sexta-feira, 6 de novembro de 2015

(Opinião) PS e as negociações do outro mundo

PS e as negociações do outro mundo

Afinal havia outro... acordo. Há um para o BE e Catarina Martins. Haverá (?!) outro para o PCP e Jerónimo de Sousa. Não se sentam os dois à mesma mesa com o PS. Um de cada vez. Amigos amigos, mas negociações à parte. É este o clima de estabilidade e clareza em que o PS prepara a rejeição ao governo. Não acho normal, mas devo ser só eu!
Carlos César veio agora pressionar o PCP e, contrariamente ao que António Costa tinha dito ao Presidente da República, admite que, afinal, o famigerado acordo não existe, porque anda a duas velocidades, por dois caminhos diferentes. 
O PS preocupa-se em dar explicações ao BE e mais se preocupa em dar explicações ao PCP. De facto, só não tem preocupação em explicar coisa nenhuma aos militantes do PS. E da Comissão Nacional, órgão máximo entre congressos, fugiu como diabo da cruz.
No PS os militantes estão às escuras. São convidados a confiar cegamente em António Costa. Muitos assim fizeram para o eleger secretário-geral. Outros continuaram a confiar nele até ao desaire nas legislativas. Os do costume - e mais algumas vozes que se calaram - espreitam para ver no que isto dá. São os que  sempre batem palmas à espera de sinecuras. 
Ensina-nos a vida que se o poder não chegar depressa, mais rapidamente partirão estes apoios. No dia das eleições, à noite, - como vemos pelas televisões - a sala de “fãs” rapidamente fica vazia se a vitória não acontece. As pessoas acautelam-se.
Vera Jardim, Vasco Cordeiro, presidente do governo dos Açores, e vários outros, apoiantes de sempre de António Costa, criticam a estratégia e a atuação da direção do PS. Não aplaudem a solução, nem confiam num acordo desconhecido, produzido em mar revolto, como acima referi.
Portanto, não é apenas Assis, que diz não, são muitos outros, quer tenham sido ou não apoiantes de Costa, Seguro, Sócrates, Guterres ou Mário Soares. A responsabilidade exige, em momentos tão decisivos como este, o nosso contributo, a palavra, e lamenta os silêncios dos que espreitam por cima do muro, os que estão sempre de atalaia.
Aqueles que se sujeitam ao escrutínio público, nomeadamente quando são candidatos a funções políticas ou desempenham essas responsabilidades, a qualquer nível, deveriam, há muito, terem-se dirigido aos seus eleitores, para dizerem o que pensam. Sei que para alguns é pedir muito, mas para outros, entre os quais me incluo, não há segredos sobre as opções assumidas. Em Viseu, como no país, sempre fui claro.
O PS, líder da oposição no Parlamento, não só demonstraria a sua autonomia, como marcaria bem a distância da coligação que nos governou e, pela convergência à esquerda, poderia concretizar tudo em que acredita, bem como moderar ímpetos mais radicais que o país não suporta. O PS, mais cedo que tarde, em 2017, estaria de regresso ao poder, mais legitimado, mais forte, construído uma nova esperança, um país mais previsível e seguro.
Os verdadeiros amigos são os que nos dizem a verdade. Trinta dias depois das eleições, temos um governo à espera de cair, uma oposição desejosa de o derrubar, e um PS sem acordo e com negociações do outro mundo.

Diário de Viseu 2015.10.04

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