Todos os presidentes de câmara do distrito do Porto aguardavam António
Seguro para lhe manifestar, de viva voz, o seu apoio. Cerca de 1200 pessoas,
segundo a comunicação social, em pé ou sentadas, encheram a Alfândega. A indesejada e inoportuna crise interna no PS iniciou, assim, o caminho da clarificação. O trabalho que se transcreve, do jornalista Álvaro Vieira, resume o que no seu ponto de vista se passou.
"Secretário-geral afirma que
não quer "o poder pelo poder" nem para “distribuir benesses por
apaniguados”. E nota que não ouve nada de diferente das suas propostas vindo do
lado de António Costa.
António José Seguro proclamou que
depois deste sábado “nada ficará como antes no PS” e é capaz de ter razão. Sem
desfazer da proverbial capacidade de regeneração dos partidos de poder, com que
ultrapassam ressentimentos e reconfiguram alinhamentos, a verdade é que os
discursos que se ouviram este sábado na Alfândega do Porto parecem susceptíveis
de abrir feridas difíceis de sarar entre os socialistas. Perante 600 pessoas
sentadas e outras tantas em pé, que lhe dispensaram uma recepção entusiástica,
António José Seguro desferiu ataques duros a António Costa, numa intervenção em
que as palavras “valores”, “solidariedade”, “lealdade”, “interesses”, “benesses”,
“apaniguados” e “ideias” soaram duras como pedras.
Também
anunciou medidas, como a apresentação, até Setembro, de um projecto de redução
do número de deputados – algo a que o PS sempre se opôs no passado e que Costa
já considerou uma proposta “populista” -, e de adopção, no PS, de um método de
escolha dos seus parlamentares em lista aberta (com cada eleitor a ordenar os
deputados por ordem de preferência) ou por círculo uninominal, a par da
imposição, a cada candidato a deputado do partido, de um código de ética de
subscrição obrigatória. E esta foi a única alusão, remota, ao grupo parlamentar
do PS, ainda escolhido por José Sócrates, onde um abaixo-assinado contra as
primárias abertas de 28 de Setembro, propostas pelo secretário-geral, conta com
45 em 74 assinaturas possíveis.
aplaudia e comentava que Costa não reunira tanta gente na semana passada, na apresentação da “base programática” da sua candidatura à liderança do PS, que também decorreu no Porto.
Seguro seguiu
depois para a defesa da ideia de que as propostas que apresentou nos últimos
três anos - nem sempre com grande adesão, admitiu -, nomeadamente as de que
urgia combater a corrupção, abrir os partidos à sociedade civil, criar emprego
e exigir outra atitude da Europa face a Portugal, eram hoje prioridades
reconhecidas por todo o país. “Isto foi conseguido graças a vós”, partilhou.
“Como deitar
então fora estes anos de trabalho?”, prosseguiu, lembrando que o PS obteve
vitórias no Tribunal Constitucional e nalgumas instâncias europeias. Bastou que
o BCE avisasse os mercados e especuladores de que defenderia o euro, para que
Portugal conseguisse taxas de juro mais baixas, exemplificou.
“Tínhamos as
prioridades no sítio certo”, reforçou o secretário-geral, insistindo que o seu
projecto para o PS “não visa o poder pelo poder, para distribuir benesses pelos
apaniguados”. “Nem os portugueses aceitariam isso”, avisou. “Na política, como
na vida, não vale tudo”, exclamou, garantindo que o seu projecto assenta num
compromisso “ético”.
Sem nomear
António Costa, observou que “há regras de convivência num órgão democrático” e
que é “natural” que quem quer ser líder se apresente, “como fez Francisco Assis
[cuja lealdade elogiou e que também discursou em defesa de Seguro] há três
anos”. “Ninguém mais se chegou à frente. Faltavam quatro anos para as
legislativas e o PS vinha da sua maior derrota de sempre”. “Nessa altura”,
desenvolveu, “lembro-me de amigos
dizerem ‘Não vás agora, para seres queimado’. Mas como é que alguém pode virar as costas ao seu partido no momento mais difícil?”
dizerem ‘Não vás agora, para seres queimado’. Mas como é que alguém pode virar as costas ao seu partido no momento mais difícil?”
Seguro também
recordou que, no ano passado, quando Costa admitiu disputar-lhe a liderança,
dispôs-se, “sem hesitação”, a antecipar o congresso. Costa acabou por recuar.
“Mas agora? Quando não estava aberta nenhuma disputa pela liderança? Só porque
já é apetecível o poder? Quando já há a certeza de que o PS ganha as próximas
legislativas?”, indignou-se, para arrancar mais uma ovação.
“Portugal não
precisa de um primeiro-ministro de ocasião. Precisa de um líder que avance nos
momentos difíceis”, disparou Seguro, acrescentando que a lealdade e a
solidariedade são valores que fazem parte da matriz do PS. “Se não os
conseguimos praticar cá dentro, como vamos querer que os portugueses acreditem
que os vamos praticar no país?”
António José
Seguro recordou ainda que venceu as eleições regionais dos Açores, as
autárquicas e as europeias e anunciou outra medida: uma proposta de lei para
reforçar as incompatibilidades dos titulares de cargos políticos (por sinal,
matéria recentemente objecto de iniciativas legislativas de PCP e BE que o
grupo parlamentar do PS chumbou, votando ao lado da maioria PSD/CDS). “Quem
tiver dúvidas, faça um favor à política e ao país e fique-se pelos negócios”,
desafiou."
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