sexta-feira, 7 de setembro de 2012

SE A MAIORIA NÃO SE ENTENDE, COMO SE ENTENDERÁ COM O PAÍS?


SE A MAIORIA NÃO SE ENTENDE, COMO SE ENTENDERÁ COM O PAÍS?

O governo prometeu uma reforma da administração local. Miguel Relvas surpreendeu-nos a todos. Habituado como está a fazer tudo muito depressa, brindou-nos com um "livro verde" num "piscar de olhos". Estava lá tudo o que queria fazer e que, no meu entender, foi sempre igual a nada ou a quase nada.
Levantou polémica a partir de um gabinete onde gente anónima, que olha para o poder local com enfado, escrevinhou umas quantas fórmulas matemáticas para dizimar freguesias. E a pouco mais do que isso se resumia a euforia inicial.
Depois do entorse autárquico concluído, anunciado com muitas honras na residência oficial do 1º Ministro, veio o governo dizer que queria diálogo. Ninguém lhe deu ouvidos, nem os seus, nem os outros. Na própria assembleia municipal a que preside Miguel Relvas, em Tomar, o autarca-ministro ficou a falar sozinho. O "livro verde" rapidamente murchou e mudou de cor. Mudou-se o texto. O governo recuou, mas muito timidamente e mal.
Então, o governo criou por lei uma "Unidade Técnica" de acompanhamento a funcionar na AR. É esquisito, não é? Talvez não. Queria alguém, que não o próprio, a decidir pelas assembleias municipais discordantes da "ceifa" de freguesias. A falta de coragem sempre foi uma coisa feia! Envergonhado, e com medo das consequência do que estava a fazer, transferia assim, para terceiros, a responsabilidade de decidir. O estilo é mau e a atitude pouco abonatória.
E, pior ainda, é quando atribui a outros, neste caso ao PS, a iniciativa de um debate nacional com vista a uma proposta sobre uma reforma global, como se isso fosse uma coisa má. Revela má consciência. E a razão é simples. É que o governo decidiu-se por uma lei sem ouvir ninguém e teme os resultados da sua imposição no terreno.
E, como consequência, vamos ter uma "Unidade Técnica" a funcionar apenas com os escolhidos pelo governo, a sós. A ANMP e a ANAFRE, presididas por autarcas e militantes do PSD, recusaram integrar aquela fraude e todos os partidos da oposição fizeram o mesmo. O governo ficou a falar sozinho, mais uma vez.
Agora, com a lei eleitoral autárquica, a desorientação PSD/CDS assume maior dimensão. O PS quer a lei e tem uma proposta, mas necessita de 2/3 dos deputados e desde 2007 que chegara a uma plataforma de entendimento. Restava muito pouco. Paradoxalmente, fomos surpreendidos a partir da própria maioria. O CDS deu uma nega ao PSD.
O estado de fragilidade de Passos Coelho, a incerteza, funcionou lindamente para Paulo Portas. Não haverá lei. A maioria inviabilizou-a, tal como todos os dias se inviabiliza a si própria e ao país. Se a maioria não se entende, como se entenderá com o país?
DV 2012-09-05

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