SE
A MAIORIA NÃO SE ENTENDE, COMO SE ENTENDERÁ COM O PAÍS?
O governo prometeu uma reforma da
administração local. Miguel Relvas surpreendeu-nos a todos. Habituado como está
a fazer tudo muito depressa, brindou-nos com um "livro verde" num
"piscar de olhos". Estava lá tudo o que queria fazer e que, no meu entender,
foi sempre igual a nada ou a quase nada.
Levantou polémica a partir de um
gabinete onde gente anónima, que olha para o poder local com enfado,
escrevinhou umas quantas fórmulas matemáticas para dizimar freguesias. E a
pouco mais do que isso se resumia a euforia inicial.
Depois do entorse autárquico
concluído, anunciado com muitas honras na residência oficial do 1º Ministro,
veio o governo dizer que queria diálogo. Ninguém lhe deu ouvidos, nem os seus,
nem os outros. Na própria assembleia municipal a que preside Miguel Relvas, em
Tomar, o autarca-ministro ficou a falar sozinho. O "livro verde"
rapidamente murchou e mudou de cor. Mudou-se o texto. O governo recuou, mas
muito timidamente e mal.
Então, o governo criou por lei uma
"Unidade Técnica" de acompanhamento a funcionar na AR. É esquisito,
não é? Talvez não. Queria alguém, que não o próprio, a decidir pelas
assembleias municipais discordantes da "ceifa" de freguesias. A falta
de coragem sempre foi uma coisa feia! Envergonhado, e com medo das consequência
do que estava a fazer, transferia assim, para terceiros, a responsabilidade de
decidir. O estilo é mau e a atitude pouco abonatória.
E, pior ainda, é quando atribui a
outros, neste caso ao PS, a iniciativa de um debate nacional com vista a uma
proposta sobre uma reforma global, como se isso fosse uma coisa má. Revela má
consciência. E a razão é simples. É que o governo decidiu-se por uma lei sem
ouvir ninguém e teme os resultados da sua imposição no terreno.
E, como consequência, vamos ter uma
"Unidade Técnica" a funcionar apenas com os escolhidos pelo governo,
a sós. A ANMP e a ANAFRE, presididas por autarcas e militantes do PSD,
recusaram integrar aquela fraude e todos os partidos da oposição fizeram o
mesmo. O governo ficou a falar sozinho, mais uma vez.
Agora, com a lei eleitoral autárquica,
a desorientação PSD/CDS assume maior dimensão. O PS quer a lei e tem uma
proposta, mas necessita de 2/3 dos deputados e desde 2007 que chegara a uma plataforma
de entendimento. Restava muito pouco. Paradoxalmente, fomos surpreendidos a
partir da própria maioria. O CDS deu uma nega ao PSD.
O estado de fragilidade de Passos
Coelho, a incerteza, funcionou lindamente para Paulo Portas. Não haverá lei. A
maioria inviabilizou-a, tal como todos os dias se inviabiliza a si própria e ao
país. Se a maioria não se entende, como se entenderá com o país?
DV
2012-09-05
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