Ego a mais, vergonha a menos
Este podia ser um texto sobre as inestimáveis
contribuições de Passos Coelho e de Costa para o acordo obtido na Comissão do
Eurogrupo. Mas não é. Vou ocupar-me de casos mais graves e, sobretudo, mais
perniciosos de excessos de ego.
Começo por Wolfgang Schäuble. Irrita-me quando
lhe chamam nazi, porque ele não o é, e isso resulta na desculpabilização do
nazismo. Odeio quando sublinham que anda numa cadeira de rodas — nunca o fariam
se ele fosse de esquerda. Mas não há dúvida de que o ego de Schäuble é excessivo.
Assim como a falta de vergonha. Depois de derrotado na sua tese do ‘Grexit’,
não demorou dois dias a voltar ao ataque, dizendo ser essa a melhor solução. O
ministro pode pensá-lo, mas escusa de o dizer, porque está a deitar gasolina
numa fogueira.
Passo ao par de Schäuble na contradança, outro
homem cujo ego monumental lhe tolhe a lucidez: Varoufakis. Também ele pode
achar que o acordo é um desastre, mas, uma semana depois de sair do Governo a
dizer que apoiaria sempre Tsipras, fez-lhe o “grande favor” de votar contra
Tsipras e o seu sucessor Tsakalotos no Parlamento de Atenas. Um radical atrai
outro. Estou convicto de que Schäuble e Varoufakis podem construir uma bela
amizade, se repararem melhor que a sua ideia central parece ser destruir o euro
e a Europa.
Mas não se pense que é só pelo estrangeiro que
há este estilo de egos que matam. Por cá temos Ricardo Salgado. A sua tese é
que o BES desabou por culpa do governador do Banco de Portugal e do Governo.
Estou convencido de que, se ele procurar melhor, a imprensa no geral, alguns
jornalistas no particular e talvez um extraterrestre ou outro possam também ser
responsabilizados pela ruína daquele que pretendia ser o mais sólido banco do
país. Responsabilidades próprias? Nenhumas! Estaria tudo sob controlo se não
houvesse reguladores e governos.
Mas o prémio desvergonha do mês vai para a ex-membro da ERC e professora de jornalismo Estrela Serrano, que criticou a mulher de Passos por esta ter aparecido sem cabelo. Laura Ferreira tem um cancro e sofre as consequências do tratamento. Estrela não foi a única a achar que se tratava de uma mera jogada eleitoral, mas é a mais responsável. Várias pessoas, com destaque para a jornalista Ana Sá Lopes, já lhe responderam muito bem. Haja piedade daqueles cuja ânsia de protagonismo os impede de pensar e remetamo-nos ao silêncio!
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