O excesso de
oferta de crude tem feito as cotações cair a pique, mas para as famílias o
efeito é bem menos elástico. Mas há indícios de que tão cedo não ouviremos
falar de subidas vertiginosas da gasolina e do gasóleo
O preço do
petróleo desceu para um dos níveis mais baixos dos últimos seis anos, mas em
Portugal o custo dos refinados (gasolina e gasóleo), sem impostos, mantém-se
nos valores mais elevados praticados entre os 28 países da União Europeia (UE).
Para os produtores de petróleo as baixas cotações da matéria-prima vêm
ensombrando as suas perspetivas de negócio, obrigando a adiar investimentos até
que os preços voltem a proporcionar maiores margens de lucro.
Para o
consumidor português a queda do preço do petróleo até podia ser benéfica. Mas a
queda no preço do crude está longe de se refletir de com a mesma amplitude nos
valores praticados nos postos de combustíveis. Mesmo expurgando o efeito da
fiscalidade, Portugal paga um preço relativamente elevado pelos produtos
refinados.
Segundo dados da
Comissão Europeia, a gasolina 95 vendida em Portugal, sem impostos, é a quinta
mais cara da UE. E o gasóleo português, também sem impostos, é o nono mais caro
entre os 28 países da UE.
Na Península
Ibérica, persistem diferenças de preços nos combustíveis refinados sem
impostos, devidas, sobretudo, à maior incorporação em Portugal de
biocombustíveis e aditivos mais "limpos" na gasolina e no gasóleo.
Espanha
incorpora menos quantidades percentuais de biocombustíveis na gasolina e no
gasóleo, praticando preços base (sem impostos) mais baixos.
Também os Preços
de Venda ao Público (PVP) são superiores em Portugal, pois o mercado nacional
continua a ter uma fiscalidade mais pesada que a praticada em Espanha.
Enquanto em
Portugal, sem impostos - segundo dados da Comissão Europeia relativos a 17 de
agosto -, o preço do litro de gasolina 95 é de 0,582 euros, em Espanha este
combustível é vendido a 0,573 euros por litro. No gasóleo, o preço sem impostos
é de 0,555 euros por litro em Portugal, e em Espanha é de 0,538 euros.
Em PVP, a
Comissão Europeia refere que na semana de 17 de agosto a gasolina 95 era
vendida em Portugal a 1,476 euros por litro, enquanto no mercado espanhol
custava 1,252 euros por litro. O gasóleo, na mesma semana, custava 1,178 euros
por litro em Portugal e 1,096 euros por litro em Espanha.
O impacto dos biocombustíveis
em Portugal
O presidente da
BP Portugal, Pedro Oliveira, explica que a incorporação legal de
biocombustíveis é superior em Portugal, o que encarece ligeiramente o preço
base da gasolina e do gasóleo no mercado nacional, comparativamente aos preços
praticados em Espanha, que travou a quantidade de biocombustíveis incorporada
nos refinados".
"No gasóleo
é incorporado o designado Fame, que é o biocombustível utilizado para ser adicionado
até aos níveis fixados na lei portuguesa e que é um produto nacional",
refere Pedro Oliveira, explicando que "o mercado português não pode
recorrer à incorporação de Fame adquirido no mercado internacional, que tem
preços mais favoráveis".
Por outro lado,
o mercado português de combustíveis não tem as infraestruturas necessárias para
efetuar a mistura de etanol na gasolina, que exigem instalações separadas.
"Como em Portugal não há linhas de produção segregadas para efectuar a
mistura de etanol, a produção de gasolina menos poluente, mais limpa, é feita
através da incorporação do designado MTBE, o que encarece o preço base da
gasolina", comenta o presidente da BP Portugal.
No entanto,
Pedro Oliveira esclarece que "sem a incorporação de Fame e MTBE, o custo
da gasolina e do gasóleo refinados em Portugal é inferior ao dos refinados em
Espanha".
Na atual
conjuntura internacional do mercado petrolífero, "é previsível que se
mantenha o excesso de reservas e de combustíveis armazenados (stocks) e que
continue a ser produzido petróleo em quantidades superiores aos níveis atuais
do consumo, o que prolongará a descida das cotações internacionais do barril de
petróleo", adianta Pedro Oliveira.
"Esta
tendência de queda de preços será mantida até ao dia em que a quantidade de
petróleo produzido coincida com a quantidade de petróleo consumida, mas
atualmente há incerteza sobre o momento em que isso possa acontecer",
refere o responsável da BP Portugal.
Ao longo dos
últimos 12 meses a cotação do brent afundou mais de 50% mas o preço de venda ao
público da gasolina em Portugal apenas recuou 4%, enquanto o preço final do
gasóleo baixou cerca de 10%
Face ao forte
abrandamento no crescimento da China - e ao aumento de problemas com as quedas
de exportações da segunda maior economia mundial, que já determinaram
sucessivas desvalorizações cambiais do yuan por parte do Banco Popular da China
-, ao aumento das reservas petrolíferas dos EUA e ao aumento de vendas do
petróleo do Irão no mercado internacional, persistem os fatores que poderão
prolongar a descida de cotações internacionais do petróleo.
Ou seja,
atualmente não há certezas sobre o efeito do abrandamento chinês na redução do
consumo mundial de petróleo, sendo certo que a quantidade de petróleo produzida
diariamente em todo o mundo continuará a ser superior aos níveis de consumo
diários.
Assim, a cotação
internacional do petróleo continua a cair, com o petróleo do Texas (o WTI) a
ser negociado em Nova Iorque perto dos 38 dólares por barril, enquanto o
petróleo do mar do Norte (o Brent, que é o petróleo de referência para o
mercado português) está a ser negociado em Londres a níveis próximos dos 43
dólares por barril.
Preços baixos
são para continuar
Embora ao longo
dos últimos 12 meses a cotação do brent tenha afundado mais de 50%, o preço de
venda ao público da gasolina em Portugal apenas recuou 4%, enquanto o preço
final do gasóleo baixou cerca de 10%. O elevado peso da fiscalidade (note-se
que o ISP tem um valor fixo por litro de combustível) faz com que as flutuações
da matéria-prima se repercutam no preço final dos refinados com menor
intensidade. Além disso, a desvalorização do euro face ao dólar também tem sido
um entrave a que a queda do valor do crude se traduza em maiores benefícios
para as famílias portuguesas.
António Costa
Silva, presidente executivo da Partex (petrolífera da Fundação Calouste
Gulbenkian), admite que a cotação do ouro negro permaneça em níveis
historicamente baixos. "Estamos claramente num ciclo de preços baixos. E
com tendência para baixar ainda mais", declarou o gestor ao Expresso.
Tem havido
correções pontuais de preços nas cotações do WTI e do Brent, que, durante
horas, travam a tendência de queda do petróleo nos mercados internacionais. Mas
os especialistas do sector reconhecem que a descida de preços do petróleo vai
continuar em setembro. Os contratos de futuros de petróleo (os barris que são
negogiados para serem entregues no prazo de três meses) têm batido mínimos
históricos sucessivos, forçados pela sobreprodução mundial de petróleo.
A agência
Bloomberg estima que os "stocks" de petróleo no mercado
norte-americano aumentaram cerca de dois milhões de barris na semana de 21 de
agosto.
"Já estamos com excesso de oferta
no mercado. E com a produção do Irão é muito provável que continue a haver
excesso de oferta", aponta António Costa Silva. O que não deixa de ser um
sinal positivo para quem consome produtos petrolíferos. "Creio que este
ano e o próximo os preços vão estar muito baixos, na faixa dos 45 a 50 dólares
por barril. A menos que haja uma catástrofe geopolítica!", sublinha o
presidente da Partex. (Txt João Palma Ferreira e Miguel Prado; Infografia de Olavo Cruz)
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