O
apelo ao diálogo, nas cerimónias do 10 de Junho, feito pelo Presidente da
República em nome de um bem maior, o de Portugal, teve oportunidade objetiva.
Cabe perguntar, neste contexto, por que motivo é tão difícil que esse diálogo
aconteça? A resposta está na ausência de sinceridade e na rudeza do discurso.
Houve
falta de sinceridade quando o governo fez sucessivas revisões do memorando de
entendimento no total desconhecimento da Assembleia da República, tal como
aconteceu com o DEO (Documento de Estratégia Orçamental) e agora se repete com
a carta de compromisso feita com a Troika, documento que se mantém oculto.
Estas
atitudes resumiram-se apenas a impulsos de austeridade, avulsos, plenos de
iniquidade, aplicada sempre aos mesmos e muito para além do esforço limite das
famílias. Foi assim, também, com a pseudo "Reforma do Estado" que
mais não é do que um outro conjunto de cortes, alguns dos quais à margem da
lei, chumbados pelo Tribunal Constitucional. Hoje esta realidade é também publicamente
reconhecida.
A
rudeza do discurso está plasmada nos ataques dirigidos à oposição em geral e ao
PS em particular. É difícil, assim, criar espaços de abertura ao diálogo. Grave
ainda é o facto do discurso da maioria se dirigir, por exemplo, com inusitada
violência aos juízes do Tribunal Constitucional, que não às suas decisões, mas
enquanto pessoas e titulares de um órgão de soberania.
Insinuar
falsamente, uma deputada do PSD, que a própria maioria tinha feito a indicação
de juízes com base num acordo político prévio e que estes, afinal, recusaram
entregar as suas consciências e, por isso, deixaram de ter condições para
continuarem funções, é gravíssimo.
E o
PSD fez mais, ao ameaçar os juízes com sanções jurídicas, penais. Quer dizer,
se não vivêssemos em democracia a maioria não só ganharia o direito, da
"antiga senhora", para despedir juízes como para os sancionar
penalmente.
Posto
isto, à falta de sinceridade e rudeza no discurso, fica mais uma preocupação, desta
vez atinente às afirmações da ministra das Finanças. Veio dizer que,
eventualmente, o Estado português estaria em condições de dispensar a última
tranche da Troika, cerca de 2,6 mil milhões de euros. Não me admira, porque
hoje é pública a existência de um plano cautelar interno superior a 25 mil
milhões de euros. E é igualmente público que essa realidade nos custou, só o
ano passado, cerca de 500 milhões de euros em juros.
O
que me admira é que se dispense a última tranche da Troika, por excesso de
liquidez, mas não se dispensem os portugueses em geral, e as famílias em
particular, de mais austeridade quando essa liquidez já não existe entre elas,
nem tão pouco para as coisas mais essenciais do dia a dia. Pelo contrário, o
que o primeiro-ministro anunciou é a necessidade de mais austeridade. Assim,
pergunta-se, ao Presidente da República, qual é o diálogo possível?
DV
2014.06.11
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