sexta-feira, 14 de agosto de 2015

(Visão) Excertos da entrevista a António Costa: 'O que me pedem é que corra com eles..."

Numa grande entrevista à VISÃO, António Costa pede desculpa pelos cartazes, defende Sampaio da Nóvoa, fala no caso Sócrates, recusa a renegociação da dívida e anuncia um novo ministério. Para ler e anotar, esta quinta-feira, na VISÃO. Aqui ficam alguns excertos:
"Peço desculpa pelo caso lamentável dos cartazes", diz António Costa, ao cabo de uma semana difícil. A seguir, deixa outros recados: "Quem defende a renegociação da dívida não se tem dado muito bem", lembra, em alusão ao caso grego. Já quanto ao dossiê Sócrates, acusa a direita de lhe fugir "o pezinho para a chinela". Revela o plano A e o plano B do seu projeto de Governo e admite elevar a pasta dos Assuntos Europeus à dignidade de ministério. Uma entrevista para ler e anotar. 

EIS ALGUNS EXCERTOS:

O FATOR SÓCRATES

VISÃO: O fator Sócrates pode ou não pode contaminar, ou, pelo menos, provocar ruído na campanha? 
AC: Espero que nem a Justiça contamine a política nem a política contamine a Justiça. Eu não tenho feito comentários sobre o caso. 

VISÃO: O António Costa não. Mas muita gente do PS tem-no feito, e com uma militância que quase subscreve a tese do "preso político"... 
AC: O PS tem tido uma enorme maturidade política e uma notável fidelidade aos princípios básicos do Estado de Direito e à separação de poderes. Vamos continuar a seguir esta linha e não vou fazer comentários. Mesmo quando o dr. Passos Coelho estava a ser flagelado pela comunicação social a propósito das suas dificuldades com a Segurança Social, eu disse que não queria uma democracia de casos e não alimento essas campanhas. Portanto, não vou fazer comentários sobre o dr. Passos Coelho, nem sobre os processos que envolvem o n.º 2 do PSD [Marco António Costa]. E portanto também não os farei sobre o caso Sócrates, apesar da deselegância revelada pelo primeiro-ministro a tratar destes assuntos.

VISÃO: Apesar de tudo, não se pode dizer que o PSD tenha aproveitado este caso como arma de arremesso político... 
AC: Foge-lhe sempre o pezinho para a chinela... 

VISÃO: Voltou a visitar Sócrates em Évora?
AC: Não.

VISÃO: Só lá foi uma vez, certo?
AC: Sim.

NOVO MINISTÉRIO

VISÃO:  Já tem uma equipa para atacar, com  nova postura perante Bruxelas, os assuntos europeus?
AC: Admito que no atual momento europeu, Portugal deva ter um membro do Governo exclusivamente dedicado aos assuntos europeus com estatuto superior a secretário de Estado.

VISÃO: Um ministro dos Assuntos Europeus, portanto... 
AC: (Sorrisos) Não vale a pena estarmos aqui nas adivinhas, senão ainda me pergunta em quem é que eu estou a pensar...  

COLIGAÇÕES E EURO

VISÃO: Há partidos à esquerda do PS que encaram a hipótese de saída do euro. Ainda vê esses partidos como hipóteses para parcerias, em caso de acordos de incidência parlamentar ou coligações? 
AC: Eu disse que não devemos limitar o acesso ao Governo a um grupo restrito de partidos. Mas há uma radical diferença entre o PS e a dupla Bloco/PCP que tem a ver com a Europa. O que é que essa diferença impede, não sei. Para nós, a Europa e o euro são inegociáveis. 

VISÃO: E como viu o apelo do PR à constituição de coligações, para um Governo de maioria? 
AC: Há quem tenha visto nessas palavras um apelo à maioria absoluta do PS... (Risos)

VISÃO: Essa é a sua interpretação otimista ou irónica das palavras do Presidente? 
AC: O meu otimismo não vai tão longe... O maior anseio que os portugueses têm hoje é o de se verem livres deste Governo e destas políticas. O que eu mais oiço na rua é: "Corra com eles!". E nós temos de respeitar o mandato do eleitorado. Quem vota no PS é para mudar de governo e também de políticas. Ora, para isso, não faz sentido ficar dependente dos que querem as mesmas políticas. Quem quer mudar, vota no PS. Quem quer as mesmas políticas vota na coligação PAF! 

VISÃO: A forma como disse esse PAF vai obrigar-me a escrever a sigla a bold... 
AC: Sim, como nos livros do Astérix! (Risos) 

RENEGOCIAÇÃO DA DÍVIDA

VISÃO: Não defende a reestruturação ou renegociação da dívida? 
AC: Quem tem defendido essa solução não tem tido muito sucesso, como se viu no caso grego...   

OS CARTAZES

VISÃO: E os tiros no pé dos cartazes? 
AC: Esta campanha oferece temas de debate mais importantes do que os cartazes...

VISÃO: Os cartazes até já provocaram a demissão do seu diretor de campanha, por causa do uso não autorizado de figurantes para ilustrar histórias não reais. Acha isso bem? E agora, vai tudo para o lixo? 
AC: O episódio dos cartazes tratou-se de uma sucessão de equívocos, um caso lamentável e, por isso, pedimos desculpa. 

PRESIDENCIAIS

VISÃO: Outro fator que pode poluir a campanha para as legislativas é a pré-campanha das presidenciais. 
AC: Eu vejo as pessoas muito preocupadas com a escolha do PS e ninguém fala das escolhas à direita, onde as opções se multiplicam todos os dias... O PS tomará uma decisão no momento próprio. Nesta altura já há um candidato assumido e próximo da família socialista...

VISÃO: Henrique Neto?... 

AC: ... Que é o prof. Sampaio da Nóvoa, uma pessoa pela qual tenho muita estima. E não o revejo na caricatura esquerdista com que tem sido apresentado. A sua participação em iniciativas do PS não se limita ao discurso proferido no último congresso. Já participara em iniciativas de António José Seguro e de José Sócrates.

VISÃO: Mas o PS não está convencido e até há a suposta intenção de Maria de Belém se candidatar...
AC: O PS orgulha-se muito da sua pluralidade e tem tido, em matéria de presidenciais, uma história de liberdade: já apoiou um candidato contra a vontade do líder, que se autossuspendeu durante a campanha [apoio a Ramalho Eanes, em 1981, com o desacordo de Mário Soares], já teve dois candidatos ambos militantes [Mário Soares e Manuel Alegre em 2006], etc. E acho incompreensível que numa eleição por natureza proposta por cidadãos e que apela aos princípios da cidadania se defenda que só têm direito a candidatar-se os nascidos e criados nas estruturas partidárias... quando a Presidência da República deve ser, por excelência, o espaço da cidadania. 

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