(CRISTINA FIGUEIREDO) - O último dos três frente a frente
entre António José Seguro e António Costa foi o melhor. A cinco dias das
primárias que hão de ditar qual deles vai disputar as próximas legislativas,
não houve tempo para "mas, mas"
No meio jornalístico todos conhecemos bem o
significado da expressão "pressão do fecho". É quando se aproxima a
hora de o jornal ir para a gráfica e deixa de haver tempo para continuar a
"pentear a prosa", há que escrever à velocidade da luz e, ainda
assim, alinhar ideias com nexo. Paradoxalmente, é desta pressa que, às vezes,
resultam os melhores textos.
Foi o que aconteceu na noite desta terça-feira com os dois candidatos a
candidatos a primeiro-ministro pelo PS. A cinco dias das primárias, sem mais
nenhuma oportunidade para fazer passar a sua mensagem em simultâneo aos mais de
duzentos mil potenciais eleitores que podem ir votar no domingo, António José
Seguro e António Costa travaram na RTP o melhor (também porque o mais
equilibrado) dos três frente a frente desta campanha interna.
A conversa começou amena. Sobre o país e os problemas aos quais é preciso
atribuir prioridade na resolução, Seguro e Costa falam em uníssono: criar
emprego, diz um, combater o desemprego, diz o outro; apostar na
reindustrialização, garante o primeiro, resolver a asfixia das empresas, propõe
o outro. Repor os cortes nos rendimentos de reformados e pensionistas: estamos
em condições disso, afirma um, é possível e necessário, sublinha o outro.
As divergências mostraram-se apenas quando o debate, contra a vontade do
moderador, se voltou para o passado e, num remake do primeiro debate,
os resultados do PS nas europeias de junho vieram de novo à colação. Com o
líder do PS a acusar novamente o adversário de ter provocado esta crise e este
novamente a recorrer a um gráfico para sustentar a teoria de que, nas
sondagens, é ele que os portugueses preferem.
A partir daí foi um verdadeiro frente a frente, com troca constante de
argumentos que só demonstraram aos simpatizantes e militantes do PS, se dúvidas
ainda houvesse, que o que está em causa nas primárias não é tanto uma opção
entre os projetos, mas entre as pessoas.
A crispação subiu de tom a propósito da redução do número de deputados que
Seguro propôs na semana passada. Costa, repetindo na cara do advesário o que
tem vindo a dizer em todos os comícios, acusou o secretário-geral do PS de ter
"cedido à argumentação populista". Seguro devolveu o mimo:
"Costa é o candidato do status quo, não quer a mudança".
E subiu ainda mais quando, a propósito do "partido invisível" que
diz haver na sociedade, Seguro deu rosto, pela primeira vez, "às pessoas
associadas a esses interesses que apoiam António Costa", identificando o
ex-administrador do BES Nuno Godinho de Matos, porta-voz dos fundadoes do PS
que apoiam Costa, como representando "a promiscuidade total entre o
sistema financeiro e os partidos".
Costa não gostou: "Se tu tivesses tido com o Governo um décimo da
agressividade que tens para comigo, este Governo já tinha caído". E
questionou-o olhos nos olhos: "O que é que tu fizeste de concreto na vida
para combater a corrupção?", antes de arrolar as várias iniciativas nesse
sentido que tomou enquanto ministro da Justiça.
A escalada teria prosseguido, não fosse a "pressão" o moderador
João Adelino Faria para "fechar" o programa.
Domingo, a escolha é
entre quem, segundo um, está "desde pequenino" a sonhar ser
secretário-geral do PS e quem, segundo o outro, não teve "a coragem"
de avançar quando "era difícil"; entre quem oferece "um projeto
de mudança" e quem propõe "uma liderança renovada e mobilizadora".
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