Paulo Portas exigiu a Passos Coelho três relevantes pastas no executivo. O próprio é Ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros, tradicionalmente o mais popular em qualquer governo. Pedro Mota Soares vai-lhe no encalço com os Assuntos Sociais, deixando para o “romancista de economia”, Álvaro Santos Pereira, o “Emprego”. Assunção Cristas, com a missão mais difícil, ao aceitar um mega ministério, “Agricultura, Mar e Território”, lá tem “levado a água ao seu moinho”, por enquanto. A muita experiência deixou ao CDS uma ampla margem de manobra!
Para além de Portas, Passos Coelho, está dependente do inflexível Vítor Gaspar, o “pai” de toda a austeridade, muito para além da Troika, criticada como excessiva pelo próprio FMI. Na “Economia e no Emprego” não tem ministro e só pode tentar explicar (mal como se sabe) os resultados de um desastre de proporções inimagináveis: o naufrágio da economia e um desemprego a mais de 15%.
Contrariamente ao CDS, no PSD os casos políticos são muitos. Vou excluir, como se compreenderá, quer a antiga “elite” social-democrata, a contas com a justiça, quer as eticamente complexas nomeações para a EDP, Águas de Portugal e demais empresas sensíveis.
Verdadeiramente, para Passos Coelho o calcanhar de Aquiles é o seu número dois, o “todo-poderoso” Miguel Relvas, que o obriga a sucessivas reafirmações públicas de confiança. Ora são os espiões, ora as secretas, os sms, as sugestões indevidas para o serviço de informações ou, agora, a publicitada admoestação a uma jornalista, ameaçando-a com a divulgação da sua vida pessoal. Marcelo e Capucho, entre outros, já disseram que, a provar-se, a demissão é o caminho.
Nada que não fosse expectável dizem alguns, erro de “casting” afirma Marcelo. Talvez por isso, sabiamente, Paulo Portas se tenha distanciado destas questões, não deixando de fazer intervenções “pisca-pisca” em defesa de alguns – e apenas de alguns - apertos do executivo.
O CDS foi “maltratado” em todo o país. As nomeações são um exemplo. Portas não fez disso um caso e deixou para o PSD esse ónus. Este facto explica em muito o difícil relacionamento entre as bases dos dois partidos, uma espécie de zanga entre irmão rico e irmão pobre.
É, no entanto, no topo que as divergências são mais profundas. A título de exemplo, contrariamente ao PSD, o CDS defende a extinção objetiva e intensa de câmaras. Está contra a privatização da REN, bem como da RTP nos termos propostos; não subscreveu o projeto de resolução sobre a europa que o PSD levou à AR (e teve de baixar à comissão sem votação); e em matéria de impostos, tal como Bagão Félix lá se tem encarregado de dizer, com especial enfoque para o que chamou de “confisco” dos subsídios dos reformados, há uma irritação profunda. Portanto, austeridade, confisco, recessão ou desemprego, será sempre o PSD a explicar. Há, pois, muito nervosismo e a última sondagem acrescenta-lhe imensa cafeína. A verdade é que PSD e CDS já viveram dias melhores.
2012-05-26
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