Passos
Coelho escolheu o caminho mais difícil. O tempo é de opções. O primeiro-ministro
deve fazer escolhas, mas no contexto que o envolve vai decidir o quê e como?
Tentemos perceber.
O
ministro das Finanças é sempre uma peça chave e, sobretudo em tempos de aperto,
é ele quem mais ordena. Vítor Gaspar tem reputação elevada na tecnocracia do
mundo financeiro cuja pátria sempre foi e será sempre o dinheiro. Chamado a
governar para pessoas, qual o perfil ideológico que molda a sua atitude? É de
direita, de esquerda, assim-assim? Ninguém sabe. É ideologicamente apócrifo. Só
isso explica que até hoje tenha tratado números e pessoas da mesma maneira,
mal, muito mal!
Paulo
Portas, o político mais experiente do governo, quase desde início, considera
Passos Coelho uma porcelana. Pensa que se quebrará por si próprio ou que se
partirá contra os seus. Tudo se precipitou com as atribulações de Miguel
Relvas. Passos não ultrapassou esta ineludível delicadeza e Portas passou-lhe à
frente. A TSU foi o momento azado para vestir a camisola amarela.
A
elite social-democrata e as interpostas vozes do Presidente têm tido um papel
ativo na desconstrução do governo. Alexandre Relvas, Manuela Ferreira Leite ou Marcelo
Rebelo de Sousa são exemplos inelutáveis. A estes juntam-se “falcões” ilustres,
tais como Eduardo Catroga, António Borges, Mira Amaral ou Ângelo Correia. Os
primeiros pertencem à política pura, mas os segundos representam os interesses
em concreto e não brincam em serviço.
Surpreendentemente,
a “descoligação”, decidiu travar uma espécie de duelo na praça pública. O CDS
disparou primeiro. O PSD prometeu fazer o mesmo logo a seguir. Assim se explica
que, uns e outros, tenham sido atingidos em cheio no seu próprio porta-aviões -
o governo - pela oposição e pelo povo que saiu à rua, às centenas de milhares.
Depois
de cinco atualizações do “memorando” para as quais o PS nunca foi ouvido, nem
se identifica, ficaram conhecidas, pela declaração ao país do primeiro-ministro,
as linhas mestras do próximo orçamento. O governo insiste, de forma mais
intensa, no mesmo caminho de austeridade acéfala, recessão e desemprego.
António Seguro e o PS anunciaram o voto contra e ameaçam o governo com uma
moção de censura se não recuar na TSU.
Passos
Coelho conseguiu uma coisa única: unir toda a gente contra si. O CDS, parceiro
de coligação, o PS e toda a oposição, os parceiros sociais, as elites
centristas, as social-democratas, os seus falcões e o povo. O país está pior e
não melhor. O corte nos desperdícios foi chão que deu uvas. Toda a gente fala
deles, mas, ao certo, ninguém parece saber o que isso é. Não precisamos de
tostões, mas de milhares de milhões. A reforma do Estado é uma miragem.
Se
o único caminho é mais do mesmo, mas mais abrasivo, então Passos Coelho quer governabilidade
para quê?
DN
2012-09-19
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