domingo, 19 de julho de 2015

Exp. Presidenciais - "Costa tentado a não apoiar ninguém à primeira volta"

Não deixa de ser curiosa a convicção intensa que levou a direção do PS a apoiar Sampaio da Nóvoa e, depois, tocar a campainha para o intervalo ... para ver como param as modas. A hipótese de uma mulher, socialista, Maria de Belém, ser candidata fez tremer tudo! Marcou pontos!

"PS. Costa enfrenta uma "pressão fortíssima". Há quem ache que nóvoa representa uma divisão brutal e empurre Maria de Belém par a corrida. Costa tentado a a não apoiar ninguém à primeira volta

A semana foi de alta pressão e a divisão no PS tornou-se “brutal”. Em menos de 24 horas, António Costa teve de repetir duas vezes que a prioridade são as legislativas, para evitar que as presidenciais “minassem (ainda mais) a discussão”. No início da semana, Carlos César, o presidente dos socialistas, encontrou-se com Sampaio da Nóvoa para lhe garantir o apoio do partido na corrida a Belém. E que um sinal seria dado depois de fechadas as listas para as legislativas, na reunião da comissão política da próxima terça-feira. A conversa foi reproduzida na comunicação social e provocou reação imediata nas hostes de Maria de Belém, que viram nesse encontro e na sua divulgação “uma tentativa de esvaziar uma candidatura alternativa”. Passaram ao contra-ataque e decidiram, mesmo, apostar na corrida.
Ao longo da semana, a ex-presidente do PS multiplicou-se em encontros com vários dos seus apoiantes, onde já se contam “além de muitos socialistas, gente da academia, da igreja e até do CDS e PSD”. O que reforça a ideia que Belém é mais abrangente do que Nóvoa, o candidato que muitos socialistas consideram estar a empurrar o PS perigosamente para a esquerda. “As maiorias ganham-se ao centro”, diz um apoiante da socialista. Basílio Horta lembra que Nóvoa, até agora, só tem o apoio oficial do Livre, e, por isso, “é claro que não o posso apoiar, não me insiro nessa linha”.
Além da ala ‘segurista’ — Álvaro Beleza, Eurico Brilhante Dias, João Ribeiro, João Proença, entre outros —, na lista de apoios de Belém já se contam outros destacados socialistas como Francisco Assis, Vera Jardim e o mais certo é que Manuel Alegre também se inclua no rol. São amigos de longa data, e Belém foi mandatária nacional da candidatura de Alegre à presidência. Todos têm mantido contactos regulares com a pré-candidata. Não existe ainda uma estrutura organizada, mas a máquina começa a rolar.

“Não pedi apoio a ninguém”

Se os apoios são já expressivos, a sondagem, publicada na semana passada, que a dava a oito pontos de Sampaio da Nóvoa, fez o resto. Maria de Belém, asseguravam várias fontes do seu núcleo duro ao Expresso, está “pronta a avançar”. Mas agora a prioridade é de apenas marcar terreno: “Ela deverá falar depois da comissão política de dia 21, para dar um sinal claro.” Não irá dizer que é candidata, mas vai manter a bola no ar, respeitando a “disciplina partidária: a prioridade são as legislativas”. Ou seja, o avanço formal ficará mesmo só para depois das eleições.
Ao Expresso, Maria de Belém confirma: “Quero empenhar-me muito nas legislativas.” E assegura que “está serenamente” a fazer o seu trabalho enquanto “há cada vez mais gente a abordar-me para ser candidata”.
E mostra sinais de incómodo com o que lhe chega do campo adversário. “A minha preocupação não é com as indiretas que me mandam”, diz, acrescentando que ao contrário de outros “não pedi o apoio a ninguém”. Garantindo que não está a “fazer fratura nenhuma no PS”, até porque o que quer é “contribuir para o interesse geral”, devolve a farpa aos que “estão mais concentrados no seu interesse individual”. O frisson é evidente. Entre as tropas de Belém já se fala de Sampaio da Nóvoa como um “candidato de fação”. “Está a haver uma divisão brutal por causa do professor”, garante ao Expresso um destacado socialista.

O que fará Costa?

No início da semana, Maria de Belém e António Costa tiveram uma longa conversa. Falaram sobre as listas e “sobre muita outras coisas”. Costa anunciou que Belém ficava como primeira suplente em Lisboa, desistindo de ser cabeça de lista pelo Porto com lugar garantido no Parlamento. Era o primeiro sinal de que a deputada queria ficar livre para assumir outros desafios políticos.
Nesse dia, Costa passou a ter não um, mas dois problemas. De um lado Sampaio da Nóvoa com o apoio, difícil de contornar (e confrontar) dos três ex-presidentes da República. E do outro, uma socialista, ex-presidente do partido, mulher, e que tem entrada natural no eleitorado do centro esquerda. “É a melhor candidata para bater no Marcelo”, acredita um apoiante. O líder, que continua a recusar tomar uma decisão sobre o apoio presidencial, estará a pensar numa outra via. “Ele pode estar inclinado para que o partido não apoie ninguém na primeira volta.” Costa, confirmam ao Expresso, disse-o esta semana a duas pessoas. E apesar de ser algo nunca visto no PS, como sublinha Ferro Rodrigues (ver entrevista pág. 12), Carlos César também já admitiu essa possibilidade.
Belém assume: “há cada vez mais gente a abordar-me para ser candidata” e que não está “a fazer fratura nenhuma”
Tudo vai depender do resultado das legislativas. Nos cenários traçados ao Expresso por dirigentes socialistas, se Costa tiver uma maioria absoluta, “pode até fazer um congresso para escolher o candidato. Ele estará forte e ninguém o vai questionar”. Mas se o resultado for frágil, e o deixar diminuído dentro do partido, “a última coisa que ele vai querer é que as presidenciais sejam mais um problema”. E, nesse caso, pode dar liberdade de voto.
Do lado de Sampaio da Nóvoa a campanha decorre e tenta passar a ideia de normalidade e que mesmo sendo independente conta com os trunfos mais fortes: Mário Soares, Jorge Sampaio e Ramalho Eanes. Mas também com inúmeros dirigentes e ex-governantes socialistas desde Ana Jorge a Augusto Santos Silva, passando por Gabriela Canavilhas e João Cravinho. O ex-ministro das Obras Públicas defende Nóvoa como “um bom candidato” e até como o “preferente em termos eleitorais”.
A principal crítica de que Nóvoa tem um discurso demasiado à esquerda e que continua a ser um desconhecido, apesar dos esforços de pôr a campanha no terreno, é rebatida pelas hostes do ex-reitor. Uma sondagem encomendada pela candidatura de Nóvoa — e dada a conhecer à direção do PS — deu ânimo, ao mostrar que o professor está apenas a cinco pontos dos seus potenciais adversários à direita. Sejam eles Rui Rio ou Marcelo Rebelo de Sousa. “Para quem é apresentado como um ilustre desconhecido, não parece nada mal”, diz ao Expresso fonte da candidatura.

A sondagem revela ainda que características como a seriedade e a independência face a partidos políticos ou ao poder financeiro são os aspetos mais valorizados entre o eleitorado na escolha de um Presidente da República, características que são sublinhadas no perfil traçado pelos inquiridos a Sampaio da Nóvoa". (Bernardo Ferrão e Rosa Pedroso Lima)

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