Nos dias
que correm, em política, um mês é
uma eternidade. A nossa vida pública ilustra este facto muito
bem. E não é só em Portugal. Na Europa e no resto do
mundo as notícias confirmam esta realidade.
Portanto, prever 2014 é um exercício
pleno de incertezas, mas nada como um bom desafio. Serão três
os momentos mais relevantes: eleições europeias, fim do atual programa
de assistência e novo quadro comunitário de apoio.
Comecemos
pelo segundo. O governo vai atingir o final do ano com um défice
em linha com a sua revisão mais recente ou mesmo mais baixo.
Tudo depende da decisão política da "Troika" em
considerar, ou não, para o défice
os 400 milhões injetados no Banif, bem como a receita irrepetível
da regularização, sem coima, dos impostos devidos ao
Estado.
O modo
como será atingido não é indiferente para o futuro como se verá.
A posterior existência de um programa cautelar ou de uma
alternativa equivalente mobilizará o debate político,
porque a saída da "Troika" não corresponde à saída
da austeridade. Pelo contrário, a austeridade será
ainda mais reforçada. O problema de base manter-se-á:
um caminho errado que levou à saída do ex-ministro Vitor Gaspar e que
impede um crescimento sustentado.
No que
respeita ao primeiro momento, o das eleições europeias, a atual coligação
no poder concorrerá em lista conjunta. Tentará,
assim, esconder a punição individual, previsível,
que os respetivos partidos viriam a sofrer.
O que
estará em causa é saber se o PS, sozinho, terá
mais votos do que a coligação e se as pessoas, pelo nível
de afluência às urnas, deram conta de que, afinal,
ajudar a remover a direita europeia é votar na qualificação
das suas vidas no seu próprio país. Creio que o PS ganhará
essas eleições consolidando o seu reencontro com a confiança
maioritária que os portugueses
têm manifestado nos sucessivos estudos de opinião.
Importa,
ainda, refletir sobre a resposta do governo aos problemas das pessoas:
rendimentos, emprego, acesso à saúde, educação e
políticas de solidariedade social. Em meu entender, pelo que
acima referi, o governo vai insistir na redução do rendimento disponível
das pessoas, das famílias, como caminho para a diminuição
da despesa. Continuará, portanto, a ser infiel às
promessa eleitorais que o conduziram ao poder. E é nesse contexto que aumentará
a carga fiscal, acompanhada, na saúde e educação,
por um desinvestimento continuado, tal como temos vindo a assistir nas política
de solidariedade social.
Finalmente,
o novo quadro comunitário de apoio poderá
ser um instrumento mobilizador para o investimento e a economia. Para tanto,
está criado um desafio que exige ao governo definição
de objetivos estratégicos, celeridade e simplificação
de procedimentos, bem como visão conducente a uma política fiscal amiga das empresas, com
apoios à sua tesouraria e à internacionalização
da economia.
É
decisivo que o governo procure ouvir melhor as propostas do PS, tal como
aconteceu agora em matérias de que relevo a diminuição
do IRC e a eliminação do aumento de 75% no pagamento
especial por conta. Não
vejo, no entanto, grandes sinais do governo para que esse entendimento
indispensável seja conseguido. Basta recordar que o próprio
primeiro-ministro disse não precisar do PS para apoiar um
eventual plano cautelar, afirmação que apanhou de surpresa todo o país,
suscitando mesmo a crítica dos comentadores mais alinhados e
indefetíveis do governo.
Em síntese,
2014 terá a mudança decorrente das eleições
europeias, a oportunidade do quadro comunitário de apoio, mas também
a continuidade de uma política com base em programas intensos de
austeridade. A destruição de emprego esmagará
a criação líquida de postos de trabalho e a
corrente de emigração, sobretudo da geração
jovem, mais qualificada de sempre continuará. Em 2014 continuaremos, pelo menos,
como em 2013.
2013.12.30
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