A gota
de água
As eleições legislativas tomaram conta da
agenda política, pese embora o esforço de terceiros para lhes colocar à frente uma
discussão sobre as presidenciais.
É tempo de contraditório. O Presidente da
República fala em consensos necessários, mas para que pudessem existir seria
fundamental disponibilidade e vontade de todos os protagonistas políticos. E o
Governo não está recetivo. Diz tudo e o seu contrário. Procurarei exemplificar.
O parlamento aprovou uma lei inspirada na
proposta feita por António Costa nas jornadas parlamentares do PS em Gaia. Ia
no sentido de um amplo escrutínio, nomeadamente no parlamento, e um consenso
alargado para a indigitação do próximo governador do Banco de Portugal.
A ideia foi bem recebida e rapidamente materializada
em lei, ainda que com algumas alterações. Tudo parecia correr bem, mas,
repentinamente, o país foi surpreendido com a decisão unilateral do
primeiro-ministro, ratificada pela maioria que o apoia, de reconduzir no cargo
o atual governador.
Passos Coelho não falou com António Costa.
Optou por lhe comunicar a decisão. O PS não gostou. Ninguém gostou. Os
comentadores mais conhecidos também não. E todos os do PSD, derramando ou não
lágrimas que não me turvam a vista, criticaram o primeiro-ministro e a sua
própria maioria. Classificaram a atitude como erro político grosseiro. E foi.
Sabíamos já ter sido assim nas várias
renegociações do memorando, nas propostas de orientação estratégica
apresentadas em Bruxelas, até mesmo na malograda reforma do Estado (um mero
programa de aumento de impostos) ou no corte definitivo de 600 milhões de euros
nas reformas. Tudo nas costas do PS e do Parlamento.
Portanto, bem pode o Presidente da República repetir
os seus apelos, mesmo com a “nova alma” que nestes dias lhe nasceu da
perseverança e trabalho das gentes do Douro, a norte do distrito de Viseu,
porque o Governo não tem emenda. O copo transbordou. Foi a gota de água!
José
Junqueiro - JC 2015.05.31
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