sábado, 21 de julho de 2012

FISCALIDADE: O GOVERNO COPIA MAL, MUITO MAL!


O governo não tem emenda. Acabou de aprovar em conselho de ministros, com pompa e circunstancia, duas novas medidas para combate à fraude e evasão fiscais: fatura para todas as transações e dedução no IRS, até 250 euros, de 5% do IVA em hotelaria, restauração, oficinas e cabeleireiros, desde que apresentados os comprovativos. A iniciativa compreende-se e até se poderia aplaudir não fossem alguns pormenores.
Em primeiro lugar as propostas foram apresentadas pelo PS em novembro, durante a discussão do OE 2012. O governo, a maioria, chumbou sem nunca sequer ter demonstrado interesse em discutir o conteúdo, o âmbito e o “modus faciendi”. Fez mal e é um tique viciante.
Lembro que das 356 propostas alternativas apresentadas pelo PS, a maioria chumbou 75%, sendo que nas áreas de economia, emprego, educação ciência e cultura o número chegou aos 90%. Não pode, portanto, o PS ser acusado de não ter proposto medidas que definissem um “outro caminho” alternativo e que prova ser possível poupar no esforço das famílias, nos rendimentos do trabalho, deixando dinheiro na economia.
Por outro lado, o critério para o desconto do IVA no IRS é caricato e um convite à fraude e evasão fiscais, exatamente o contrário do que se pretendia. A metodologia e critérios deveriam seguir a teoria aplicada para as despesas de educação, saúde, crédito à habitação, seguros de vida ou outros.
Acresce ainda que a limitação das despesas às áreas acima referidas é injusta e deixa de fora realidades várias como, por exemplo, a das grandes superfícies, espaços comerciais muito procurados pelas famílias.
A afirmação mais grave que escrevi foi: "o critério para o desconto do IVA no IRS é caricato e um convite à fraude e evasão fiscais". Passo a justificar. Quem comprar um pneu de 100 euros e exigir o cumprimento da lei pagará mais 23 euros de IVA. Ao afetar a margem dos 5% do imposto, previstos na lei, às deduções no IRS será ressarcido em 1,15 euros.
Se ambos de "esquecerem" da lei, o comprador "poupará" quase 22 euros e o vendedor passa ao lado das suas obrigações fiscais. O comportamento dos dois será ilegal, representa fuga ao fisco e devem ser punidos por isso. Mas como detetar este comportamento?
Pelo contrário, se "a teoria aplicada para as despesas de educação, saúde, crédito à habitação, seguros de vida ou outros" fosse seguida, prevendo um limite máximo não oriundo do IVA, seria mais plausível atingir os objetivos pretendidos.
De qualquer forma, o governo perdeu um ano e constrói um cenário votado ao fracasso, para além da aplicação em concreto só acontecer em 2014. Pergunta-se: por que motivo a maioria chumbou "cegamente" a proposta do PS? E conclui-se que o governo, mesmo a plagiar, copia mal, muito mal!

Sem comentários:

Enviar um comentário