sexta-feira, 5 de junho de 2015

(Opinião) A gota de água

A gota de água 

As eleições legislativas tomaram conta da agenda política, pese embora o esforço de terceiros para lhes colocar à frente uma discussão sobre as presidenciais.
É tempo de contraditório. O Presidente da República fala em consensos necessários, mas para que pudessem existir seria fundamental disponibilidade e vontade de todos os protagonistas políticos. E o Governo não está recetivo. Diz tudo e o seu contrário. Procurarei exemplificar.
O parlamento aprovou uma lei inspirada na proposta feita por António Costa nas jornadas parlamentares do PS em Gaia. Ia no sentido de um amplo escrutínio, nomeadamente no parlamento, e um consenso alargado para a indigitação do próximo governador do Banco de Portugal.
A ideia foi bem recebida e rapidamente materializada em lei, ainda que com algumas alterações. Tudo parecia correr bem, mas, repentinamente, o país foi surpreendido com a decisão unilateral do primeiro-ministro, ratificada pela maioria que o apoia, de reconduzir no cargo o atual governador.
Passos Coelho não falou com António Costa. Optou por lhe comunicar a decisão. O PS não gostou. Ninguém gostou. Os comentadores mais conhecidos também não. E todos os do PSD, derramando ou não lágrimas que não me turvam a vista, criticaram o primeiro-ministro e a sua própria maioria. Classificaram a atitude como erro político grosseiro. E foi.
Sabíamos já ter sido assim nas várias renegociações do memorando, nas propostas de orientação estratégica apresentadas em Bruxelas, até mesmo na malograda reforma do Estado (um mero programa de aumento de impostos) ou no corte definitivo de 600 milhões de euros nas reformas. Tudo nas costas do PS e do Parlamento.
Portanto, bem pode o Presidente da República repetir os seus apelos, mesmo com a “nova alma” que nestes dias lhe nasceu da perseverança e trabalho das gentes do Douro, a norte do distrito de Viseu, porque o Governo não tem emenda. O copo transbordou. Foi a gota de água!

José Junqueiro - JC 2015.05.31

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