quarta-feira, 3 de abril de 2013

Ricardo Junqueiro -" Depois de Sebastião" - Autoridade da Cconcorrência


Ricardo Junqueiro
O Conselho da Autoridade da Concorrência (AdC) terminou o mandato de 5 anos para que foi nomeado no final do mês de março. Ao que tudo indica, Manuel Sebastião, atual presidente deste órgão, não deverá ser reconduzido no cargo.
Em 2008, Manuel Sebastião transitou do Banco de Portugal para a AdC. Conhecido pela discrição, Sebastião pareceu uma escolha sensata depois de 5 anos em que, liderada por Abel Mateus, a AdC esteve muitas vezes no olho do furacão de vários dossiers que agitaram a vida económica nacional e em que alguns acusaram a instituição e o seu presidente de então, justa ou injustamente, de excesso de mediatismo e de nem sempre ter sido (ou parecido) tão imparcial quanto se exige a um regulador independente. No entanto, tinha, como Abel Mateus, um ‘handicap': era um desconhecido do meio.
Sebastião procurou arrumar a casa e pacificar a instituição e, até certo ponto, pode dizer-se que foi bem-sucedido. Além do contributo na elaboração de uma nova lei da concorrência, é, por exemplo, justo dizer que a AdC tem hoje um departamento de controlo de concentrações que funciona a um bom nível e que, nos últimos anos, tem vindo sempre a melhorar. 
Tem feito o que lhe compete com rigor, transparência e imparcialidade. Aprova com rapidez as operações simples. Analisa cuidadosamente as mais complexas, sem se deixar pressionar. Persegue as empresas incumpridoras, e, desde há pouco tempo, pune-as pelas infrações. O Global Merger Control Index classificou-a em 4º lugar entre 71 congéneres a nível mundial.
No entanto, noutras áreas de intervenção, o consulado de Manuel Sebastião não granjeou idêntica imagem. Alguns dizem hoje que a pacificação da instituição pode ter ido demasiado longe e que a AdC se terá transformado numa entidade também ela discreta, à imagem do seu presidente. 
Numa fase de balanços, o raide à banca poderá ter acontecido numa altura em que torna a questão pouco nítida para os menos atentos, mas a verdade é que, ao longo de 5 anos, à Autoridade têm sido imputados um conjunto de problemas que continuam a existir, não obstante o recente foco mediático: uma taxa de sucesso judicial das suas decisões inferior ao desejável, um número de processos contraordenacionais aquém das expectativas (apenas 2 decisões condenatórias em 2011 e 4 em 2012), uma duração considerável dos períodos de investigação e uma falta de transparência quanto a decisões adotadas difícil de entender (nem sempre são revelados os destinatários das decisões, nem as infrações supostamente cometidas, para que possa existir um verdadeiro escrutínio).
Entre os outros problemas da Autoridade apontam-se também a falta de coordenação entre os seus departamentos, e alguma incapacidade de comunicação, que o caso dos combustíveis ilustra bem. 
Embora Sebastião considere que o processo de formação dos preços nos postos de combustível não constitui qualquer infração às regras de concorrência, ao transmiti-lo publicamente, nunca conseguiu ser claro ao ponto de dissipar as dúvidas, existindo por isso a ideia em toda a sociedade de que as subidas de preço são concertadas.
O Conselho que liderar a AdC nos próximos 5 anos tem que ter a capacidade de dar continuidade ao que foi bem feito e endereçar de forma séria o que até aqui correu menos bem. Seja quem for o sucessor de Manuel Sebastião, espera-se que seja alguém com capacidade de liderança interna e externa, autoridade, conhecimento e provas dadas na área de intervenção da AdC e que não necessite de um tempo de adaptação de que a instituição, na realidade, já não dispõe. - Ricardo Junqueiro, Advogado

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