O Governo tem maus hábitos nos processos de
decisão e atitudes de duvidosa ética no relacionamento com as oposições,
sobretudo com o PS. Os exemplos são inúmeros e conduzem a pecados frequentes. Sublinho
os cinco mais recentes.
O
primeiro refere-se à renomeação do
governador do Banco de Portugal. Apesar de, por proposta do PS, se ter
consensualizado uma lei própria que já entrou em vigor, Passos
Coelho não falou com António Costa. Optou por lhe comunicar a decisão.
O
PS não gostou. Ninguém gostou. Os comentadores também não, incluindo os do PSD
que (derramando ou não lágrimas que me não turvam a vista) também criticaram o
primeiro-ministro e a sua própria maioria. Classificaram a atitude como erro
político grosseiro. E foi!
Não
há novidade. Sabíamos já ter sido assim nas várias renegociações do memorando,
nas propostas de orientação estratégica apresentadas em Bruxelas, até mesmo na
malograda reforma do Estado (um mero programa de aumento de impostos) ou no
corte definitivo de 600 milhões nas reformas. Tudo nas costas do PS e do
Parlamento.
O
segundo relaciona-se com a
emigração e o apoucamento deste drama social. O episódio foi protagonizado esta
semana no parlamento por Poiares Maduro. Para espanto de toda a oposição,
tentou desvalorizar o fenómeno, dizendo que a emigração não foi assim tanta,
que sempre existiu, que era normal e atribuiu um ligeiro (?!) aumento,
imagine-se, envolvendo nas contas os alunos que participam em programas como o
Erasmus.
O Observatório da Emigração coloca os pontos
nos "iis" e aí se constata que só em 2013 saíram de Portugal 110 mil
pessoas. Os dados de 2014 estimam um número maior, facto que consolida em mais
de 100 mil a média de pessoas que anualmente, desde 2011, abandonam o país.
O terceiro é o
da manipulação do número de desempregados. O Governo acaba de publicitar que em abril a taxa de desemprego ficou em
13,0% (667.800), menos 0,2 % face ao mês anterior e menos 1,6 % face ao
homólogo de 2014.
No entanto, não considerou os
"ocupados" temporariamente (160 mil), os
inativos disponíveis (260 mil) e os 320 mil emigrados em idade ativa, entre
2011/13. Mais de um milhão e cem mil desempregados. Bem mais do que em 2011!
O quarto projeta-se
na natalidade e na demografia, através de um frenesim proclamatório, ocultando o
falhanço de todas as políticas ou negando a evidência de termos alcançado em
2014 o índice mais baixo de sempre. Sabe-se que o problema não nasceu hoje, mas
o que é realmente inédito e grave é a regressão nestes quatros anos ter sido
superior à dos últimos vinte.
O
académico da UA, Eduardo Anselmo, num trabalho de prognose, investigação que
dará aos éditos proximamente, revela que em 2040 seremos apenas um pouco mais
de 8 milhões e que, por exemplo, o Douro, região interior, perderá 40 mil pessoas, reduzindo-se de
205 mil para 164 mil. O Governo parece querer ignorar a dimensão do problema!
Finalmente,
um quinto e último pecado, é atinente
a matérias como a privatização da TAP. Sublinho a falta de autoridade política
e de legitimidade moral para alienar em quatro meses o que não se fez em quatro
anos, em fim de mandato, negando a alternativa proposta pelo PS, ao arrepio do
sentimento de pertença da população e destruindo sete décadas de trabalho e afirmação
da nossa companhia de bandeira. São cinco pecados de Passos e cinco razões de
mudança.
2015.06.03
José Junqueiro
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