sexta-feira, 17 de julho de 2015

(Opinião) Assim, o drama final será Europeu!

Conferência no parlamento grego no âmbito da APM
Assim, o drama final será Europeu!

Ainda não sei como vai terminar este folhetim “eurogrego”. 
Não tenho a ousadia de um nosso conterrâneo que divulgou o resultado do referendo mesmo antes deste acontecer. Falhou em toda a linha. Não foi “Nai”, como previra, mas sim “Oxi” como quiseram os gregos. O atrevimento, regra geral, sai caro.
E depois não sei se haverá entendimento. Portugal em 2011 também conseguiu um, com todos os Chefes de Estado e de Governo, Comissão Europeia e BCE. Merkel felicitou Sócrates. Obtivemos um caminho idêntico ao de Espanha e Itália. Mas, alguns dias depois, toda a oposição na AR chumbou esse acordo (PEC) e veio a Troika, uma solução à grega. A direita viu uma oportunidade de negócio (vendeu tudo quanto mexia) e a esquerda mais radical sempre gostou de terra queimada (é a sua agricultura política).
Espero que o parlamento ateniense seja mais responsável. Será difícil. Bruxelas fez vingar várias exigências. Alexis Tsipras poderá ter conseguido defender alguns objetivos. A balança, no entanto, desequilibra-se negativamente para o lado grego. E muito. A austeridade continuará, severa, porque o tal caminho oferecido pela Europa aos gregos é intransitável. Assim, nunca conseguirão sequer ir pagando o que devem. E o problema contaminará terceiros, como lembrou Manuela Ferreira Leite.
Será significativo o número de deputados do Syriza e de membros da coligação governamental que vão dizer não. Tsipras ficará nas mãos da direita para aprovar o que não quer. Poderá ser o princípio do fim, sobretudo porque a Europa, tal como foi concebida, está “out” ou quando muito em “phasing out”.
A praça “Sintagma” voltará a encher-se, não para aplaudir o governo, mas para dizer que o povo foi enganado. Como lembrou Miguel Sousa Tavares, também “eu sei tudo sobre as culpas da própria Grécia na sua ruína actual”.
Andei por lá em 2008. Tinha ido fazer uma conferência ao parlamento e durante uma semana falei com muita gente. Lá como cá “recebia-se dinheiro de Bruxelas para tudo e não era preciso fazer nada (o mesmo que, em menor escala, se passou aqui, na prodigiosa década de governação cavaquista, que se seguiu à nossa adesão)”. Nas lojas fugia-se ao fisco com a naturalidade de quem respira.
Bruxelas, no entanto, ensinou aos gregos, tal com aos portugueses, a não produzirem. Nós (Cavaco) aniquilámos, por exemplo, as pescas e a agricultura para depois comprarmos lá fora tudo o que deixámos de ter cá dentro, mandando de volta o dinheiro que supostamente nos tinham “oferecido”.
E a Alemanha, tão conhecedora da nossa situação, num passado mais recente não deixou de nos vender os submarinos que já não poderíamos pagar, tal como fez aos cinco que impingiu aos gregos, mesmo sabendo-os falidos. Depois, aos gregos, como referiu Miguel Sousa Tavares,os 240.000 milhões emprestados pela troika serviram, antes de mais, para livrarem a banca alemã do sarilho em que, por simples avidez, se tinha enfiado”. Assim, o drama final será Europeu!

DV 2015.07.14

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