Os europeus vivem, intensamente, dois sentimentos contraditórios: desilusão e esperança.
O primeiro resulta das dificuldades económicas e financeiras de países supostamente mais robustecidos (Espanha ou Itália), bem como daqueles que na periferia são mais vulneráveis e se espelham nos receios do paradigma grego.
O segundo, o da esperança, nasce da ideia de mudança, de oportunidade e de recolocação das pessoas no centro das prioridades em detrimento da agiotagem dos mercados. Os sinais mais recentes foram a vitória dos socialistas em França, as derrotas sucessivas da chanceler Merkel nas eleições locais e o adiamento da ratificação do “Tratado Orçamental” nos respetivos países. Existirá um “tratado complementar”.
Não obstante, qualquer euforia é prematura. François Hollande precisa de mais parceiros para poder ajudar a europa a um “outro caminho”; e um SPD ganhador em 2013, apesar de exigir já, enquanto oposição, um imposto sobre as transações financeiras, para ajudar os países mais necessitados, partilha ideias que não se afastam, e bem, do rigor orçamental.
O PS francês e o SPD alemão convergem na necessidade de uma agenda para o crescimento e o emprego, tal como há muito defende António Seguro que, nesse sentido, apresentou um projeto na AR para um ”Ato Adicional” - com medidas concretas, que a maioria PSD/CDS chumbou, mas que não evitará uma nova agenda europeia.
Recordo o que acaba de dizer Manuel Ferreira Leite: “É…animador verificar que nos últimos dias se tem intensificado a discussão sobre a necessidade de incluir na agenda política o tema do crescimento económico, o que é um horizonte alargado e bem-vindo, apesar de tardio” e … “ou se alargam os prazos de ajustamento ou não é possível atingir os objetivos de consolidação orçamental.” Nada mais claro, crescimento económico e mais tempo, como sempre defendeu o PS.
Entretanto, perdeu-se um ano e a consequência foi o aumento exponencial do desemprego (que para o primeiro-ministro é uma oportunidade e não um estigma - santa tolice!), uma travagem a fundo na economia, uma recessão extrema e uma explosão telúrica de dificuldades para as pessoas e as famílias.
Não se entende que neste desastre de acéfala austeridade, o governo esteja a malbaratar a disponibilidade do PS para o compromisso político. Rejeição generalizada de propostas alternativas, elaboração secreta de um DEO versus PEC, IVA máximo na restauração, luz e gás, captura indevida de subsídios, um IMI ao “rubro” ou asfixia da administração local, são exemplos de marginalização das oposições e do próprio memorando da “Troika” que nada diz sobre isto e do qual o governo já se afastou “anos-luz”.
Pedro Passos Coelho criou um clima de incompreensível crispação política, sobretudo com o PS, cultivando uma estratégia de rutura para obter vitimização política, qual porto de abrigo para as suas incapacidades, mas também já percebeu que ninguém anda distraído!
Surdo aos apelos prudentes do Presidente da República ou de inúmeras personalidades, sobretudo da sua área política, que aconselham um diálogo preferencial com o PS, Pedro Passos Coelho caminha rapidamente para um ponto de não retorno: o OE de 2013 e o chumbo do PS. Está nas suas mãos evitá-lo!
Sol, 2102.05.14
Sem comentários:
Enviar um comentário