sexta-feira, 21 de setembro de 2012

DN - PASSOS COELHO, GOVERNABILIDADE PARA QUÊ?


Passos Coelho escolheu o caminho mais difícil. O tempo é de opções. O primeiro-ministro deve fazer escolhas, mas no contexto que o envolve vai decidir o quê e como? Tentemos perceber.
O ministro das Finanças é sempre uma peça chave e, sobretudo em tempos de aperto, é ele quem mais ordena. Vítor Gaspar tem reputação elevada na tecnocracia do mundo financeiro cuja pátria sempre foi e será sempre o dinheiro. Chamado a governar para pessoas, qual o perfil ideológico que molda a sua atitude? É de direita, de esquerda, assim-assim? Ninguém sabe. É ideologicamente apócrifo. Só isso explica que até hoje tenha tratado números e pessoas da mesma maneira, mal, muito mal!
Paulo Portas, o político mais experiente do governo, quase desde início, considera Passos Coelho uma porcelana. Pensa que se quebrará por si próprio ou que se partirá contra os seus. Tudo se precipitou com as atribulações de Miguel Relvas. Passos não ultrapassou esta ineludível delicadeza e Portas passou-lhe à frente. A TSU foi o momento azado para vestir a camisola amarela.
A elite social-democrata e as interpostas vozes do Presidente têm tido um papel ativo na desconstrução do governo. Alexandre Relvas, Manuela Ferreira Leite ou Marcelo Rebelo de Sousa são exemplos inelutáveis. A estes juntam-se “falcões” ilustres, tais como Eduardo Catroga, António Borges, Mira Amaral ou Ângelo Correia. Os primeiros pertencem à política pura, mas os segundos representam os interesses em concreto e não brincam em serviço.
Surpreendentemente, a “descoligação”, decidiu travar uma espécie de duelo na praça pública. O CDS disparou primeiro. O PSD prometeu fazer o mesmo logo a seguir. Assim se explica que, uns e outros, tenham sido atingidos em cheio no seu próprio porta-aviões - o governo - pela oposição e pelo povo que saiu à rua, às centenas de milhares.
Depois de cinco atualizações do “memorando” para as quais o PS nunca foi ouvido, nem se identifica, ficaram conhecidas, pela declaração ao país do primeiro-ministro, as linhas mestras do próximo orçamento. O governo insiste, de forma mais intensa, no mesmo caminho de austeridade acéfala, recessão e desemprego. António Seguro e o PS anunciaram o voto contra e ameaçam o governo com uma moção de censura se não recuar na TSU.
Passos Coelho conseguiu uma coisa única: unir toda a gente contra si. O CDS, parceiro de coligação, o PS e toda a oposição, os parceiros sociais, as elites centristas, as social-democratas, os seus falcões e o povo. O país está pior e não melhor. O corte nos desperdícios foi chão que deu uvas. Toda a gente fala deles, mas, ao certo, ninguém parece saber o que isso é. Não precisamos de tostões, mas de milhares de milhões. A reforma do Estado é uma miragem.
Se o único caminho é mais do mesmo, mas mais abrasivo, então Passos Coelho quer governabilidade para quê?
DN 2012-09-19

Sem comentários:

Enviar um comentário