Em 2012, para provimento dos lugares na administração
pública, o Governo avançou com uma nova lei para os concursos.
Participei, pela
direção da bancada do PS, numa consulta promovida pelo ex-secretário de Estado
da Administração Pública, Hélder Rosalino.
Propunha o Governo que um júri fizesse o escrutínio
até apurar três finalistas, sem os hierarquizar, de modo a que a tutela respetiva
pudesse escolher aquele que entendesse. Uma Comissão de Recrutamento e
Seleção para a Administração Pública (CRESAP), criada para o efeito, iria
assegurar a transparência de todo o processo.
O PS discordou, afirmando que a proposta era uma
falácia e que, no fim, seria sempre uma escolha política e os pressupostos para
cada concurso poderiam ser feitos “à medida”. O Governo não quis ouvir, nem
considerar as propostas alternativas. Sem surpresa!
O professor João Bilhim foi o escolhido pelo Governo
para presidir à CRESAP. Tal como esperava, as coisas correram mal e há poucas
semanas uma rádio de projeção nacional dedicou ao assunto um fórum, inspirado
nas nomeações dos diretores distritais da Segurança Social. Os 14 já
escolhidos, e nomeados, eram do PSD e do CDS. Extraordinário!
João Bilhim, convidado a pronunciar-se, lá reconheceu
a interferência política e sempre foi dizendo que a culpa não era dele, que se
limitava a aplicar a lei e até ficava “triste” por constatar que os seus
esforços não resolveram o problema.
Um exemplo paradigmático. O atual diretor da Segurança
Social em Viseu, ex-presidente da câmara PSD de Vouzela, sem qualquer ligação
ao sector, foi nomeado interinamente, em fevereiro de 2014, alguns dias antes
de terminar o concurso para o cargo que agora ocupa. Assim, tal e qual!
Os pressupostos “à medida” funcionaram lindamente.
Experiência no cargo. Os outros dois candidatos, um dos quais com mais de 30
anos de serviço na instituição, alguns como presidente, foram preteridos.
Paralelamente, aqueles que no anterior Governo foram
nomeados, depois de alcançarem o primeiro lugar nos respetivos concursos, sem a
intervenção da tutela, foram afastados. Como? O Executivo fez novas leis
orgânicas. Assim aconteceu em todo o país. Os exemplos são inúmeros.
A CRESAP é, portanto, um instrumento do Governo para
simular transparência e o professor João Bilhim desempenha um papel que nunca
imaginei que pudesse vir a interpretar.
Espero que o futuro Governo do PS reintroduza a
seriedade nos concursos, promova o mérito e a transparência, valores
fundamentais a uma administração mais forte e prestigiada.
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