"Ao fim
destes longos nove (9) meses, creio que é tempo de todos tirarem uma conclusão:
fui preso sem que existissem quaisquer provas contra mim. A interpretação mais
benigna, embora ainda assim intolerável, é a de que me prenderam "para
investigar". Mas há outra. À medida que o tempo passa cresce a legítima
suspeita de que este processo tem como verdadeira motivação condicionar as
próximas eleições e impedir a vitória do PS. Acontece que isso não compete à
justiça, mas à política", lê-se na carta, a publicar na íntegra na edição
do JN de amanhã.
Pela primeira
vez, afirmando que "a Justiça cometeu mesmo neste caso um erro
monstruoso", o ex-primeiro-ministro refere-se com mais detalhe aos
indícios de corrupção e de fraude fiscal e branqueamento de capitais que lhe
são imputados pelo Ministério Público. Classifica o processo como
"saltitão", dizendo que a investigação "já 'acreditou' em tudo e
no seu contrário", passando "de uma teoria para a outra cada vez que
a anterior esbarra contra a verdade".
Em concreto,
critica ser suspeito de corrupção praticada alternativamente em Portugal,
Angola, Venezuela, "talvez na Argélia" e "de novo em Portugal
mas no Algarve (oscilando aqui entre o PROTAL, umas operações urbanísticas nunca
identificadas do Empreendimento de Vale de Lobo e um empréstimo concedido pela Caixa
Geral de Depósitos, a que sou totalmente alheio) e, ao que parece, está agora
em trânsito para o Brasil".
"Já
'acreditaram' também que ela aconteceu nas PPP rodoviárias, na Parque Escolar,
no T.G.V. e até no Aeroporto que nunca foi feito, embora sem nunca esclarecer
com que intervenção minha nem indicar em concreto o acto que consideram
ilícito. Finalmente e sempre segundo a 'fezada' da investigação, o 'agente
corruptor' começou por ser o conjunto das empresas do Engº Carlos Santos Silva,
a seguir foi o Grupo Lena, mas evoluiu depois, sem pestanejar, para promotores
turísticos e imobiliários com interesses no Algarve, explorando agora novas
oportunidades no filão do mercado brasileiro", enumera, concluindo que
"este enorme desnorte da investigação revela é que todo este processo foi,
desde o início, uma enorme precipitação e uma incrível leviandade".
Já quanto à propriedade
dos 23 milhões de euros detidos na Suíça em nome do alegado testa de ferro
Carlos Santos Silva, Sócrates volta a classificar a tese como
"absurda". E questiona a "lógica" da acusação, uma vez que,
se fosse verdadeira, estaria sempre sujeito à "boa-vontade e cooperação
para conseguir aceder, sempre por esquemas complicadíssimos" para aceder à
sua "fortuna".
Além disso,
acrescenta que, em caso de "fatalidade" ou "incapacidade"
de Santos Silva, não teria qualquer forma de aceder ao dinheiro, dado que não
consta como beneficiário das contas bancárias. "O dinheiro não é, nem
nunca foi meu".
O
ex-primeiro-ministro dá ainda um remoque ao Ministério Público por ter aberto
uma investigação ao negócio de compra e venda do seu andar, na Rua Braancamp,
Lisboa, a um advogado e ex-procurador do Paquistão. "A única razão parece
residir no facto desse apartamento ter sido meu. Já não se trata, apenas, do
respeito que deve às pessoas e aos seus direitos, mas de perder o respeito que
o Ministério Público deve a si próprio".
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