O momento escolhido por Passos Coelho para derrubar o governo e provocar eleições antecipadas não foi um mero acaso. Não se ficou a dever sequer ao pacote de austeridade apresentado pelo governo, o dito PEC IV.
O líder social-democrata já tinha dado o seu aval, mais do que uma vez, a medidas bem mais gravosas para os portugueses e vai, ele próprio, se tiver essa oportunidade, aplicar medidas bem piores.
As circunstâncias: na reunião do Conselho da Europa, a 12 de Março, o primeiro-ministro, ao apresentar o PEC IV, arquitectara com a senhora Merkel e demais parceiros europeus, uma solução para nos manter à tona de água e nos livramos do fardo do pedido de resgate e da intervenção do FMI e das exigências radicais deste.
As declarações da senhora Merkel, de Durão Barroso e do comissário europeu para assuntos económicos, depois da reunião de Bruxelas, na sexta-feira passada, são todas elas favoráveis aos esforços do primeiro-ministro.
Nestas circunstâncias – esta modalidade «suave» de ajuda externa alcançada por José Sócrates – o principal objectivo de Passos Coelho podia-se gorar: a intervenção do FMI em Portugal e que seja este a exigir o que Passos Coelho pretende, mas sabe que o PSD nunca terá condições políticas para impor: elevados cortes nas despesas do Estado nas áreas da Saúde e da Educação, alteração radical das leis do trabalho e redução dos encargos com a função pública, com consequentes despedimentos.
Passos Coelho sabe que só um país de corda ao pescoço, na bancarrota, aceitará a sua proposta de revisão constitucional e as suas «reformas estruturais» de cariz liberal.
Por paradoxal que pareça, o PCP e o BE morderam o isco e foram a reboque da estratégia do PSD.
A direita mais dura aceitou a «santa aliança» com uma palmadinha nas costas dos comunistas e bloquistas. Estes, para aliviarem as consciências, lá vão dizendo: «PS e PSD são a mesma coisa».
Talvez os portugueses, mais uma vez, achem que não.
Por Tomás Vasques às 09:45
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