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Conferência no parlamento grego no âmbito da APM |
Assim, o drama final será Europeu!
Ainda não sei como vai terminar este folhetim
“eurogrego”.
Não tenho a ousadia de um nosso conterrâneo que divulgou o
resultado do referendo mesmo antes deste acontecer. Falhou em toda a linha. Não
foi “Nai”, como previra, mas sim “Oxi” como quiseram os gregos. O atrevimento,
regra geral, sai caro.
E depois não sei se haverá entendimento. Portugal em 2011 também conseguiu um, com todos os
Chefes de Estado e de Governo, Comissão Europeia e BCE. Merkel felicitou Sócrates.
Obtivemos um caminho idêntico ao de Espanha e Itália. Mas, alguns dias depois,
toda a oposição na AR chumbou esse acordo (PEC) e veio a Troika, uma solução à grega.
A direita viu uma oportunidade de negócio (vendeu tudo quanto mexia) e a
esquerda mais radical sempre gostou de terra queimada (é a sua agricultura
política).
Espero que o parlamento ateniense
seja mais responsável. Será difícil. Bruxelas fez vingar várias
exigências. Alexis Tsipras poderá ter conseguido defender alguns objetivos. A
balança, no entanto, desequilibra-se negativamente para o lado grego. E muito.
A austeridade continuará, severa, porque o tal caminho oferecido pela Europa
aos gregos é intransitável. Assim, nunca conseguirão sequer ir pagando o que
devem. E o problema contaminará terceiros, como lembrou Manuela Ferreira Leite.
Será significativo o número de deputados do
Syriza e de membros da coligação governamental que vão dizer não. Tsipras
ficará nas mãos da direita para aprovar o que não quer. Poderá ser o princípio
do fim, sobretudo porque a Europa, tal como foi concebida, está “out” ou quando
muito em “phasing out”.
A praça “Sintagma” voltará a encher-se, não
para aplaudir o governo, mas para dizer que o povo foi enganado. Como lembrou
Miguel Sousa Tavares, também “eu sei tudo sobre as culpas
da própria Grécia na sua ruína actual”.
Andei
por lá em 2008. Tinha ido fazer uma conferência ao parlamento e durante uma semana falei com muita gente. Lá como cá “recebia-se dinheiro de Bruxelas para tudo e
não era preciso fazer nada (o mesmo que, em menor escala, se passou aqui, na
prodigiosa década de governação cavaquista, que se seguiu à nossa adesão)”.
Nas lojas fugia-se ao fisco com a naturalidade de quem respira.
Bruxelas, no entanto, ensinou
aos gregos, tal com aos portugueses, a não produzirem. Nós (Cavaco) aniquilámos,
por exemplo, as pescas e a agricultura para depois comprarmos lá fora tudo o
que deixámos de ter cá dentro, mandando de volta o dinheiro que supostamente
nos tinham “oferecido”.
E a Alemanha, tão conhecedora
da nossa situação, num passado mais recente não deixou de nos vender os
submarinos que já não poderíamos pagar, tal como fez aos cinco que impingiu aos
gregos, mesmo sabendo-os falidos. Depois, aos gregos, como referiu Miguel Sousa
Tavares, “os
240.000 milhões emprestados pela troika serviram, antes de mais, para livrarem
a banca alemã do sarilho em que, por simples avidez, se tinha enfiado”. Assim, o drama final será Europeu!
DV 2015.07.14
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