Manuela Ferreira Leite
é taxativa: os países europeus - e
não só a Grécia - não vão conseguir pagar as suas dívidas e esse problema deve
ser pensado já pela União Europeia.
"Para que fique registado: nem o Tratado Orçamental é exequível, nem o pagamento das dívidas dos
países é pagável e alguma coisa vai ter de ser feita"
As instituições
europeias terão, por isso, de deixar a
inflexibilidade e o "tabu" de lado, na opinião da ex-ministra das
Finanças, que criticou a diretora-geral do FMI por só agora mudar de postura em
relação ao problema, defendendo a reestruturação da dívida da
Grécia.
"Provavelmente algum efeito de um
telefonemazinho do Obama fez a senhora Lagarde mudar de
opinião de um dia para o outro"
O problema coloca-se,
defendeu, para todos os países e não só para a Grécia. O futuro de Atenas tem sido sucessivamente adiado e
há nova cimeira no domingo.
No seu espaço de habitual comentário na TVI24, Ferreira Leite lamentou ainda o
"verdadeiro desastre" que o país está a passar.
"O resultado do referendo é uma
resposta de desespero. Eu estava à espera de
ponderação da UE que pensasse que a receita que estamos a aplicar não é
suscetível de ser aplicada a todos os países, que não deve haver
inflexibilidade total nessa aplicação".
Problema pior e com
consequências "escandalosas" para o projeto
europeu, segundo a ex-ministra, é o que a Hungria decidiu fazer: a
construção de um muro com quatro metros de altura e 175 quilómetros para se
isolar da Sérvia.
"É uma coisa gravíssima e um
escândalo. Um país da UE, tem já aprovação do parlamento para começar
a construir um muro... A Europa está a permitir muros? Isto passou a ser um
conjunto de fortalezas. Isto admite-se e não parece que haja grande escândalo.
Está tudo calado e é muitíssimo mais grave do que qualquer negociação da dívida"
Entrevista de António Costa
Já em reação à entrevista de António Costa na TVI, Ferreira
Leite disse que não viu "grandes compromissos,
nem coisas muito objetivas, nem muito definidas", mas isso até pode ser positivo.
"Acho bastante cauteloso, sem se
comprometer com determinado tipo de coisas que pensa que pode não vir a cumprir. Água mole em pedra dura tanto
da bate até que fura... Antigamente faziam-se muitas promessas e chegava-se ao
governo e fazia-se exatamente o contrario. A chamada política de verdade começa
a dar frutos"
Sobre ideia deixada
pelo líder do PS de fazer os mais ricos pagar mais IRS, sem ter estabelecido um patamar, a ex-ministra
das Finanças diz que quer ver para crer: "Não
acredito nada numa frase nessas sem saber que patamares.Ttalvez mais do que
alterar taxas é alterar escalões".
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