PS e as
negociações do outro mundo
Afinal havia outro...
acordo. Há um para o BE e Catarina Martins. Haverá (?!)
outro para o PCP e Jerónimo de Sousa. Não se sentam os dois à mesma mesa com o
PS. Um de cada vez. Amigos amigos, mas negociações à parte. É este o clima de
estabilidade e clareza em que o PS prepara a rejeição ao governo. Não acho
normal, mas devo ser só eu!
Carlos César veio agora
pressionar o PCP e, contrariamente ao que António Costa tinha dito ao Presidente da
República, admite que, afinal, o famigerado acordo não existe, porque
anda a duas velocidades, por dois caminhos diferentes.
O PS preocupa-se em dar
explicações ao BE e mais
se preocupa em dar explicações ao PCP. De facto, só não tem
preocupação em explicar coisa nenhuma aos militantes do PS. E da Comissão
Nacional, órgão máximo entre congressos, fugiu como diabo da cruz.
No PS os militantes estão às
escuras.
São convidados a confiar cegamente em António Costa. Muitos assim fizeram para
o eleger secretário-geral. Outros continuaram a confiar nele até ao desaire nas
legislativas. Os do costume - e mais algumas vozes que se calaram - espreitam
para ver no que isto dá. São os que sempre
batem palmas à espera de sinecuras.
Ensina-nos
a vida que se o
poder não chegar depressa, mais rapidamente partirão estes apoios. No dia das
eleições, à noite, - como vemos pelas televisões - a sala de “fãs” rapidamente
fica vazia se a vitória não acontece. As pessoas acautelam-se.
Vera Jardim, Vasco Cordeiro, presidente do
governo dos Açores, e vários outros, apoiantes de sempre de António Costa,
criticam a estratégia e a atuação da direção do PS. Não aplaudem a solução, nem
confiam num acordo desconhecido, produzido em mar revolto, como acima referi.
Portanto, não é apenas Assis, que diz não, são muitos
outros, quer tenham sido ou não apoiantes de Costa, Seguro, Sócrates, Guterres
ou Mário Soares. A responsabilidade exige, em momentos tão decisivos como este,
o nosso contributo, a palavra, e lamenta os silêncios dos que espreitam por
cima do muro, os que estão sempre de atalaia.
Aqueles que se sujeitam ao escrutínio público,
nomeadamente quando são candidatos a funções políticas ou desempenham essas
responsabilidades, a qualquer nível, deveriam, há muito, terem-se dirigido aos
seus eleitores, para dizerem o que pensam. Sei que para alguns é pedir muito,
mas para outros, entre os quais me incluo, não há segredos sobre as opções
assumidas. Em Viseu, como no país, sempre fui claro.
O PS, líder da oposição no Parlamento, não só
demonstraria a sua autonomia, como marcaria bem a distância da coligação que
nos governou e, pela convergência à esquerda, poderia concretizar tudo em que
acredita, bem como moderar ímpetos mais radicais que o país não suporta. O PS,
mais cedo que tarde, em 2017, estaria de regresso ao poder, mais legitimado,
mais forte, construído uma nova esperança, um país mais previsível e seguro.
Os verdadeiros amigos são os que nos dizem a
verdade. Trinta dias depois das eleições, temos um governo à espera de
cair, uma oposição desejosa de o derrubar, e um PS sem acordo e com negociações
do outro mundo.
Diário de Viseu 2015.10.04
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