalho, “Três Décadas de Portugal Europeu”, da Fundação Francisco Manuel dos Santos,  também sublinha que temos a taxa de emigração mais alta de toda União Europeia.
Nem a teoria dos “cofres cheios” – de dívidas – ilude o facto de termos aumentado a dívida pública em mais de quarenta pontos, sem que se registasse investimento, estímulo fiscal às famílias e às empresas, bem como ao financiamento e internacionalização da economia.
A coreografia do desemprego – superior ao de 2011- tenta evitar a verdade dos factos. E foi por aqui que também questionei o primeiro-ministro sublinhando a realidade nacional e a do distrito de Viseu. 
Pedi-lhe, por exemplo, que explicasse por que motivo esconde das estatísticas os 160 mil temporários (estágios e formação), os 260 mil inativos operacionais ou cerca de 400 mil emigrados. Não explicou. Refugiou-se nos critérios do INE os quais nem sempre lhe servem, como se sabe.
Pode ser a tentativa  de esmagamento coreográfico da verdade, mas não do sentimento das famílias que sabem bem que das dificuldades dos seus, dos que estão e dos seus partiram, e que o nível de incumprimento também aumentou.
No nosso distrito, em maio, como referi ao primeiro-ministro, segundo os dados oficiais, o desemprego aumentou 30% nestes quatro anos, sendo que entre os jovens, com idade inferior a 25 anos, essa percentagem atingiu os 62%. 
Se não esquecermos que a maioria absoluta de todos eles, 58%, já não tem qualquer apoio, facilmente perceberemos o drama social, tantas vezes envergonhado, que atinge essas mesmas famílias. E não têm outra oportunidade de trabalho que não seja fora do seu país. Ora a emigração, como referiu Elvira Fortunato no 10 de Junho, “pode ser uma opção, mas nunca uma obrigação”.
Finalmente, a manipulação da política do medo pela maioria resume-se ao “connosco o oásis, com os outros o abismo”. Tudo muito visto e gasto.
PSD/CDS esquecem-se de que o PS foi julgado há quatro anos e que em outubro próximo o que estará em juízo serão os quatro anos deste governo. E sobre estes a maioria ficou-se pelo oásis como se todos nós estivéssemos distraídos.
DV 2015.07.08

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