sábado, 6 de setembro de 2014

(Opinião - Sol) O tempo é de soluções e não de proclamações."



"A crise que vivemos está longe de chegar ao fim. Não se trata apenas de más políticas do governo, mas do seu alinhamento consentido com as regras europeias de um núcleo cada vez mais pequeno e poderoso.
Wolfgang Schäuble, o ministro alemão das Finanças, no início deste verão, disse querer mais competências para Bruxelas. É a velha ideia diminuir, ainda mais, a soberania dos países membros, criando uma “Europa política” em que uns seriam mais iguais do que outros.
Foi este o estado de alma que transmitiu em entrevista à Der Spiegel e que rima com a ideia de Angela Merkel de que a crise europeia se resolverá com mais Europa, com mais Alemanha, entenda-se, e menos soberania dos estados membros.
Isto explica o seu recente “puxão de orelhas” a Mário Draghi por este ter chamado a atenção para a cumplicidade necessária entre as políticas monetária e orçamental como forma de promover o crescimento e, com base neste, assegurar a estabilidade do “Pacto”.

Isto só é novo por ter sido afirmado pelo presidente do BCE. Basta recordar a reflexão de Emanuel dos Santos, ex-secretário de Estado do Orçamento de Sócrates, no seu livroSem Crescimento Não Há Consolidação Orçamental – Finanças Públicas, Crise e Programa de Ajustamento” para se perceber que apenas temos perdido tempo.

Merkel entende que não e que a austeridade e o constrangimento provocado nas economias dos diferentes países é uma solução. A chanceler ignora, perigosamente, a história e que as crises iniciadas na periferia acabaram sempre no coração da Alemanha. Um erro para um país que tem estimulado fantasmas do passado, que conheceu um crescimento marginal, numa Europa que acaba de acusar estagnação económica
A gravidade do contexto é ainda maior. Recentemente, no Financial Times, o mesmo Wolfgang Schäuble defende a tese um comissário europeu para o Orçamento, com poder de veto sobre os orçamentos nacionais. Era o que mais faltava.
É neste contexto que, durante os últimos três anos, António José Seguro tem concentrado, na vertente externa, os melhores esforços para ajudar a influenciar uma mudança na Europa. Sabe que sem isso, desenvolvimento económico e social, tudo será mais difícil!
Maior intervenção do BCE, que já hoje se verifica, mutualização da dívida, aumento de capital do BEI, já conseguido, mutualização dos subsídios de desemprego, acima dos 11%, um Tratado para o Crescimento e o Emprego ou a emissão de eurobonds foram algumas medidas concretas defendidas pelo secretário-geral do PS. O governo rejeitou-as, desde início, mas a força das circunstâncias obrigou a Europa a adotar algumas com os benefícios conhecidos para o nosso país, nomeadamente na baixa da taxa de juro e no financiamento da economia.
Num tempo em que o PS se viu confrontado com a escolha do seu candidato a primeiro-ministro, num momento tão inesperado como surpreendente, é bom perceber que o debate é público e que interessa aos portugueses conhecer as diferenças substantivas entre os dois protagonistas. Quais são as outras alternativas, na discussão interna? Todos queremos mudar a Europa. Mas como se muda? E se não mudar? A diferença mais esperada é a do conteúdo que não a da forma. As alternativas de António Seguro e do PS são, pois, conhecidas.  Falta a outra parte. O tempo é de soluções e não de proclamações."

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