sexta-feira, 20 de março de 2015

(Opinião) O comboio descarrilou novamente!

Esta semana, num artigo do Público, fez-se a análise da decisão do Governo em construir de raiz uma ligação ferroviária entre Aveiro e Vilar Formoso com estação em Viseu. Corresponde a um entendimento tardio dos autarcas PSD das sedes dos distritos da Guarda, Viseu e Aveiro.
Tardio, porque já há quatro anos o anterior governo assumira essa decisão e mandara fazer estudos para a primeira fase, a do corredor prioritário “Aveiro, Viseu e Celorico”. Portanto, nada de novo a não ser a inação da maioria PSD/CDS.
Refere o artigo que O Governo candidatou esta linha ao mecanismo Connecting Europe Facility (CEF) e ao fundo de coesão, mas o PÚBLICO apurou que dificilmente a sua construção poderá avançar antes de 2020, quando termina o actual quadro comunitário de apoio. É que a linha de alta velocidade Aveiro – Salamanca, que foi anunciada na cimeira ibérica da Figueira da Foz em 2003, pouco avançou no papel (…)porque esta maioria congelou tudo, como é público.
Por outro lado, ao contrário do que sempre defendi veementemente, a linha da Beira Alta caiu no esquecimento e há um investimento habilitante que tem de ser feito, independentemente de outras decisões.
Há pelo menos três grandes constrangimentos que impõem velocidades de 10 kms/hora, para além de uma ausência de estratégia para um excessivo número de paragens. Em algumas, por vezes, não entra nem sai ninguém. Fala a experiência. O comboio pára como se de um ritual se tratasse. Por exemplo, entre Mangualde e Sta Apolónia são 16. Assim não há horário que resista, nem competitividade que se alcance.
Acresce ainda, lembra-se no mesmo artigo, que “ (…) a própria modernização da linha da Beira Alta que ocorreu nos anos 80 já tinha como premissa que por ela circulariam diariamente dezenas de comboios de mercadorias, o que nunca veio a verificar-se. A quota de mercado do modo ferroviário no transporte de mercadorias entre Portugal e Espanha é de apenas 4%. O resto é transportado por camião”.
Percebe-se também que esta “música” do corredor ferroviário terá de ser tocada a dois e, por isso, é fundamental “(…) recordar a cimeira da Figueira da Foz de 2003: além de um TGV Aveiro-Salamanca ficou acordado que nuestros hermanos electrificariam a linha convencional até Vilar Formoso. Mas, 12 anos depois, continua tudo na mesma. Todos os dias os comboios chegam à fronteira rebocados por uma locomotiva eléctrica portuguesa que é substituída por uma máquina a diesel espanhola a fim de poder prosseguir viagem em Espanha.
Em conclusão, o Governo, como tantas vezes escrevi e afirmei publicamente, andou a ganhar tempo para justificar a ausência de qualquer obra, tudo com a cumplicidade dos autarcas do PSD. Em ano eleitoral temos mais um clássico: prometer em quatro meses o que não se quis fazer em quatro anos. O comboio descarrilou novamente!

DV 2015.03.1

Sem comentários:

Enviar um comentário