A ausência de uma austeridade inteligente, aquela que se faz acompanhar de medidas de financiamento à economia com vista ao crescimento e ao emprego, é um facto dramático. A persistente negação do governo em admitir que é necessário mais tempo para o ajustamento não se aguentará muito mais.
A Lusa acaba de noticiar que “o próprio FMI alertou hoje para as consequências negativas no sistema financeiro da redução demasiado rápida dos défices das contas públicas e também da falta de vontade política para reformular as políticas orçamentais em países com desequilíbrios”
O primeiro-ministro já admitiu, esta semana, a um jornal estrangeiro, que não pode garantir que não seja preciso mais tempo e mais dinheiro. Significa, pois, que a afirmação temerária do ministro das Finanças de que Portugal voltaria aos mercados em 23 de Setembro de 2013 foi inconsistente.
No fundo e no fim, foram várias, já, as personalidades apoiantes desta maioria de direita, a começar pelas dos partidos que a suportam, passando pelas da banca e terminando em entidades como a CIP, que se pronunciaram a favor de um segundo resgate.
O primeiro-ministro atira tudo para a volatilidade dos mercados, para a evolução da crise internacional e, sobretudo, dos países periféricos, como se já nada dependesse dele, do seu governo, e tudo viesse a decorrer de uma conjuntura internacional imprevisível. Nada mau para quem, há um ano atrás, dizia que a crise era essencialmente portuguesa, independente de quaisquer outros fatores externos.
Na prática, o segundo resgate já começou. As medidas de austeridade reforçada aí estão. Declinando a possibilidade de reformas antecipadas, confiscando, por “lapso”, e por mais dois anos (quatro no total, pelo menos) os subsídios de férias e Natal, lançando mais um imposto sobre os produtos alimentares, ou diminuindo as prestações sociais, o governo excede o memorando e desrespeita igualmente o acordo de concertação social.
Igualmente grave, é o conjunto de ataques dirigidos ao PS e, ao mesmo tempo, não aceitando nenhuma das suas propostas alternativas, o PSD/CDS sinta que estamos obrigados a aprovar tudo, “custe o que custar”.
Lamento informar que a maioria se engana totalmente. As pessoas já deram conta de duas coisas: a primeira diz-lhes que o governo não estava preparado e não tem soluções para a crise; e a segunda é a de que quer seguir sozinho, sem o PS. Pois assim poderá ser. A maioria quer uma rutura e vai tê-la!
DB 2012.04.12
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