O que é que Ricardo Salgado tem?
Até há um ano, sabia-se o que Ricardo Salgado
tinha: influência, muita influência, e poder, muito poder. Por isso é que era conhecido
pelo Dono Disto Tudo. Agora, apesar da sua prisão domiciliária, as condições em
que ela decorreu e as medidas de coação que lhe foram impostas, provam que a
sua aura de DDT ainda não desapareceu. Ou então que, para o juiz Carlos
Alexandre, há filhos e enteados (da Justiça, entenda-se).
Um ano depois da resolução do Banco Espírito
Santo (ou melhor, da sua extinção, ordenada pelo Banco de Portugal) e da
implosão do Grupo Espírito Santo, o juiz Carlos Alexandre invoca como motivos
para a detenção domiciliária de Ricardo Salgado os riscos de fuga e perturbação
do inquérito, através da ocultação ou manipulação de provas. Ora muito bem:
durante um ano, o dr. Ricardo Salgado não esteve sujeito a nenhuma medida de
coação no âmbito deste processo. E agora, ao fim de um ano, é que há riscos de
que fuja ou que destrua documentos ou esconda património? Se o quisesse fazer
teria esperado 365 dias para começar a atuar nesse sentido? Isto faz algum
sentido?
Como perguntou Luís Marques Mendes: “Porque é
que se demorou quase um ano a constituir arguidos? (…) Percebo que é um
processo muito complexo, mas o Ministério Público deveria, no mínimo, dar uma
explicação.”
PARECE QUE PASSOU A HAVER UMA JUSTIÇA QUE SERVE
PARA HUMILHAR OS POLÍTICOS E OUTRA, MAIS SUAVE, PARA BANQUEIROS
Mais: o dr. Carlos Alexandre impôs a Duarte
Lima a detenção em casa com pulseira eletrónica. Fez o mesmo com Armando Vara.
E queria fazer coisa idêntica com José Sócrates, recusando o que o
ex-primeiro-ministro pretendia: ir para casa com vigilância policial à porta.
Com Ricardo Salgado não propôs essa medida porquê, sabendo-se que a vigilância
policial é bastante mais onerosa para os cofres públicos? Ou propôs, Salgado
recusou e ninguém sabe? Volto a invocar Luís Marques Mendes: “Porquê vigilância
policial? Admitindo que seja por questões de natureza técnica ou logística,
estou do lado das pessoas que querem ajudar a credibilizar a justiça e, por
isso, acho que era devida uma explicação.”
E como é possível que no
caso de Armando Vara e José Sócrates, apesar de se terem disponibilizado para
prestarem informações, tenham sido detidos e conduzidos em carros policiais
para os calabouços do Ministério Público a fim de prestar declarações ao juiz
Carlos Alexandre – e no caso de Ricardo Salgado não só foi de motorista, como
regressou a casa igualmente no seu carro com o respetivo motorista, apesar do
invocado risco de fuga?! Não é um bocadinho ridículo?
Lamento,
mas parece que passou a haver uma Justiça que serve para humilhar os políticos
e outra, mais suave, para banqueiros. E esta impressão só é corrigida se o
Ministério Público der informações esclarecedoras aos cidadãos sobre o que
justifica a forma como foi tratado Ricardo Salgado, por oposição aos casos de
Duarte Lima, Armando Vara e José Sócrates. De outra forma, a suspeita está
criada.
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